Tal como o nome indica, as doenças sexualmente transmissíveis (DST) são aquelas cujo contágio acontece durante o ato sexual. Na sua origem estão bactérias, vírus e parasitas que podem estar no sangue, sémen ou outros fluídos corporais. Estes agentes infecciosos podem ainda estar à superfície, na pele ou nas mucosas da zona genital, o que aumenta o risco de transmissão mesmo que não haja penetração.
“As doenças sexualmente transmissíveis podem originar cancro, podem levar a uma perda de qualidade de vida, podem levar a infertilidade”, diz Ana Meirinha, médica urologista e andrologista no Hospital Lusíadas Lisboa, quando questionada sobre um recente estudo que mostra como os jovens estão a deixar de usar tanto o preservativo e à "falsa sensação de segurança" em relação às DST.
PUB
“Há doenças [sexualmente transmissíveis] que são só incomodativas, as pessoas têm comichões, uma dor e pouco passa disso, mas há outras que a longo prazo podem levar à infertilidade e apertos da uretra, que é chatíssimo de tratar e, em alguns casos, não se trata e as pessoas acabam com um tubinho na barriga para fazer chichi. Outras podem ser doenças crónicas, a sífilis, por exemplo, pode evoluir para neurosífilis, com afeção da parte cognitiva”, explica Ana Meirinha.
Segundo os dados mais recentes, e que são referentes a 2018, foram reportadas 663 casos de clamídia, 976 casos de gonorreia, 179 casos de hepatite B (embora esta possa ser transmissível também com a partilha de objetos e não apenas por via sexual) e 996 casos de sífilis não congénita. Estes dados constam no Portal da Transparência, que apresenta dados relativos às Doenças de Declaração Obrigatória - nas quais se incluem algumas DST.
PUB
Em 2020, um estudo do Instituto de Saúde Pública da U.Porto (ISPUP), publicado na revista Sexually Transmitted Diseases, concluiu que a clamídia, a gonorreia e a sífilis são as doenças sexualmente transmissíveis mais comuns entre homens jovens e heterossexuais e que as as Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto são as zonas com uma maior taxa de notificação destas três DST.
O sexo protegido, os rastreios e, em alguns casos, a vacinação (HPV e hepatite B), por exemplo, são as formas mais eficazes de prevenir uma doença sexualmente transmissível.
PUB
Segundo a Associação para o Planeamento da Família (APF), são 11 as doenças sexualmente transmissíveis mais comuns, sendo as três primeiras as mais frequentes em Portugal.
SífilisO que é? Doença infecto-contagiosa, venérea, provocada pela bactéria Treponema pallidum. O período de contágio pode ser de dois anos.
Quais as consequências? A doença manifesta-se em diferentes lesões (feridas na zona genital ou boca e manchas vermelhas, por exemplo) e pode afetar o sistema nervoso e o coração, por exemplo. A sífilis “pode evoluir para neurosífilis, com afeção da parte cognitiva”, explica Ana Meirinha.
Transmite-se de outra forma para lá do contacto sexual? Sim. “As mulheres grávidas também podem transmitir a infeção ao feto ocasionando aborto, parto prematuro ou doença grave do recém-nascido”, explica a APF. Neste caso, está-se perante a sífilis congénita.
PUB
Como se trata? Por norma, através de injeções de penicilina, mas cada caso é um caso.
ClamídiaO que é? Doença causada pela bactéria Chlamydia trachomatis. Esta bactéria pode aparecer nos órgãos genitais, ânus e boca.
Quais as consequências? “No caso dos homens pode causar uretrite (infeção da uretra), nas mulheres cervicite (infeção do colo do útero) e em ambos os géneros proctite (infeção do reto)”, explica a APF.
Transmite-se de outra forma para lá do contacto sexual? Sim, da mãe para o feto durante a gravidez ou o recém-nascido durante o parto.
Como se trata? A toma de antibióticos é o tratamento padrão.
GonorreiaO que é? Doença causada pela bactéria Neisseria gonorrhoeae.
Quais as consequências? Nas mulheres, “nos casos mais graves a doença pode causar complicações severas como endometrite, salpingite, doença inflamatória pélvica (DIP), infertilidade e gravidez ectópica”, diz a associação, que adianta que, nos homens, “a infeção da próstata (prostatite) ou do epidídimo (epididimite)” são as complicações.
PUB
Transmite-se de outra forma para lá do contacto sexual? Sim, no momento do parto a mãe pode contagiar o recém-nascido, mas é a via sexual a forma mais comum de contágio.
