Era para ser uma entrevista - já há muito planeada - entre o presidente iraniano, Ebrahim Raisi, e uma das principais pivots internacionais da CNN, Christiane Amanpour.
Contudo, cerca de 40 minutos depois da hora marcada e com Ebrahim Raisi atrasado, um assessor disse à jornalista que o presidente tinha sugerido que esta usasse um lenço na cabeça durante a entrevista, que teria lugar em Nova Iorque à margem da Assembleia-geral da ONU. Segundo noticia a CNN, Amanpour "recusou educadamente".
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Christiane Amanpour, que cresceu em Teerão, a capital iraniana, e fala farsil (a língua persa) fluentemente, justificou que usa um lenço na cabeça enquanto faz reportagens no Irão para cumprir as leis e a cultura local, "caso contrário, não poderia trabalhar como jornalista". Mas explicou que não cobriria a cabeça para realizar uma entrevista com uma autoridade iraniana fora de um país onde tal não é obrigatório.
40 minutes after the interview had been due to start, an aide came over. The president, he said, was suggesting I wear a headscarf, because it’s the holy months of Muharram and Safar. 3/7
— Christiane Amanpour (@amanpour) September 22, 2022
"Aqui em Nova Iorque, ou em qualquer outro lugar fora do Irão, nunca fui convidada por nenhum presidente iraniano - e entrevistei cada um deles desde 1995 - dentro ou fora do Irão, nunca me pediram para usar um lenço na cabeça", afirmou a jornalista no programa "New Day" da CNN esta quinta-feira.
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"Eu educadamente recusei em meu nome e da CNN, e de jornalistas do sexo feminino em todos os lugares, porque não é um requisito", justificou.
A lei iraniana exige que todas as mulheres cubram a cabeça e usem roupas largas em público. A medida é aplicada no Irão desde a Revolução Islâmica de 1979 e é obrigatória para todas as mulheres do país - incluindo turistas, figuras políticas que estejam de visita e jornalistas.
Amanpour detalhou que o assessor de Raisi deixou claro que a entrevista - que seria a primeira do presidente iraniano em solo americano - não aconteceria se a jornalista não usasse um lenço na cabeça. O assessor considerou o pedido como "uma questão de respeito" uma vez que estamos nos meses sagrados de Muharram e Safar e referiu ainda a "situação no Irão", aludindo aos protestos que varrem o país, relatou a jornalista.
No Irão, o lenço na cabeça é um símbolo poderoso de um conjunto de regras pessoais impostas pelos líderes clericais do país, que governam o que as pessoas podem usar, a que podem assistir e o que podem fazer. Na última década, os protestos eclodiram, uma vez que muitos iranianos ficaram ressentidos com estas limitações.
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Uma jovem iraniana foi retirada das ruas de Teerão pela conhecida ‘polícia da moralidade’ do país e levada para um “centro de reeducação” para ter lições de modéstia na semana passada. Três dias mais tarde, estava morta.
O governo rejeitou firmemente a responsabilidade pela morte de Mahsa Amini, de 22 anos de idade, mas a notícia revoltou, no entanto, milhares de mulheres iranianas que durante décadas enfrentaram em primeira mão a raiva dos agentes da moralidade da República Islâmica.
A história de Amini chamou de novo as atenções para o sistema de disciplina do Irão, levantando a questão da responsabilidade e da impunidade de que goza a elite eclesiástica do país.
Amanpour planeava questionar Raisi sobre a morte de Amini e os protestos, bem como o acordo nuclear e o apoio do Irão à Rússia na guerra com a Ucrânia, mas foi embora.
"À medida que os protestos continuam no Irão e as pessoas estão a ser mortas, teria sido um momento importante para falar com o presidente Raisi", afirmou a jornalista no Twitter.
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