O Psicólogo Responde: Como é que as pessoas inseguras podem ganhar segurança?
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O Psicólogo Responde: Como é que as pessoas inseguras podem ganhar segurança?

O Psicólogo Responde é uma rubrica sobre saúde mental para ler todas as semanas. Tem comentários ou sugestões? Escreva para opsicologoresponde@cnnportugal.pt

Alexandra Antunes
Psicóloga e membro da direção da Ordem dos Psicólogos Portugueses

Antes de mais vale a pena lembrar que qualquer pessoa, em determinados momentos, circunstâncias, e ao longo do ciclo de vida, vai sentir-se insegura e isso não é necessariamente um problema. Diríamos que faz parte do processo de desenvolvimento e adaptativo. O desconhecido, o desafio ou o risco promovem insegurança e, como tal, obrigam a uma maior exigência e responsabilidade que são adequadas e necessárias.

Porém, esta insegurança momentânea ou transitória é distinta de um perfil inseguro, ou seja, alguém que tem como característica da personalidade a falta de confiança em si. Este traço pode surgir desde muito cedo na vida da uma criança. Podemos inclusive dizer que pode haver uma predisposição, um temperamento com baixa auto-confiança, ou ao longo do desenvolvimento. Podemos, como exemplo, pensar numa criança quando está na fase de se tornar mais autónoma na execução dos seus cuidados e tarefas pessoais, como comer, vestir-se ou fazer trabalhos de casa e solicita a ajuda do adulto por sentir que não é capaz. Sempre que esta ajuda não promove a auto-confiança, isto é, “faz pela criança” e vai cedendo a esse desejo (normal nas crianças, preferem o mais fácil e tendencialmente procuram a dependência) está a contribuir para a construção de um perfil inseguro. Outro exemplo é uma relação afectiva abusiva, em que há um domínio de um dos elementos do casal através da desvalorização do outro, acompanhada de críticas constantes. É frequente que esta pessoa se vá tornando insegura e cada vez mais incapaz de confiar em si e nos seus atos.

Em ambos os casos a forma como o próprio lida com este sentimento é determinante na manutenção do mesmo. Há, portanto, nas pessoas com um perfil inseguro, um estado emocional caracterizado por uma falta de confiança e uma visão negativa de si mesmo que é desencadeado ou mantido por diversos factores. Foquemo-nos em alguns deles:

- Experiências do passado: vivências emocionais traumáticas como abuso, negligência, rejeição, fracasso, bullying;

- Baixa auto-estima: uma auto-imagem negativa e falta de confiança nas capacidades e atributos pessoais, críticas constantes, comparação com os outros e falta de validação pessoal; perfeccionismo e auto-crítica excessiva, estabelecer padrões elevados e busca da perfeição, auto-avaliação rigorosa e insatisfação com os resultados, voz interior crítica e negativa que julga e desvaloriza as acções e qualidades, tendência a assumir a culpa por tudo e incapacidade para reconhecer as conquistas; comparação social, manter o foco nos outros, seja na aparência ou nas competências, hipervalorizando-as (as redes sociais são um fator promotor desta valorização, há constantemente a partilha do “melhor do outro”).

Quando falamos em mudança e em promover auto-confiança devemos lembrar que o primeiro passo é reconhecer que há uma dificuldade e que pode haver, inclusive, sofrimento psicológico. Se assim é, torna-se essencial encontrar estratégias que contribuam para a segurança da pessoa. Aqui é importante distinguirmos a fase da infância e adolescência da idade adulta. Isto é, nas fases precoces do desenvolvimento a perceção de um temperamento inseguro é, na maioria das vezes, dos cuidadores (sejam pais ou educadores). Assim, caberá a estes encontrar as ferramentas certas para promover a auto-confiança numa criança ou adolescente. Algumas das mais importantes são: o afeto e um ambiente seguro, a valorização através do elogio e reforço positivo, a promoção da autonomia e de competências socio-emocionais, o estabelecimento de regras e limites claros, a partilha de sentimentos e a comunicação. Sempre que necessário recorrer a ajuda especializada na área da psicologia. A intervenção precoce é crucial e poderá ser determinante no desenvolvimento de um perfil seguro.

Nos adultos, independentemente da influência do meio, é determinante o reconhecimento pelo próprio que está perante uma dificuldade e que a mesma lhe causa mal-estar. É, por isso, essencial, investir no auto-conhecimento, no desenvolvimento de competências socio-emocionais, num suporte social adequado, no auto-cuidado. Na maioria das vezes, a compreensão do próprio e o desenvolvimento de estratégias para lidar com a insegurança passam pelo recurso a intervenção psicológica que é fundamental para uma mudança efetiva, sustentada e permanente.

Sugestões:

Procure conhecer-se melhor, reflita sobre as suas vivências e faço-o junto daqueles em quem mais confia. Compreender quais os fatores que estiveram na base ou que mantêm um sentimento de insegurança é muito importante.

Rodeie-se de pessoas que o valorizem. Muitas vezes as pessoas com perfil inseguro mantêm relações “tóxicas” em que prevalece o abuso e o juízo crítico. Ambas conduzem a uma baixa auto-estima e auto-confiança.

Identifique quais os pensamentos negativos que tem em relação a si próprio e procure nas suas experiências e na relação com os outros exemplos que os contrariam. Por exemplo, valorize um elogio e não permita que a visão que tem de si o oculte.

Cuide de si. O auto-cuidado permite “gostarmos mais de nós” e dessa forma contribui para mais e melhor segurança.

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