A Rússia recrutou cerca de 15 mil nepaleses para combater na sua guerra. Muitos regressaram traumatizados. Alguns nunca regressaram
Ramchandra Khadka, do Nepal, fotografado em Bakhmut, na Ucrânia, onde esteve a combater pela Rússia (Ramchandra Khadka)

A Rússia recrutou cerca de 15 mil nepaleses para combater na sua guerra. Muitos regressaram traumatizados. Alguns nunca regressaram

Reportagem de Sugam Pokharel, Matthew Chance e Mihir Melwani, da CNN, e do jornalista Nishant Khanal

Kathmandu, Nepal (CNN) - Ramchandra Khadka estava em frente a um templo no centro de Katmandu, no Nepal, a rezar pelos seus compatriotas que estão a lutar pela Rússia na guerra de Moscovo contra a Ucrânia.

Enquanto os sinos cerimoniais tocavam e o cheiro doce do incenso enchia o ar, o homem acendeu velas e ofereceu flores a uma divindade. Tudo o que ele quer é que os seus amigos nepaleses sobrevivam à guerra brutal.

O jovem de 37 anos regressou recentemente ao Nepal depois de ter sofrido ferimentos na linha da frente na Ucrânia. À CNN diz que testemunhou cenas horríveis e que lamenta a decisão de se juntar ao exército do Kremlin como mercenário estrangeiro.

A guerra da Rússia na Ucrânia não é a primeira batalha travada por Khadka. Esteve entre os rebeldes maoístas do Nepal, que travaram uma guerra sangrenta com as forças do país durante dez anos, a partir de meados da década de 1990. Em seguida foi para o Afeganistão, depois de ter sido contratado por um grupo militar privado para ajudar as forças da NATO no país. Pensou que já tinha vivido tudo - derramamento de sangue, morte e dor. Mas cerca de 17 anos após o fim da guerra maoísta, sem esperança de emprego no Nepal, decidiu voar para a Rússia para se juntar às forças armadas do país a troco de dinheiro.

"Não entrei para o exército russo por prazer. Não tinha qualquer oportunidade de emprego no Nepal. Mas, em retrospetiva, não foi a decisão correcta. Não nos apercebemos que seríamos enviados para a linha da frente tão rapidamente e que a situação seria horrível", recorda Khadka.

Ramchandra Khadka reza à porta de um templo em Katmandu pelos seus camaradas que lutam pela Rússia (CNN)

Chegou a Moscovo em setembro do ano passado. Depois de apenas duas semanas de treino, foi enviado para as linhas da frente em Bakhmut - uma cidade no leste da Ucrânia que assistiu a alguns dos combates mais pesados entre as forças russas e ucranianas - com uma arma e um kit básico.

"Não há um centímetro de terra em Bakhmut que não tenha sido afetado por bombas. Todas as árvores, arbustos e vegetação... desapareceram. A maior parte das casas foi destruída. A situação é tão horrível que dá vontade de chorar", descreve.

Khadka foi destacado para Bakhmut duas vezes e passou lá um mês no total. Durante a sua segunda missão foi atingido por uma bala na anca. Depois de ter sido resgatado e levado algumas centenas de metros para longe da linha da frente, foi atingido por estilhaços de uma bomba de fragmentação.

"Ainda me dói a cabeça quando penso nas cenas terríveis que vi na zona de guerra", diz.

Khadka é um dos cerca de 15 mil nepaleses que se alistaram nas forças armadas russas, segundo confirmaram várias fontes à CNN, depois de o governo russo ter anunciado, no ano passado, um pacote lucrativo para os combatentes estrangeiros se alistarem nas forças armadas do país.

O pacote incluía um salário mínimo de quase dois mil euros por mês e um processo acelerado para obter um passaporte russo. O passaporte do Nepal está classificado como um dos piores do mundo em termos de mobilidade global, abaixo da Coreia do Norte, de acordo com um índice criado pela empresa de consultoria em cidadania global e residência Henley & Partners, e a nação dos Himalaias está entre as mais pobres do mundo, com um PIB per capita de 1.240 euros em 2022, de acordo com dados do Banco Mundial.

