Israel vs Irão e EUA à espreita. O mundo acaba de ficar mais perto de uma guerra ainda maior
Mísseis vistos em Telavive após ataque iraniano (Getty Images)

Israel vs Irão e EUA à espreita. O mundo acaba de ficar mais perto de uma guerra ainda maior

O mundo acordou com uma guerra local e deitou-se com uma guerra regional. Esta é a análise feita pelo major-general Agostinho Costa para a CNN Portugal, abordando o grande ataque lançado pelo Irão contra Israel, e que contou com mais de 200 drones e mísseis, incluindo alguns mísseis de cruzeiro.

Pouco depois das 22:00 deste sábado (hora de Lisboa), Israel foi alvo de uma "constelação de ataque", com recurso a centenas de drones, lançados pelo Irão para "saturar as defesas aéreas" israelitas, seguidos do lançamento de mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos.

Foi a resposta de Teerão ao ataque israelita que matou sete membros do exército da Guarda Revolucionária Islâmica num consulado na Síria. Esperava-se uma retaliação – Israel e Estados Unidos tinham avisado – mas talvez não se esperasse algo desta dimensão.

Apesar disso, e a acreditar nas informações israelitas, grande parte das pretensões iranianas saíram goradas. É que todos os mísseis de cruzeiro lançados – as Forças de Defesa de Israel (IDF) dizem que foram mais de 10 – acabaram abatidos ainda antes de entrarem em solo israelita. Esse foi o mesmo destino da maioria dos drones Shahed 136.

O ataque iraniano parece mesmo ter sido mais em dimensão que em resultado. Ainda não tinha amanhecido no primeiro balanço, mas as IDF assinalavam apenas alguns feridos, incluindo uma criança de 10 anos que foi atingida por estilhaços de uma drone abatido, e alguns danos, “diminutos”, numa base a sul do país.

Este é, ainda assim, um ataque sem precedentes, uma vez que é a primeira vez que Teerão ataca diretamente Telavive, num momento de grande tensão no Médio Oriente.

Há uma "mudança radical" no conflito que passou a regional após o ataque do Irão a Israel. Agostinho Costa explica tudo

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Uma "constelação" contra uma cúpula de ferro

Pouco depois das 22:00 deste sábado, Israel foi alvo de uma "constelação de ataque", com recurso a centenas de drones, lançados pelo Irão para "saturar as defesas aéreas" israelitas, seguidos do lançamento de mísseis de cruzeiro e mísseis balísticos.

O primeiro-ministro israelita, Benjamin Netanyahu, convocou de imediato o Gabinete de Guerra, depois de o porta-voz do exército israelita, Daniel Hagari, alertar para uma "escalada grave e perigosa" do conflito. Também o presidente dos EUA, Joe Biden, reuniu o Conselho de Segurança Nacional na Casa Branca. Os dois acabaram a madrugada a falar um com o outro, até porque os Estados Unidos são, simultaneamente, o maior aliado de Israel e o maior rival do Irão.

Ainda antes dessa conversa telefónica Benjamin Netanyahu fez uma declaração à nação para garantir que Israel está "pronto para qualquer cenário". "Nos últimos anos, e especialmente nas últimas semanas, Israel tem estado a preparar-se para um ataque direito do Irão. Os nossos sistemas defensivos estão a funcionar, estamos prontos para qualquer cenário", assegurou.

 

"Estamos prontos para qualquer cenário", garante Benjamin Netanyahu

E estavam mesmo. Várias imagens captadas pelas agências internacionais mostraram a Iron Dome (Cúpula de Ferro), o famoso sistema de defesa antiaérea altamente sofisticado, além de outros meios defensivos, a contrariarem a ameaça que chegava.

O sistema de defesa aérea israelita intercetou dezenas de drones que sobrevoavam várias zonas do país, cumprindo uma "missão de defesa no espaço aéreo israelita", conforme as IDF. A equipa de reportagem da CNN em Jerusalém testemunhou várias explosões e o som de sirenes que confirmavam isso mesmo. Mas não foi só ali: um alerta nacional foi emitido por todo o país e a luz verde para abandonar abrigos só foi dada por volta das 04:00 locais (menos duas horas em Portugal Continental).

