O Japão está atento ao complexo de Sines, e a Kawasaki Heavy Industries admite a possibilidade de desenvolver um terminal portuário para hidrogénio liquefeito (LH2) ), que comporte também gás natural liquefeito(LNG). A informação foi dada à CNN Portugal por Filipe Costa, presidente executivo do Conselho de Administração da AICEP Global Parques. Durante a semana passada, o CEO da empresa esteve no Japão, em contactos para estreitar a colaboração entre os dois países e procurar investimento em Portugal nas áreas da transição energética e digital.
Da conversa com a Kawasaki Heavy Industries ficou ainda a possível utilização em Portugal da sua nova turbina de produção de eletricidade por combustão de hidrogénio e/ou gás natural, que funciona só com um ou com outro, ou com qualquer mix dos dois (H2 e GN).
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A convicção de Filipe Costa é que “o Japão pode vir a ajudar Portugal a ser pioneiro no trânsito de hidrogénio liquefeito na Europa, e a ser o primeiro a ter um hub europeu de gases renováveis. Já Portugal, chama a atenção pelo exemplo de produção comercialmente viável de hidrogénio verde, que o Japão quer conhecer”, acrescenta o mesmo responsável.
Em representação da Zona Logística e Industrial de Sines, Filipe Costa participou na conferência internacional Japan Energy Summit, que decorreu em Tóquio, onde apresentou o caso daquela infraestrutura portuguesa num painel sobre “O Modelo Europeu: hidrogénio como chave para a transição energética”. Foi a oportunidade de apresentar um caso que vem despertando o interesse japonês: “a integração que temos feito no Sines Hydrogen Valley, onde combinamos um porto de mar essencialmente energético e ativos preexistentes como a central termoelétrica; com indústria energética, refinadora e química em acelerada transição energética; com fontes diversificadas de água e de eletricidade renovável, em preço e proximidade, para a produção de hidrogénio verde.”
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Segundo Filipe Costa, o objetivo desta ação foi “atrair mais investimentos de ‘logística da energia’ e de ‘indústria verde’” para Sines. Em causa estão, por exemplo, “projetos da dupla transição energética e digital”, sendo que a segunda implica a primeira, pois “o ‘digital’ de que estamos a falar é ‘economia digital’ e não ‘e-gov’ e materializa-se em grandes infraestruturas de telecomunicações – Estações de Amarração de Cabos de Centros de Dados – que ‘exigem’ ser providas por capacidade acrescentada de energia de fontes renováveis”.
Pioneiros em terminais de hidrogénio liquefeitoDe acordo com Filipe Costa, “há um grande interesse” na Ásia em geral, e no Japão em particular “na dinâmica de Portugal”, que está muito acima das metas europeias de transição energética (RePowerEU), e “na transição para eletricidade renovável até 2030, com melhores custos e com ganhos de competitividade para a nossa economia”. O interesse vai também para outra dinâmica: “a de Portugal estar a ganhar grandes projetos industriais ‘verdes’ (descarbonizados, eletrificados), cuja seleção de localização para instalação é agora conduzida pelo parceiro que vai fornecer eletricidade e não pelos próprios promotores do projeto industrial”.
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O complexo de Sines tem despertado interesse de investidores asiáticos, e muito se falou na possibilidade de empresas ligadas ao Estado chinês se chegarem à frente para as infraestruturas portuárias e logísticas de trânsito de carga contentorizada de Sines. Apesar de muita especulação, relacionada com o grande plano internacional de investimentos da China (Belt and Road Iniciative), não houve interesse chinês no concurso para o segundo terminal de contentores de Sines, que foi suspenso pela pandemia - e que deverá ser relançado em breve.
O Terminal de Contentores de Sines, atualmente em duplicação de capacidade de 2 para 4 milhões de contentores por ano, é concessionado à “PSA Sines”, uma joint-venture do operador portuário “PSA International”, de Singapura, com a “TIL” do armador ítalo-suíço “MSC - Mediterranean Shipping Company".
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Quanto ao Japão, “houve no passado participação, por exemplo da Tokyo Gas Engineering Solutions (TGES) no projeto do TGN – Terminal de Gás Natural de Sines; que importa, armazena, regasifica e injeta o gás natural em Portugal, na rede do MIBGAS”, lembra Filipe Costa.
À margem da “Cimeira Energética do Hidrogénio e do Gás Natural”, o responsável da AICEP manteve no Japão um programa de reuniões bilaterais com empresas desta área, como Tokyo Gas e Kawasaki Heavy Industries.
A importância dos investidores nipónicos também se relaciona com o know-how do país em terminais de gás natural (TGN) e terminais de hidrogénio liquefeito (TLH2). “O Japão, que tem 36 TGN, é talvez o país mais capaz em termos dessas tecnologias e provavelmente também da sua evolução presente e futura para terminais de hidrogénio liquefeito. Aliás, o primeiro TLH2 experimental do mundo é no Japão, no Porto de Kobe”, nota Filipe Costa. Ou seja, “o investimento e a tecnologia japoneses viriam certamente ajudar Sines a afirmar-se como um hub da Europa com o mundo não só para o LNG mas também, futuramente, para o LH2”.
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