Ramchandra Khadka, do Nepal, fotografado em Bakhmut, na Ucrânia, onde esteve a combater pela Rússia (Ramchandra Khadka)

O governo nepalês afirma que cerca de 200 dos seus cidadãos estão a combater pelo exército russo e que pelo menos 13 nepaleses foram mortos na zona de guerra. Mas os legisladores e os ativistas dos direitos humanos no Nepal afirmam que estas estimativas oficiais subestimam largamente os números reais.

Bimala Rai Paudyal, antigo ministro dos Negócios Estrangeiros, disse à Câmara Alta do Parlamento nepalês que entre 14 mil e 15 mil nepaleses estão a combater na linha da frente, citando testemunhos de homens que regressaram da zona de guerra, e apelou às autoridades russas para que fornecessem os números.

"O governo russo deve ter os dados de quantos combatentes estrangeiros se juntaram ao exército russo e quantos nepaleses estão a lutar pela Rússia", afirmou.

De acordo com o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Nepal, quatro combatentes nepaleses estão atualmente detidos como prisioneiros de guerra pela Ucrânia.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros da Rússia não respondeu às perguntas da CNN sobre o número de nepaleses recrutados pelo exército e quantos deles morreram até à data.

Kritu Bhandari, uma ativista social de Katmandu, tornou-se a líder de um grupo de familiares de homens nepaleses que combatem na Rússia. Segundo a também política, cerca de duas mil famílias contactaram-na nas últimas semanas a pedir ajuda para entrar em contacto com os seus entes queridos desaparecidos ou para trazer os que ainda estão em local conhecido para a pequena nação asiática.

Centenas de famílias dizem que os seus parentes na Rússia não entram em contacto há muitas semanas ou meses, segundo Bhandari.

Como carne para canhão. Rússia recrutou 15 mil nepaleses para combater na Ucrânia (e muitas famílias não sabem onde eles estão)

04
Tentar não pensar no pior

O marido de Januka Sunar foi para a Rússia há três meses para se alistar nas forças armadas. Há dois meses e meio que não entra em contacto com a família no Nepal.

A última vez que Sunar falou com o marido, conta à CNN, o homem disse que os militares russos o iam transferir para outro local e que não o deixavam levar o telemóvel. Ele não lhe disse para onde estava a ser transferido.

"Estou muito preocupada. Não sei o que é que lhe aconteceu. Pode estar ferido... e pergunto-me se acabarão por lhe devolver o telemóvel. Tenho medo. Tento não pensar no pior", confessa.

Sunar refere que o marido, o único ganha-pão da casa, que costumava trabalhar no fabrico de joias e utensílios de prata, tinha-se alistado no exército russo apenas por dinheiro - para construir uma vida melhor para a família. Com a mulher tem dois filhos que vivem numa cidade nos arredores de Katmandu.

Januka Sunar e outros familiares de nepaleses que lutam pela Rússia reúnem-se na sede do Partido Comunista do Nepal (Centro Maoísta), no poder, em Katmandu, para pedir ajuda aos dirigentes do país (CNN)

A CNN encontrou Sunar juntamente com outros familiares dos que se encontram na Rússia, que se tinham reunido na sede do Partido Comunista do Nepal (Centro Maoísta), no poder, na capital nepalesa, para tentar pressionar os principais políticos do país a repatriarem os seus entes queridos.

"Se o pior lhe tiver acontecido, será pior do que ir para o inferno para nós. Não temos um futuro para o resto das nossas vidas", lamenta, desfazendo-se em lágrimas ao partilhar a incapacidade de explicar aos filhos onde está o pai.

"Eles dizem: 'Onde está o nosso pai, mamã? Todos os pais dos nossos amigos que foram trabalhar para o estrangeiro já regressaram... quando é que o nosso pai volta? Queremos falar com o nosso pai só por uma vez'".

Sunar está desesperada por ajuda das autoridades. "Só queremos informações - do nosso governo ou do governo russo. Digam-nos qual é o estado dele. Por favor, vejam se o conseguem salvar. Se o quiserem manter lá... pelo menos queremos saber como ele está... e falar com ele", suplica.

Familiares de Buddhi Maya Tamang, a segunda a contar da esquerda, sentam-se com ela no exterior da sua casa. O seu marido, Shukra Tamang, alistou-se para combater com as forças russas e teme-se que tenha morrido (CNN)

Buddhi Maya Tamang, que também estava presente na reunião, recebeu uma chamada no final de janeiro de um número russo, depois das 00:00. Pensou que o seu marido, Shukra Tamang - um soldado reformado do exército nepalês que luta pela Rússia - era a pessoa que estava a ligar.