Como se trata? A toma de antibióticos é o tratamento padrão.
VIH/SidaO que é? A sida é uma doença causada pela infeção pelo VIH e que se caracteriza pela diminuição ou destruição de reações imunitárias do organismo, as chamadas defesas. “São poucas as pessoas que evoluem para sida, mas é [um vírus] muito inibitório nas relações e na própria maternidade, a mulher pensa muito se quer ter uma criança, apesar de haver formas de prevenir, mas não são eficazes a 100%”, adianta a médica, que destaca ainda que “os primos do VIH levam a formas de leucemia e linfoma”.
Quais as consequências? “Febre, manchas avermelhadas com relevo dispersas pela pele ou na cavidade oral, gânglios inchados na zona lateral do pescoço e axilas, dores musculares e/ou nas articulações, dor de garganta e/ou amígdalas inchadas, cansaço, perda de peso” são os primeiros sinais de infeção, que se não for tratada pode escalar para doença (sida) e comprometer todo o sistema imunitário.
PUB
Transmite-se de outra forma para lá do contacto sexual? Sim. “O vírus VIH encontra-se principalmente no sangue, no sémen, no líquido pré-ejaculatório, nos fluidos vaginais de pessoas infetadas e também no leite materno”, diz a APF. Deste modo, a troca de objetos com uma pessoa infetada - como seringas - é também um fator de contágio.
Como se trata? Não há cura para a sida, mas hoje em dia é possível viver com o vírus sem grande impacto para a saúde e qualidade de vida. Os medicamentos antirretrovirais são usados para baixar a quantidade de vírus para valores mínimos, mas sem serem capazes de o fazer desaparecer do organismo.
Vírus do Papiloma Humano-HPVO que é? “O vírus do papiloma humano (HPV) é responsável por um elevado número de infeções que na maioria das vezes não apresentam sintomas e são de regressão espontânea. Esta é uma das infeções de transmissão sexual mais comuns a nível mundial", destaca a Direção-Geral da Saúde no seu site. Segundo o organismo, o vírus do papiloma humano "engloba mais de 200 vírus relacionados”.
PUB
Quais as consequências? No caso de HPV transmitido por via sexual, há o de baixo risco que não causa cancro, mas pode causar verrugas nos órgãos genitais e ânus - "os tipos 6 e 11 do HPV são os mais frequentes", diz a DGS -, e o de alto risco, que pode originar uma doença oncológica, "cerca de 12 tipos de HPV de alto risco foram identificados, de entre os quais, os tipos 16 e 18 do HPV", segundo a DGS. Nos homens, o HPV pode levar ainda “a lesões desfigurantes dos genitais, lesões que podem resultar em lesões malignas”, alerta Ana Meirinha.
Transmite-se de outra forma para lá do contacto sexual? Sim, pode ser transmitido no parto, embora a via sexual seja a forma de contágio mais recorrente.
Como se trata? “Existe tratamento para as lesões (verrugas) provocadas pela infeção por HPV, de acordo com a orientação médica. Pode variar entre eletrocoagulação, laser, crioterapia ou excisão cirúrgica”, lê-se no site da DGS.
PUB
O que é? O VHB é o vírus que causa a hepatite B, uma inflamação do fígado que pode ser aguda ou grave.
Quais as consequências? Cirrose e cancro no fígado são duas das consequências. O site do Serviço Nacional de Saúde avança com mais: “nos casos mais graves pode ocorrer insuficiência hepática (falência do funcionamento do fígado), caracterizada por icterícia, acumulação de líquidos e confusão mental”.
Transmite-se de outra forma para lá do contacto sexual? Sim, pode ser também transmitido de mãe para filho e através de partilha de objetos que possam conter sangue contaminado (e que vão de seringas, a agulhas e até escovas de dentes).
Como se trata? A vacinação é uma forma de proteção e, por norma, em casos de hepatite aguda, o sistema imunitário consegue controlar o vírus em seis meses, sem que seja necessário um tratamento. “Na hepatite B crónica, a terapia antiviral está muitas vezes recomendada, atingindo-se o controlo do vírus na grande maioria dos casos”, lê-se na página do SNS.
PUB
O que é? Doença de transmissão sexual que afeta a zona genital e que é causada pelo vírus Herpes simplex. Segundo o site da CUF, “existem dois tipos de vírus Herpes simplex (VHS-1 e VHS-2). O VHS-2 costuma transmitir-se por via sexual e o VHS-1 em geral infeta a região oral, nasal ou, mais raramente, os olhos. Ambos os tipos podem atingir os órgãos genitais e a pele que rodeia o reto ou as mãos (especialmente os leitos das unhas) e podem ser transmitidos a outras partes do corpo”.
