Já fez LIKE no CNN Portugal?

Coreia do Norte não responde à vizinha do Sul há quatro dias. Porquê?

Comunicações são diárias há vários anos, mas decisão "unilateral" terá interrompido os canais. Exercícios com envolvimento dos Estados Unidos ou um relatório inédito podem ser a causa da interrupção

Já são quatro os dias de total isolamento da Coreia do Norte, que continua sem responder às chamadas de rotina da Coreia do Sul. O governo de Seul afirma que Pyongyang não responde às tentativas de comunicação habitualmente feitas por um canal criado para o efeito.

O Ministério da Unificação da Coreia do Sul afirma que esta decisão “unilateral” cortou todas as linhas de comunicação desde quinta-feira, suspendendo uma tradição que pressupõe chamadas diárias entre os dois países às 09:00 e às 17:00, incluindo aos fins de semana.

PUB

“Enquanto monitoriza a situação, o governo está a analisar como responder [à decisão da Coreia do Norte]. Não vamos demorar muito a tomar uma posição oficial”, afirmou o porta-voz do Ministério da Unificação da Coreia do Sul, Koo Byoung-sam, citado pela agência de notícias Yonhap, acrescentando que esta é a primeira vez que todos os canais de comunicação são cortados desde outubro de 2021.

Um relatório inédito

As autoridades sul-coreanas continuam sem perceber as razões para a falta de resposta por parte de Pyongyang, mas acredita-se que será uma forma de protesto contra os exercícios militares que têm sido conduzidos pela Coreia do Sul e pelos Estados Unidos. Outra hipótese é o silêncio norte-coreano ser uma resposta ao apoio sul-coreano a uma resolução da Organização das Nações Unidas (ONU) que condenou as violações de Direitos Humanos na vizinha do Norte.

PUB

Depois de cinco anos a ficar à margem desta condenação, Seul voltou a assinar um documento que é renovado anualmente desde 2003, com críticas a Pyongyang.

Em paralelo, o próprio Ministério da Unificação da Coreia do Sul publicou um relatório com 450 páginas em que critica a postura do país nos cinco anos anteriores. O regresso a uma lei de 2016 que previa a publicação de um documento deste género todos os anos, mas que o então primeiro-ministro sul-coreano, Moon Jae-in, decidiu nunca tornar público, alegando a proteção de testemunhos vindos do outro lado da fronteira.

"O objetivo desta lei é contribuir para a proteção e a melhoria dos Direitos Humanos dos norte-coreanos através da procura pelo direito à liberdade e o direito à vida como dito na Declaração Universal dos Direitos Humanos e outras convenções de Direitos Humanos", pode ler-se no primeiro artigo da referida lei.

PUB

Esse mesmo documento refere que a Coreia do Norte nega direitos básicos como as liberdades de expressão, reunião ou movimento, entre outros. É sublinhado ainda que Pyongyang desrespeita o valor da vida humana ao conduzir execuções públicas de menores e de adultos, além de utilizar pessoas para testes médicos.

No início do relatório, a própria Coreia do Sul reforça que esta publicação "é significativa porque é o primeiro relatório publicado de acordo com o Ato de Direitos Humanos dos Norte-coreanos", naquilo que o governo de Seul garante ser uma "demonstração da determinação para fazer esforços e melhorar substancialmente os Direitos Humanos dos norte-coreanos".

Já a ONU, num documento que também visa o Irão, a Bielorrússia e a Síria, afirma que "adotou uma resolução que decidiu continuar a fortalecer, por um período de dois anos, a capacidade do Alto-comissariado para permitir a implementação de recomendações relevantes na sequência do relatório".

A hipótese militar

PUB

A outra hipótese, de uma resposta militar, ganha força por causa dos exercícios realizados pela Coreia do Sul e pelos Estados Unidos nas águas de Jeju, e que levaram a Coreia do Norte a avisar Washington e o seu "Estado-fantoche" de que o perigo aumentava, afirmando mesmo que o arsenal nuclear estava pronto para ser utilizado e deter "movimentos de guerra maníacos e imprudentes".

As manobras, que incluíram operações anti-submarino e de busca e salvamento com um porta-aviões norte-americano, decorreram ao largo da costa sudoeste da Coreia do Sul.

Além do porta-aviões nuclear USS Nimitz, participaram nos exercícios dois contratorpedeiros norte-americanos (USS Wayne E. Meyer e USS Decatur), três sul-coreanos (ROKS Yulgok YiYi, ROKS Choe Yeong e ROKS Daejoyeong) e um japonês (JS Umigiri).

Os exercícios "foram organizados para melhorar as capacidades de resposta da República da Coreia [nome oficial do Sul], dos EUA e do Japão contra as ameaças submarinas cada vez mais avançadas da Coreia do Norte, incluindo mísseis balísticos submarinos [SLBM]", de acordo com uma declaração do ministério sul-coreano da Defesa.

Estas manobras surgiram pouco depois de Pyongyang ter anunciado dois testes de um drone submarino nuclear que pode alegadamente gerar tsunamis radioativos para atingir frotas e portos.

Estabelecidos para tentar evitar um escalar da situação na península coreana, os canais de comunicação foram interrompidos pela Coreia do Norte entre 2020 e 2021, depois de ativistas sul-coreanos terem enviado, através de balões, folhetos críticos do presidente norte-coreano, Kim Jong-un.

PUB