Mas não era. Um comandante nepalês que liderava uma unidade na linha da frente disse-lhe que o marido tinha sido morto durante os combates.

"Fiquei sem palavras e sem sentido... Esperava que fosse uma partida", conta.

Ainda não recebeu confirmação da morte do marido, nem do governo nepalês nem do governo russo.

"Só preciso de uma prova oficial do seu estado, independentemente de serem boas ou más notícias".

05
Recrutas do sul global

Depois de analisar os perfis TikTok de 10 homens nepaleses que viajaram para a Rússia para se alistarem no exército, a CNN utilizou imagens de satélite para os localizar geograficamente no centro de formação Avangard, uma academia militar nos arredores de Moscovo concebida para jovens e que se descreve como um centro de "educação patriótica". Entretanto foi transformada numa academia de treino para mercenários estrangeiros que entram nas fileiras do exército russo. Foi aqui que Khadka recebeu a sua breve formação.

"Aqui ensinam-nos a montar e a disparar armas", explica Shishir Bishwokarma, um soldado nepalês que documentou no YouTube a sua viagem à Rússia e a vida no campo de treino.

O vídeo geolocalizado das redes sociais mostra um ginásio de luta livre interior convertido em área de treino para familiarização com armas de pequeno calibre, como as AK-47, enquanto a antiga bandeira do ginásio, da região de Moscovo, parece ter sido trocada pelas cores do Ministério da Defesa da Rússia.

As academias militares russas estão a treinar combatentes estrangeiros
A CNN utilizou publicações nas redes sociais e imagens de satélite para localizar geograficamente dois centros de treino perto de Moscovo. A Academia Avangard foi, em tempos, uma academia militar para jovens e está agora a ser utilizada para familiarizar mercenários estrangeiros com lança-foguetes, bombas, metralhadoras e drones, revela a análise da CNN, enquanto um complexo de infantaria mecanizada nas proximidades parece ser utilizado para treinar veículos blindados e tanques.

Um soldado nepalês na Rússia, que não quis ser identificado por razões de segurança, confirmou à CNN que tinha treinado com lança-foguetes, bombas, metralhadoras, drones e tanques enquanto esteve em Avangard.

O soldado descreveu os seus colegas cadetes da academia como sendo oriundos de todo o sul global. Citou colegas afegãos, indianos, congoleses e egípcios, entre outros. As fotografias da turma de Avangard publicadas nas redes sociais mostram dezenas de soldados aparentemente do sul da Ásia com instrutores russos nativos.

Após a formação básica em Avangard, a CNN localizou pelo menos dois soldados numa base secundária próxima, conhecida como Polígono Alabino.

Neste complexo de treino de infantaria mecanizada, que foi geolocalizado com a ajuda da comunidade Bellingcat Discord, um punhado de soldados do sul da Ásia em equipamento de combate completo parece estar a inteirar-se com a operação ao lado de veículos blindados e armamento pesado, bem como a embalar sacos de equipamento e a organizar-se em unidades maiores entre os soldados russos.

Um dos vídeos de Bishwokarma mostra drones a sobrevoar o centro do complexo da academia Avangard, enquanto o homem narra "agora, pessoal, viemos para uma aula de drones".

"Não percebemos russo, mas ligaram filmes russos na nossa sala de espera para podermos ver", explica.

Vários nepaleses que se alistaram no exército russo não falam russo, mas explicam que os instrutores da Avangard tentam acomodar esse facto, treinando os homens em inglês.

Essa barreira linguística tem desempenhado um papel importante na morte de muitos nepaleses nas linhas da frente, diz Khadka, antigo combatente.

"Por vezes, nem sequer conseguimos perceber para onde é suposto irmos ou como lá chegar", revela.

Khadka diz que costumava comunicar com os oficiais russos através de uma aplicação de tradução de voz - e, muitas vezes, apenas com sinais.

Fotografia mostra Shukra Tamang, um soldado reformado do exército nepalês, a treinar na Rússia. O seu destino não é claro (Família Tamang)

Vários combatentes nepaleses regressados que falaram com a CNN acusaram mesmo a Rússia de os utilizar como carne para canhão na guerra.