Quais as consequências? “Na maioria das vezes, o herpes não causa sintomas. Noutros casos provoca episódios mais ou menos frequentes de lesões, que em cada surto se localizam na mesma área genital. O intervalo entre os episódios de lesões é muito variável e imprevisível”, explica a Associação para o Planeamento da Família.
PUB
Transmite-se de outra forma para lá do contacto sexual? O sexo oral, vaginal e anal é a forma de contágio, mas pode ser transmitido de mãe para recém-nascido, sendo a cesariana uma forma de evitar.
Como se trata? Não há cura para o herpes, mas terapêuticas com aciclovir ou os fármacos antivirais ajudam a controlar o vírus, mas não impedem que este volte a ‘atacar’.
TricomoníaseO que é? “A tricomoníase é uma infeção dos aparelhos genital e urinário, provocada por um protozoário flagelado chamado Trichomonas vaginalis. Nos adultos, esta infeção é transmissível exclusivamente por via sexual”, explica a página METIS, da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto.
Quais as consequências? Corrimento, prurido e sensação de necessidade de urinar são os sintomas e consequências mais comuns tanto em homens como em mulheres.
PUB
Transmite-se de outra forma para lá do contacto sexual? Segundo a METIS, “nos adultos esta infeção é transmissível exclusivamente por via sexual sendo, por isso, considerada uma infeção sexualmente transmissível (IST). As mulheres podem adquirir a doença de outras mulheres, mas os homens geralmente não transmitem a infeção a outros homens. A coexistência de Trichomonas vaginalis e de agentes patogénicos da vaginose bacteriana é comum, com taxas de co-infecção (presença das duas infeções) de 60 a 80%”.
Como se trata? Não há cura e o tratamento passa por antibióticos. “Os parceiros sexuais devem ser tratados ao mesmo tempo e só devem voltar a ter relações após o tratamento e quando já não houver manifestação de sintomas”, diz a associação.
Pediculose PúbicaO que é? “Doença contagiosa que resulta da infeção por um parasita, o Phthirus pubis (chatos), que infeta os pelos do púbis e coxas, podendo atingir outros pelos do corpo como os das axilas, tronco, barba ou mesmo pestanas”, escreve a APF.
PUB
Quais as consequências? Comichão e manchas são os sintomas e o tratamento ajuda a que não haja consequências para lá disso.
Transmite-se de outra forma para lá do contacto sexual? Sim, pode haver transmissão pela partilha de roupas contaminadas.
Como se trata? O uso de medicamentos tópicos inseticidas, loções ou cremes, próprios faz parte do tratamento.
EscabioseO que é? A escabiose, diz o SNS, “vulgarmente conhecida por sarna, é uma infestação cutânea contagiosa, que resulta numa erupção da pele com um padrão característico, causando intensa comichão”. A causa desta doença é o ácaro Sarcoptes scabiei.
Quais as consequências? Borbulhas e pruridos são as principais manifestações e, segundo a APF, “na escabiose não tratada pode ocorrer uma infeção secundária das lesões, por bactérias, o que complica a doença”.
PUB
Transmite-se de outra forma para lá do contacto sexual? Sim. Tal como a pediculose pública, pode haver transmissão pela partilha de roupas contaminadas.
Como se trata? A aplicação na pele de loções ou cremes inseticidas, que ajudam a matar o parasita, é o tratamento mais comum.
Molusco ContagiosoO que é? Doença causada pelo vírus Poxvirus.
Quais as consequências? “As lesões são geralmente assintomáticas, mas pode existir comichão ou inflamação (por coceira). Nos imunodeprimidos podem estender-se a várias partes da pele e/ou confluir formando massas volumosas”, diz a associação, que lista toda a informação sobre doenças sexualmente transmissíveis.
Transmite-se de outra forma para lá do contacto sexual? Sim, “Pode, muito raramente, ocorrer transmissão através de objetos ou roupa (toalhas) em ambientes húmidos (saunas, piscinas)”, segundo a APF.
Como se trata? Não há um tratamento específico e, por norma, a abordagem inicial passa pelo uso de “produtos corrosivos”, explica a CUF. Estes produtos ajudam a “destruir os moluscos e provocar alguma irritação em volta das lesões”.
PUB