Já fez LIKE no CNN Portugal?

Quem nos salva do pântano?

Um dos momentos mais infelizes desta campanha eleitoral é aquele em que António Costa decide invocar a governação de António Guterres como um caminho de governação possível. Não apenas porque o epílogo desse momento da nossa democracia é sobejamente conhecido, mas também pelo desnorte que o secretário-geral do Partido Socialista começou a revelar a partir daí.

Do pedido de maioria absoluta aos ensaios de uma maioria parlamentar com o PAN – e quiçá com o Livre –, passando pela tentativa de reaproximação ao Bloco e ao PCP até à vontade para dialogar com todos – lá está, António Guterres –, foi um “tirinho”. 

PUB

Rui Rio ficou-se a rir. Estando ele disponível para quase tudo, foi fazendo uma campanha “baunilha”, como lhe chamou o jornalista Miguel Santos Carrapatoso. Um tweet aqui, uma piada ali, vestiu a pele de cordeiro, meteu as garras para dentro e colocou em prática a sua velha máxima de que não é o PSD que tem de ganhar eleições, é o PS que tem de as perder.

A estratégia, mostram todas as sondagens – aquelas que Rui Rio criticava –, não parece estar a correr-lhe mal. Mesmo que o presidente do PSD não ganhe no próximo domingo, estas podem mesmo ser das eleições mais disputadas de sempre. O que, em tese, é um sinal de vitalidade da democracia, mas, no final, pode não nos levar a lado nenhum.

O maior risco que o país corre a partir de 31 de janeiro é o de mergulhar num pântano político ainda mais profundo do que tinha antes de ser chumbado o Orçamento do Estado para 2022. Sem uma maioria absoluta à vista, os cenários de governabilidade que se colocam à esquerda e à direita são todos demasiado turvos.

PUB

Quem poderá levar a sério uma nova geringonça de esquerda, depois do filme a que se assistiu nos últimos dois anos? Que maioria de direita poderá existir sem o Chega? E com o Chega, onde é que isto vai chegar? Que espécie de Bloco Central poderá criar-se sem António Costa e com Pedro Nuno Santos na primeira linha de sucessão? E mais importante do que tudo isto: que projeto político terá o país, capaz de olhar para lá de uma legislatura e que não nos obrigue a andar aqui a brincar às decisões que só servem para fazer cartazes em época eleitoral?

Um mês, mais de 30 debates, entrevistas, tempos de antena e muitos quilómetros depois, haverá alguém que, no momento de colocar uma cruz no boletim de voto, consiga distinguir claramente, entre os principais partidos, dois projetos políticos para o país? Para lá da renovação dos rostos, conseguirá alguém – que não vote apenas por militância pura – descortinar um plano do PS e do PSD para colocar o país a crescer e dignificar o papel do Estado? Na saúde, na justiça, na educação ou na segurança social? 

A democracia dará um jeito. Mais para a esquerda, mais ao centro ou mais à direita, algum governo surgirá do futuro parlamento depois do próximo domingo. Sobre isso, tenho poucas dúvidas. Já sobre a utilidade destas eleições, tenho muitas, de que elas sirvam para alguma coisa. E, acreditem, queria muito estar enganado.

PUB