"São os nepaleses e outros combatentes estrangeiros que estão realmente a lutar na frente das zonas de guerra. Os russos posicionam-se a algumas centenas de metros atrás como apoio", diz Suman Tamang, que regressou da Rússia na semana passada.

"Alguns dos meus amigos foram maltratados pelo comandante russo quando tentaram expressar as suas preocupações", recorda.

O homem de 39 anos diz também que os ucranianos estavam a atacar a sua posição com drones, algo que a unidade onde estava não tinha. O jovem culpou a falta de equipamento moderno de combate pelas suas perdas.

A CNN contactou os ministérios russos da Defesa e dos Negócios Estrangeiros sobre as alegações de Tamang, mas não obteve resposta.

Alguns combatentes afirmam que, embora se tenham alistado para receber dinheiro, não apoiam a invasão da Ucrânia pela Rússia.

"Não é correto invadir outro país. Toda a gente tem o direito de viver. Todos os países devem respeitar a soberania de outro país. Não é correto que pessoas de qualquer país sejam mortas de uma forma tão hedionda. Não está certo que dezenas de milhares de pessoas morram pelo interesse de alguns", afirma Khadka.

O problema é que todos os anos cerca de 400 mil pessoas entram no mercado de trabalho nepalês com competências e oportunidades limitadas. Uma taxa de desemprego juvenil de 19,2%, entre os indivíduos com idades compreendidas entre os 15 e os 29 anos, sublinha o obstáculo que a população mais jovem enfrenta na procura de emprego. A guerra acaba por ser um escape.

06
Prémios pagos

Os homens nepaleses que querem alistar-se no exército russo viajam primeiro para a Rússia com um visto de turista. A maioria das pessoas com quem a CNN falou disse que viajou através dos Emirados Árabes Unidos ou da Índia. Depois de aterrarem em Moscovo, dirigem-se a um centro de recrutamento, onde é feito um exame físico.

"Os recrutadores ficam muito contentes quando os nepaleses aparecem", diz um antigo combatente.

É assinado um contrato de um ano e os homens recebem uma conta bancária russa, onde é depositado um salário mensal de pelo menos 1.850 euros. Muitos combatentes dizem que também recebem bónus - e quanto mais tempo permanecerem na linha da frente, mais bónus recebem. Alguns dizem que chegaram a ganhar até 3.700 euros por mês.

Vários dos nepaleses que combateram pela Rússia afirmaram ter recebido apenas uma breve formação antes de serem enviados para o combate.

Um período de formação tão curto antes de enviar soldados nepaleses para combater "mostra o desespero do governo russo e a sua necessidade de recursos humanos na linha da frente", diz Binoj Basnyat, um major-general reformado do exército nepalês, que trabalha atualmente como analista estratégico.

Kritu Bhandari, ao centro, um político e ativista social de Katmandu, tornou-se o líder de um grupo de familiares de mercenários nepaleses que exigem o seu regresso da Rússia (CNN)

A CNN falou com um homem nepalês que deixou recentemente a Rússia depois de lá ter passado três meses. Tratamo-lo pelo pseudónimo Ram Sharma, para sua segurança.

Tal como muitos nepaleses que fugiram da Rússia sem terem sido dispensados dos seus contratos, Sharma não faz ideia de como levantar o dinheiro que ainda tem numa conta bancária russa.

"Depois de ter fugido do campo militar, demorei três dias a chegar a Moscovo. Receava que, ao ir a um banco para levantar o dinheiro, corresse o risco de ser apanhado", diz. "Posso aceder à minha conta bancária através do meu telemóvel, mas não sei se é possível transferir esse dinheiro para o estrangeiro."

Sharma, um agente reformado da polícia nepalesa, trabalhava como segurança num hotel do Dubai quando um agente nepalês em Katmandu o contactou sobre as condições que a Rússia oferecia aos estrangeiros para se alistarem nas suas forças armadas. Sharma ganhava cerca de 420 euros por mês no Dubai e foi imediatamente atraído pela oferta.

"Depois de ver imagens horríveis na linha da frente, de ver os seus amigos morrerem ao seu lado, de se aperceber que as hipóteses de sobrevivência são muito reduzidas...., percebi que o dinheiro não vale a pena. Foi por isso que fugi", conta.

Os agentes no Nepal cobram entre 4.640 e 6.490 euros para obter um visto de turista para um indivíduo através de um país terceiro, segundo a polícia.

