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Óleo de palma está presente em muitas das suas compras. E os preços podem disparar por causa disto

Fundo Mundial para a Natureza estipula que este tipo de óleo seja utilizado em quase 50% de todos os produtos embalados nos supermercados

A Indonésia começou esta semana a restringir as exportações de óleo de palma, uma medida que poderá agravar a crise alimentar mundial e fazer subir os preços de centenas de produtos de consumo.

O Presidente Joko Widodo anunciou que a Indonésia iria suspender as exportações de óleo alimentar, e as matérias-primas utilizadas para o fazer, “até nova ordem”, numa tentativa de assegurar os abastecimentos locais. A proibição já entrou em vigor.

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O país do sudeste asiático é o maior produtor mundial de óleo de palma, e este anúncio fez os preços da mercadoria descontrolar-se, referiu James Fry, presidente da consultoria LMC International. Os lucros a prazo do óleo de palma bruto na Malásia, uma referência mundial, aumentaram quase 7%.

O choque, e os preços, baixaram um pouco esta semana após a Reuters e a Bloomberg terem comunicado que o governo iria isentar o óleo de palma bruto das restrições. O Ministério da Agricultura da Indonésia não respondeu imediatamente a um pedido de comentário da CNN Negócios.

No entanto, espera-se que as restrições ainda incluam a oleína de palma, um produto mais processado que é utilizado para o óleo alimentar e constitui, segundo os analistas, cerca de 40% a 50% das exportações indonésias. Por conseguinte, isto alimentaria a inflação, ao mesmo tempo que os preços mundiais de alimentos alcançariam os máximos mais elevados de sempre.

O que é óleo de palma?

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O óleo de palma é um ingrediente comum encontrado em muitos dos alimentos, cosméticos e artigos domésticos. A WWF (Fundo Mundial para a Natureza) estipula que este tipo de óleo é utilizado em quase 50% de todos os produtos embalados nos supermercados. Este produto é também utilizado para cozinhar em muitos países, incluindo a Índia, o maior importador mundial.

James Fry referiu que o preço de muitos artigos de despensa, tais como óleo alimentar, massa instantânea, aperitivos, produtos de panificação e margarina poderiam subir quando as restrições entrassem em vigor.

Os preços do óleo de palma já estavam sob pressão após a invasão russa da Ucrânia, à medida que os mercados se defrontavam para encontrar alternativas aos fornecimentos de óleo de girassol retidos nos portos do Mar Negro. A Ucrânia é tipicamente um grande produtor de óleo de girassol, mas foi “completamente prejudicada pela Rússia”, comentou Fry.

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“Temos a tempestade perfeita”, acrescentou ele, salientando que outros fatores, tais como a seca na América do Sul e no Canadá, condicionaram também o fornecimento de óleo de soja e óleo de canola, respetivamente.

Porque está a Indonésia a dar este passo?

O presidente da Indonésia, também conhecido como “Jokowi”, afirmou numa declaração na sexta-feira que a decisão de proibir as exportações era para “assegurar a disponibilidade nacional de óleo alimentar” e ajudar a mantê-lo acessível.

Devido ao aumento dos preços globais do óleo de palma, os indonésios têm tido dificuldade em aceder ao produto essencial de cozinha, o que, de acordo com Antara, a agência noticiosa estatal da Indonésia, levou o governo a disponibilizar subsídios em dinheiro.

O país já tinha tomado outras medidas para proteger os abastecimentos locais. De acordo com o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA), em janeiro foi introduzida uma política que exigia que os exportadores de produtos de óleo de palma vendessem 20% do total das suas exportações a nível nacional.

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O preço de retalho do óleo alimentar foi também posteriormente “nivelado” a 14.000 rúpias indonésias (0,85€) por litro, escreveu a agência numa atualização em fevereiro. Mas dado que o problema persistiu, o governo tomou a decisão drástica de bloquear as exportações na semana passada.

Os analistas dizem que as autoridades querem garantir um abastecimento suficiente de óleo alimentar antes do festival muçulmano de Eid, que marca o fim do ramadão e que terá lugar na próxima semana. A Indonésia é o país onde vive a maior população muçulmana do mundo.

Quem produz maiores quantidades?

A Indonésia é sem dúvida o maior produtor mundial de óleo de palma, com 59% da produção mundial no ano passado, de acordo com o USDA.

A Malásia e a Tailândia seguem com 25% e 4% da produção mundial, respetivamente. A Colômbia, Nigéria e Guatemala são também os principais produtores. Alguns analistas dizem que a Malásia poderia ajudar a colmatar este défice, mas esta também se defronta com os seus próprios problemas de abastecimento.

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Sathia Varqa, cofundadora da Palm Oil Analytics, uma editora independente de dados de mercado, referiu que a Malásia tem vindo a sofrer de uma escassez de mão de obra desde a pandemia. “Os inventários também se encontram historicamente baixos” na Malásia, descreveram os analistas da JPMorgan na sexta-feira.

Outros países também estão a sentir o aperto desta escassez.

A Índia, que depende fortemente das importações de óleos vegetais, já sentiu o impacto da recente escassez, segundo B V Mehta, diretor executivo da Associação de Extratores de Solventes da Índia. Contou à CNN Business que as pessoas estavam a recorrer a outros ingredientes, tais como óleo de colza e óleo de amendoim, devido ao aumento dos preços dos óleos de girassol e palma.

Mehta está a pressionar o governo indiano para que aumente a sua própria produção destes produtos devido à “crise” na segurança alimentar. “Nos últimos dois anos, os preços elevados ensinaram-nos a aumentar os nossos próprios produtos e produtividade, e com a questão da Ucrânia e agora da Indonésia... (isto) serviu-nos como uma boa lição”, acrescentou ele.

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O que é que torna este problema especialmente mau agora?

As restrições às exportações de óleo de palma indonésias surgem num péssimo momento para os consumidores globais.

Os preços mundiais dos alimentos saltaram para os seus níveis mais altos de sempre em março, afirmou a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) no início deste mês. De acordo com o seu relatório, “a guerra na região do Mar Negro impactou nos mercados de cereais e óleos vegetais básicos”.

O mais recente Índice de Preços de Alimentos da FAO, que mede a alteração mensal dos preços internacionais de um cabaz de produtos alimentares, foi 33,6% mais elevado do que em março de 2021.

No seu relatório, os analistas da JPMorgan afirmaram que a interdição de exportação da Indonésia está “pôr lenha na fogueira”.

“Este é mais um exemplo da vulnerabilidade presente nas cadeias de abastecimento agrícola num ambiente de inventários já historicamente restritivos, acrescido pela perda indefinida de volumes de exportação ucranianos e custos de produção historicamente elevados”, escreveram eles.

De certa forma, o mundo dependia do óleo de palma da Indonésia “para preencher a falha” provocada por outras perturbações e, por conseguinte, “a Indonésia bloqueou subitamente esse fluxo”, declarou Fry.

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