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17 mortos, dois ataques em dois dias, 39 armas por cada 100 pessoas. Este país da Europa quer resolver o problema das armas de fogo

Apesar de os tiroteios ou ataques em massa não serem comuns, a Sérvia tem a quinta maior taxa de posse de armas civis do mundo, num ranking liderado pelos Estados Unidos. Estima-se que existam mais de 2 milhões e 700 mil armas civis no país

Dois tiroteios no espaço de apenas dois dias, um na quinta-feira, com um atirador num carro em movimento, outro na quarta-feira, realizado por um aluno numa escola, fizeram 17 mortos, 20 feridos e deixaram a Sérvia mergulhada num ambiente de choque e consternação. Esta sexta-feira, o país acordou de luto e o presidente Aleksandar Vucic fez uma declaração formal, com palavras duras e uma mensagem forte: "Haverá justiça. Estes monstros nunca mais verão a luz do dia, nem o monstro mais pequeno nem o monstro mais velho", prometeu.

O "monstro mais pequeno" a que o presidente da Sérvia se refere é o estudante de 14 anos que entrou numa escola de Belgrado e matou a tiro oito colegas e um segurança. Já o "monstro mais velho" é o homem que usou uma arma automática para disparar sobre várias pessoas a partir de um veículo em movimento, provocando oito mortos e pelo menos 13 feridos. Um ataque que foi classificado como "terrorista" pelo presidente Vucic. O chefe de Estado revelou que o atirador usava uma t-shirt com símbolos neonazis.

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Vestido de preto e de semblante carregado, o presidente Vucic dirgiu-se ao país para anunciar uma série de medidas com vista a melhorar a segurança. Entre as propostas está aquilo que designou de "desarmamento quase total" da Sérvia. O chefe de Estado quer um maior controlo do uso de armas e isso será feito da seguinte forma: com a instituição de uma moratória de dois anos sobre a emissão de licenças, controlos médicos e psicológicos frequentes a quem tiver licença para o porte de armas e penalizações mais duras para quem tiver armas ilegais.

Vamos fazer um desarmamento quase total da Sérvia. Devemos tomar esta decisão para enfrentar este mal", sublinhou o presidente.

Mas há mais: Vucic também anunciou que o governo vai contratar mais 1.200 agentes da polícia para garantir segurança nos estabelecimentos de ensino. De resto, o presidente só não foi mais longe porque o governo não quis: Vucic disse que apresentou uma proposta para a reintrodução da pena de morte, mas que o executivo não acolheu a medida.

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Nas últimas horas, e por causa dos ataques, a utilização e o controlo de armas tem gerado grande reflexão e debate no país.

Na quinta-feira, a polícia já tinha apelado aos cidadãos para manterem armas que tenham em casa protegidas e longe das crianças, sublinhando a importância de um maior controlo na sua utilização.

Sérvia tem a quinta maior taxa de posse de armas do mundo

Apesar de os tiroteios ou ataques em massa não serem muito comuns (antes destes, o último ataque tinha sido em 2013, quando um veterano de guerra matou 13 pessoas a tiro numa pequena vila), a Sérvia, com quase 7 milhões de habitantes, tem a quinta maior taxa de posse de armas civis do mundo, num ranking liderado pelos Estados Unidos.

Estima-se que existam mais de 2 milhões e 700 mil armas civis no país: são cerca de 39 armas por cada 100 pessoas, de acordo com os dados do Geneva Graduate Institute. No entanto, apenas 44% dessas armas estão oficialmente registadas.

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Os números impressionam mas têm uma explicação: resultam de um legado de intensos conflitos nos anos 90, desde que se iniciaram os movimentos de desintegração do território que formava a antiga Jugoslávia. Um passado que se revela não só no elevado número de armas, mas também num ambiente político que ainda hoje é de grandes divisões e de permanente instabilidade. E há muito que os especialistas vinham a alertar para a combinação explosiva de todos estes fatores.

Estivemos num clima de violência durante muito tempo e as crianças copiam os modelos. Temos de eliminar os modelos negativos e criar diferentes sistemas de valores", afirmou o psicólogo Zarko Trebjesanin ao canal N1.

Ataque em escola: aluno tinha desenhos e lista de colegas a matar

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À porta da escola Vladislav Ribnikar, em Belgrado, esta manhã, centenas de pessoas choraram a morte de oito crianças e de um segurança, vítimas do ataque de quarta-feira. No estabelecimento de ensino, delimitado por um perímetro de segurança, foram deixadas flores, velas, pequenos peluches, roupa de ballet e várias mensagens em homenagem às vítimas.

Sete raparigas e um rapaz foram declarados mortos no local - teriam entre 13 e 14 anos. Uma das vítimas era de nacionalidade francesa, de acordo com a informação divulgada pelo ministro francês dos Negócios Estrangeiros.

Outros seis alunos e uma professora ficaram feridos, uma rapariga que foi alvejada na cabeça permanece internada no hospital em estado crítico, enquanto um rapaz que apresenta lesões na coluna tem também prognóstico reservado.

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O atirador é um rapaz de 14 anos, aluno na escola desde 2019, que usou duas armas do pai. O jovem terá planeado o ataque durante cerca de um mês. A polícia encontrou vários desenhos da escola e uma lista dos colegas que eram os alvos a abater.

Foi o próprio rapaz que chamou a polícia ao local, tendo sido detido no pátio da escola. Para já, desconhecem-se as motivações do ataque. Como é demasiado novo para ser levado à justiça, o estudante deverá ser internado numa instituição psiquiátrica. Os pais foram detidos.

“É inimaginável pensar. Aquilo pelo qual as crianças passaram e os professores... Os professores que tentaram proteger as crianças”, lamentou o ministro da Educação, Branko Ruzic, em conferência de imprensa.

Na sequência do ataque, o governo sérvio decretou três dias de luto nacional. Mas, 24 horas depois, um novo tiroteio iria abalar novamente o país.

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Segundo ataque: oito pessoas assassinadas após discussão com polícia

Foi na noite desta quinta-feira. Com uma arma automática, e num carro em movimento, um homem matou oito pessoas e feriu pelo menos 13, em várias localidades perto da cidade Mladenovac, a cerca de 60 quilómetros a sul de Belgrado. Primeiro o atirador disparou em Dubona, depois em Malo Orašje e em Šepšin.

Um agente da polícia e a irmã estão entre as vítimas mortais em Malo Orašje. Dois feridos, com 21 e 23 anos, foram operados e encontram-se com prognóstico muito reservado.

De acordo com a imprensa sérvia, o ataque terá começado depois de uma discussão entre o atirador e um agente da polícia num parque em Dubona.

Depois de ter matado várias pessoas, o indivíduo pôs-se em fuga, mas 600 agentes da polícia foram colocados no terreno numa megaoperação de caça ao homem. O suspeito acabou por ser detido algumas horas depois em Kragujevac.

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