07
Estou farto de lutar em guerras

O governo nepalês proibiu agora os seus cidadãos de viajarem para a Rússia para trabalhar e implementou requisitos mais rigorosos para as pessoas que tentam ir para países como os Emirados Árabes Unidos com um visto de visita.

Em dezembro, o Ministério dos Negócios Estrangeiros do Nepal instou a Rússia a deixar de recrutar cidadãos nepaleses e a enviar para casa os restos mortais dos que morreram na guerra.

"Estamos muito preocupados com o facto de a Rússia ter recrutado os nossos cidadãos e os ter enviado para zonas de guerra em situações vulneráveis", disse o ministro dos Negócios Estrangeiros do Nepal, N. P. Saud, à CNN, numa entrevista a partir do seu gabinete em Katmandu.

O governante afirmou que o vice-ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia lhe tinha assegurado, no mês passado, que "eles iriam resolver o problema" relativamente às preocupações do Nepal, mas reconheceu que Moscovo não tomou quaisquer medidas até à data.

"Não temos qualquer informação de que a Rússia esteja a fazer alguma coisa", diz, sublinhando que Moscovo deveria "respeitar o ponto de vista do Nepal".

"Temos um tratado tradicional com alguns países para o recrutamento dos nossos cidadãos para as forças armadas desses países", explica. "Mas não temos um tratado deste tipo com a Rússia para este tipo de recrutamento militar ou de segurança".

O ministro disse também que tinha pedido para se deslocar a Moscovo para discutir a questão, mas que estava à espera de um convite do governo russo.

Saud disse ainda que o Nepal estava a falar com as autoridades ucranianas sobre a libertação dos quatro prisioneiros de guerra nepaleses retirados pela Ucrânia das linhas da frente. Segundo Saud, a Ucrânia tem algumas "reservas" e "questões jurídicas" que o governo nepalês está a tentar resolver.

Não se sabe se haverá consequências legais para os indivíduos que desafiem a proibição do governo nepalês de viajar para a Rússia em trabalho ou que participem em operações de combate contra a Ucrânia.

Um grupo de defesa dos direitos humanos protesta junto à embaixada russa em Katmandu (CNN)

A polícia de Katmandu afirmou ter desmantelado um esquema no mês passado, o que levou à detenção de 18 pessoas alegadamente envolvidas no envio de homens nepaleses para se juntarem ao exército russo.

Segundo a polícia, fizeram uma rusga em vários hotéis onde os detidos estavam alojados e confiscaram dezenas de passaportes e várias centenas de milhares de rupias nepalesas.

Mas os nepaleses não deixaram de voar para a Rússia.

Sharma, o homem que regressou recentemente, confessa que tinha conhecido alguns nepaleses em Moscovo que tinham acabado de chegar e que estavam a tentar entrar para o exército.

O chefe da polícia de Katmandu, Bhupendra Bahadur Khatri, afirma que o número de nepaleses que se deslocam a um país terceiro com um visto de visita para depois voarem para a Rússia diminuiu, mas não parou completamente.

"Estamos a receber informações de que alguns destes agentes ainda estão activos no recrutamento de homens do Nepal. Recolhemos algumas informações sobre as suas actividades e a nossa investigação continua", acrescenta Khatri.

Basnyat, o analista, considera que a instabilidade política e o aumento do desemprego no Nepal são os principais fatores que levam os nepaleses a procurar empregos perigosos na Rússia.

Mais de 15% da sua população vive abaixo do limiar de pobreza. A taxa de desemprego estimada em 2022 era de 11,1%, de acordo com o Banco Mundial, em comparação com 10,6% em 2019, antes da pandemia de covid-19. Dezenas de milhares de nepaleses viajam todos os anos para os países do Golfo em busca de trabalho, com as remessas internacionais a representarem quase 23% do PIB do país. Uma esmagadora maioria de 70% da força de trabalho do país está empregada no sector informal, o que a expõe a uma maior insegurança no emprego e a uma proteção limitada.

Khadka também planeia ir para o Médio Oriente como trabalhador migrante assim que recuperar dos ferimentos causados pelo conflito.

"Quero dedicar-me à agricultura comercial no Nepal, mas está a revelar-se quase impossível obter um empréstimo. Estou a tentar ir para um dos países do Golfo. Estou farto de lutar em guerras", diz.

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