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Faz sentido Sérgio Conceição deixar o FC Porto?

Rui Santos escreve sobre tarraxas. As do FC Porto no permanente confronto com as realidades interna e externa e as que, noutro contexto, podem ser alternativa de carreira

O FC Porto pode festejar este sábado a conquista do título de campeão nacional e quase todos concordarão que neste momento ‘é mais equipa’ do que o Benfica.

No último ‘Rui Santos Em Campo” já falei da importância de alguns protagonistas (PINTO DA COSTA, PEPE, OTÁVIO, URIBE, VITINHA e TAREMI, numa primeira linha) e apontei SÉRGIO CONCEIÇÃO como ‘a FIGURA’ do FC Porto.

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Disse que “o FC Porto vai ser o campeão das pressões”, a começar pelas pressões internas que alcançam no treinador um elemento essencial.

O FC Porto tem historicamente um comportamento que vem funcionando como uma espécie de “doping psicológico”, essa emulação que faz com que os jogadores entrem em campo com os dentes cerrados, servindo-se das pressões externas (ao governo, aos edifícios da arbitragem e da disciplina, à justiça e à comunicação social) para gerar mecanismos de união e de pressão interna.

PINTO DA COSTA percebeu há cerca de 5 anos, depois de ter falhado abordagens mais românticas e menos viscerais, com JOSÉ PESEIRO e NUNO ESPÍRITO SANTO, que precisava de um treinador sanguíneo, na linha da estratégia de confronto que o FC Porto escolheu como a forma de potenciar o êxito.

O País e o ‘país futebolístico’ têm uma tarraxa que o ‘comando operacional’ de PINTO DA COSTA está sempre a apertar. Nunca lhe dá folga.

Contudo, para manter a ‘máquina’ a carburar em pleno é preciso, também, não haver folgas internas. E, por isso, de acordo com esse princípio, pode haver (e há) divergências sobre a forma de se olhar para determinados temas, os macros e os micros mas, na hora de uma potencial fractura, os parafusos são todos apertados e a ‘máquina’ entra em modo de reajustamento.

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Naquela ‘roda’ no final dos jogos, que já tem outros seguidores, o pessoal até pode estar com dores nos caninos ou nos joanetes, até pode estar a pensar 'eu quero é ir tomar banho e ir para casa' ou a pensar horrores do orador de serviço, mas o abraço colectivo está lá e o sinal para o exterior é dado: todos somos um.

O FC Porto, nessa medida, nunca mais vai ter um treinador como SÉRGIO CONCEIÇÃO: sanguíneo, excessivo, implacável nas escolhas, um dos melhores apertadores de tarraxas do futebol mundial.

Acontece, no entanto, que o FC Porto precisa dele, PINTO DA COSTA precisa dele para tentar sair em alta e levar até ao fim a estratégia que assumiu durante quatro décadas, mas para um treinador, seja ele qual for, que tenha preocupações de carreira, o FC Porto é um caso particular no âmbito do futebol europeu, é uma verdadeiro ‘caso de estudo’, e os grandes clubes da Europa não precisam de ter a tarraxa tão apertada, porque a forma de olhar para o futebol assenta noutros pressupostos e não numa ‘guerra’ (não apenas geográfica) contínua.

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Há dias, quando PINTO DA COSTA se disponibilizou a responder a algumas perguntas da comunicação social (e não apenas a da sua estimação) por causa dos 40 anos de presidência, o registo foi de cordialidade, leveza e algum humor, até que um repórter mais ousado (estas coisas são aqui, no torrão pátrio, levadas como ousadia, valha-nos Deus) lhe perguntou se não havia dúvidas sobre a continuidade de SÉRGIO CONCEIÇÃO.

Foi o único momento em que PINTO DA COSTA fechou o rosto e lançou aquele ar reprovador que conhecemos para o repórter: “Não percebo a dúvida… O Sérgio Conceição tem contrato!”

PINTO DA COSTA sabe da importância de SÉRGIO CONCEIÇÃO e gostaria de o manter como uma espécie de ‘filho pródigo’ até se afastar da presidência. 

E se para o presidente, que tem gerido internamente a situação de haver quem não goste do poder excessivo e da forma como SÉRGIO CONCEIÇÃO se impõe e superioriza à estrutura, esse é um tema ‘fechado’, para SÉRGIO CONCEIÇÃO pode não sê-lo.

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E porquê? Exactamente porque SÉRGIO CONCEIÇÃO, também como a Teresa Baptista no romance de JORGE AMADO, está cansado de guerra. São cinco anos a apertar a tarraxa. São cinco anos a dar o peito às balas. São cinco anos a contornar os problemas financeiros e os excessos que se cometeram em negócios de muitas comissões. São cinco anos a fazer milagres e nem todos devidamente compreendidos. São cinco anos a multiplicar e a inventar jogadores.

Para PINTO DA COSTA a continuidade de SÉRGIO CONCEIÇÃO faz todo o sentido (aliás, só tem um sentido) e entende-se que faça. Para SÉRGIO CONCEIÇÃO, talvez não.

As tarraxas de JURGEN KLOPP e PEP GUARDIOLA obrigam a muito menos esforço e se SÉRGIO CONCEIÇÃO quer entrar noutra dimensão de carreira tem de se concentrar apenas no futebol. 

Naqueles planos da gestão técnica, táctica, física e psicológica nos quais ele é, de facto, muito bom.

Desejavelmente com ainda melhores intérpretes e com um ambiente menos poluído como aquele que existe — todos o sabemos - na bola indígena.

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