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Por que não oferecemos a mesma ajuda a todas as vítimas de ‘cyberbullying’?
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Por que não oferecemos a mesma ajuda a todas as vítimas de ‘cyberbullying’?

O bullying, termo que remete para comportamentos de caráter agressivo e repetitivo sobre alguém, não é um problema de agora, mas intensificou-se com o aparecimento das redes sociais.
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Se antes se associava a comportamentos agressivos ou a insultos presenciais, nos últimos tempos este fenómeno ganhou uma nova dimensão: a digital. Agora, muitas destas agressões fazem-se à distância de um ecrã de computador ou telemóvel. O cyberbullying é um comportamento de assédio, perseguição e agressão que aproveita as tecnologias digitais para atuar sobre as suas vítimas.

Precisamente, um estudo sobre este tema foi selecionado pelo Observatório Social da Fundação ”la Caixa”, um espaço de análise, debate e reflexão que visa estudar o momento atual e os desafios enfrentados pela sociedade. O objetivo do Observatório Social é apoiar projetos de investigação em ciências sociais como o estudo: "Por que não oferecemos a mesma ajuda a todas as vítimas de ‘cyberbullying’?”, liderado pela investigadora Raquel António do Centro de Investigação e Intervenção Social do Iscte - Instituto Universitário de Lisboa.

“Termos sido selecionadas com este projeto permitiu-nos explorar pela primeira vez o fenómeno do cyberbullying de base preconceituosa em Portugal e numa perspetiva grupal” afirma a responsável pelo projeto.

“Ter mais empatia está habitualmente associado a ter mais comportamentos de ajuda” 

Entender o bullying como um fenómeno grupal destaca a importância de estratégias de prevenção que abordem não apenas o comportamento do agressor, mas também a cultura do ambiente em que este ocorre.

O estudo realizado por uma equipa de investigação do Centro de Investigação e Intervenção Social do Iscte – Instituto Universitário de Lisboa, revela que o contacto prévio entre os diferentes grupos sociais aumenta as intenções de ajuda por parte de quem observa episódios de bullying. Porém, as respostas escasseiam sobre os potenciais efeitos positivos de fatores intergrupais no comportamento de pessoas que assistem a episódios de cyberbullying que ocorrem devido à pertença a determinados grupos sociais. 

É à Internet que, muitas vezes, vão parar vídeos de agressões entre jovens. Neste caso, em vez de haver um grupo a assistir, podem ser milhares de espetadores. Ao contrário dos casos de bullying que ficam circunscritos a apenas um local, normalmente a escola, a dimensão que o cyberbullying pode alcançar, toma proporções gravíssimas para as vítimas. “O que distingue o cyberbullying do bullying presencial é o facto de ser realizado através de meios digitais e poder acontecer em qualquer lugar e a qualquer hora, para além dos portões das escolas e possibilitar o anonimato do agressor. Estes detalhes podem ser fatores determinantes na deteção e na resolução dos casos de cyberbullying. Pela rapidez com que se espalham na internet e por permitirem o anonimato, serão muito mais difíceis de resolver do que casos de bullying presencial”, conclui o estudo do Iscte liderado pela investigadora Raquel António.

O objetivo desta investigação foi compreender os comportamentos dos jovens que assistem a episódios de cyberbullying, e o que pode influenciar os seus comportamentos de ajuda quando assistem a estes incidentes online. “Essencialmente pretendíamos compreender se os comportamentos divergiam consoante o alvo de cyberbullying e de que forma podemos promover mais comportamentos de ajuda entre estes jovens” afirma Raquel António. O estudo demonstra que a experiência de cyberbullying foi mais comum entre jovens autoidentificados como mulheres, Transgénero e de Género Diverso (TGGD), não heterossexuais, pertencentes a uma minoria étnica e de estatuto socioeconómico mais baixo.

O inquérito feito a 4.507 jovens portugueses entre os 15 e os 32 anos, revelou que a resposta das pessoas que assistiram a incidentes contra jovens LGBTI+ e jovens Negros variava em função do alvo. Raquel António explica: “Não só é prestada menos ajuda a uma pessoa jovem LGBTI+ alvo de cyberbullying, como foi revelada menos empatia em relação a este grupo comparativamente ao alvo quando se trata de uma pessoa Negra. Por isso, acredito que estes dois conceitos estão relacionados. Ter mais empatia está habitualmente associado a ter mais comportamentos de ajuda” revela a investigadora.

Esta investigação visa contribuir para o desenvolvimento de abordagens teóricas e compreender o que promove a intenção de ajuda de pessoas que assistem a episódios de cyberbullying. “É importante capacitar quem assiste a estes episódios online para saber como intervir de forma assertiva e em favor do alvo destes incidentes. É importante que não fiquem em silêncio, não compactuem com o que estão a assistir, intervenham e ajudem as vítimas” afirma a investigadora. 

Não há estatísticas precisas sobre a percentagem de bullying em Portugal, pois muitos casos não são denunciados ou registados oficialmente. No entanto, estudos indicam que o bullying é um fenómeno que afeta um número significativo de crianças e jovens. Mas uma coisa é certa, é necessária uma cultura de promoção de empatia e de denúncia de conteúdo abusivo para prevenir e denunciar estes comportamentos. “É importante promover o contacto entre grupos e também promover um sentido de identidade partilhada entre diferentes grupos, pois podem ser formas eficazes de promover mais comportamentos de ajuda. Além disso, é importante apostar na formação destes jovens para serem, não só, ensinados para a existência de diversidade sexual, étnica, entre outras, como também para a importância do seu papel enquanto testemunhas deste tipo de incidentes online” conclui Raquel António.

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