"Continuamos a assistir a múltiplas interceções no espaço aéreo, vindas de diferentes direções. É difícil dizer o que é um míssil ou o que é uma interceção", descreveu o repórter Nic Robertson.

O momento em que Israel interceta uma série de ataques do Irão

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Preocupação generalizada (e alguns festejos)

Egito e Arábia Saudita, anteriormente dois dos maiores adversários de Israel, vieram assumir uma postura bastante neutra e equilibrada, colocando-se à parte das pretensões iranianas.

Depois de todo o espaço aéreo ter sido fechado no Médio Oriente, Cairo e Riade reagiram com preocupação, a mesma que demonstraram Alemanha, Canadá ou até Portugal, através do primeiro-ministro, Luís Montenegro.

A Arábia Saudita expressou uma profunda preocupação pela situação no Médio Oriente. O ministério saudita dos Negócios Estrangeiros referiu que existe uma escalada militar e o risco de repercussões sérias na região. O reino saudita pediu a todas as partes que se restrinjam ao máximo para poupar a região e os seus povos ao perigo de mais guerras.

Já o Egito pediu a todas as partes que tenham a “máxima contenção”, tentando poupar a região a uma guerra generalizada.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros deixou uma nota a afirmar que o país “considera que uma escalada perigosa não é mais do que o resultado daquilo que o Egito avisou repetidamente.

“O Egito enfatiza que está em constante contacto com todas as partes para tentar conter a situação, parar a escalada e poupar a região de um risco de deslizar para uma instabilidade perigosa e ameaçadora aos interessas dos povos”, acrescenta o comunicado.

Também António Guterres reagiu, pedindo o fim imediato de todas as hostilidades.

Em sentido contrário vai a reação no Irão. Pelas ruas do país juntaram-se pessoas em celebração, naquele que já é um cenário habitual quando há uma vitória militar árabe sobre Israel.

 

Iranianos festejam ataque contra Israel (EPA/ABEDIN TAHERKENAREH)

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E agora? Irão diz que acabou mas avisa e Israel pode retaliar

Para esta missão, Israel contou com a Força Aérea do Reino Unido, que confirmou o destacamento de caças para intercetar ataques aéreos do Irão contra Israel. Também os Estados Unidos e a Jordânia estiveram envolvidos no abate dos drones iranianos. De resto, dos céus jordanos também foi possível testemunhar a passagem de drones. Vários populares relataram à CNN ter visto e ouvido drones a passar na capital, Amã.

Os aliados de Israel contrariaram assim os avisos do Irão, que advertiu os EUA em particular para que fiquem "longe do conflito com Israel", alertando para respostas “mais duras” caso Telavive decida retaliar.

Cerca das 00:00 deste domingo (02:00 em Israel), a missão do Irão nas Nações Unidas anunciou que o ataque contra Israel terminou, mas também deixou um aviso. Numa publicação através da rede social X, o Irão confirmou que este ataque foi uma “resposta à agressão do regime sionista” depois dos ataques a corpos diplomáticos em Damasco, na Síria.

“O assunto pode ser dado como concluído”, pode ler-se na mesma publicação, na qual a missão do Irão avisa Israel que qualquer “outro erro” da sua parte pode resultar numa “resposta consideravelmente mais severa”.

Mas o conflito não vai ficar por aqui. Para o tenente-general Marco Serronha, Israel pode retaliar este ataque já nas próximas horas. "Daqui a umas horas ou amanhã vamos com certeza assistir a uma retaliação, que também não sabemos a dimensão da retaliação", assume, acrescentando que Israel poderá não responder sozinho a este ataque.

"Nada indica que os EUA possam participar além da defesa aérea propriamente dita. Mas se Israel, com o apoio dos EUA, tiver sucesso em destruir quase a totalidade deste ataque, a retaliação pode ter uma dimensão menor", relativiza, em declarações à CNN Portugal.

Para já o que avança mesmo é um Conselho de Segurança extraordinário nas Nações Unidas, depois de um pedido urgente de Israel.

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