Com o atual cenário de guerra na Europa, a crise energética e inflação, cerca de metade dos empregadores admite sentir-se pouco ou nada otimista em relação ao clima económico global e às oportunidades de emprego que este possa gerar nos próximos dois a cinco anos. No entanto, 26% dos empregadores portugueses optam por um sentimento de neutralidade e 25% indicam mesmo que se sentem otimistas. No que toca às previsões de recrutamento para 2023, apesar do panorama económico instável, ainda não há fortes sinais de abrandamento: 82% dos empregadores pretendem contratar no próximo ano. Mas, cada vez menos profissionais demonstram vontade em mudar de trabalho, revela o guia anual da Hays.
“Apesar dos desafios que o mundo vive à data de fecho desta edição – a guerra na Ucrânia, uma potencial crise energética e as já muito discutidas dificuldades na cadeia de produção e distribuição – as empresas portuguesas querem continuar a reforçar as suas estruturas de forma muito semelhante a 2022. Um claro sinal de que, após uma crise pandémica, já muito pouco nos assusta ou surpreende”, começa por comentar Paula Baptista, managing director da Hays Portugal, citada no guia referente a 2023.
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“Teremos, no entanto, de saber navegar um mercado de trabalho em plena transformação, onde cada vez menos profissionais qualificados demonstram interesse em mudar de emprego”, alerta.
A “esmagadora maioria” — das 800 empresas que participaram no estudo da consultora — conta recrutar no próximo ano: 82%. O valor está em linha com os verificados em anos de crescimento como 2018, 2019 e 2020, mas constitui uma ligeira quebra de dois pontos percentuais relativamente ao valor recorde verificado em 2022, ano de recuperação no recrutamento, após a incerteza inicial da pandemia.
A grande maioria (81%) dos empregadores que afirmam que vão contratar em 2023 pretendem contratar colaboradores em regime permanente, enquanto 17% deverão contratar colaboradores temporários. Apenas 7% optarão por freelancers e contractors. No entanto, estes planos de contratação podem revelar-se particularmente desafiantes para as empresas em Portugal.
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“Num mercado que historicamente tem relevado escassez global de talento qualificado, 2023 deverá apresentar-se como mais um ano de quebra no interesse dos profissionais em mudar de emprego. Ainda que 70% dos profissionais demonstrem vontade de mudança, este valor constitui uma quebra de quatro pontos percentuais comparativamente ao ano anterior e surge no seguimento de uma curva descendente que teve início em 2022. É necessário recuar até 2019 para encontrar uma percentagem tão baixa quanto a apontada para 2023″, pode ler-se no relatório.
63% dos profissionais estão insatisfeitos com salário que recebemTorna-se, assim, crucial começar a pensar nos desafios que se preveem, desde logo na questão salarial, que será um tema central em 2023. “Trata-se de um dos fatores de maior insatisfação por parte dos profissionais qualificados, tendo aumentado de forma muito significativa quando comparado com o ano 2021 (de 52% para 63%)”, afirma Paula Baptista.
“Apesar da maioria dos empregadores ter efetuado aumentos salariais, os profissionais estão mais insatisfeitos do que nunca a este nível. Será este um efeito natural da inflação, que tornou estes aumentos insuficientes? Ou será que as atualizações salariais que existiram não foram, logo à partida, ao encontro das expectativas da maior parte dos profissionais?”, questiona a gestora.
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As empresas portuguesas querem continuar a reforçar as suas estruturas de forma muito semelhante a 2022. (…) Teremos, no entanto, de saber navegar um mercado de trabalho em plena transformação, onde cada vez menos profissionais qualificados demonstram interesse em mudar de emprego", Paula Baptista, Managing director da Hays Portugal.
E as expectativas para 2023 não são mais animadoras. Durante o próximo ano, só 7% das empresas vão atualizar salários acima de 10%, de modo a compensar a perda do poder de compra decorrente da subida da inflação esperada para este ano (8% segundo as previsões da Comissão Europeia ou de 7,4% nas do Executivo). A esmagadora maioria (61%) das organizações não dará aumentos superiores a 4,9%.
Contudo, a insatisfação dos profissionais pode não ser, por si só, suficiente para motivar uma mudança de emprego, sobretudo porque os profissionais parecem estar mais cautelosos em relação à mudança e podem ter expectativas desajustadas relativamente ao que os empregadores podem ou planeiam oferecer.
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A disponibilidade para uma mudança de emprego caiu em relação ao ano anterior, situando-se agora nos 70% – será preciso recuar a 2019 (período pré-pandemia) para encontrar valores semelhantes. Por outro, as necessidades de recrutamento dos empregadores mantêm-se elevadas, na casa dos 80%, tendo descido apenas dois pontos percentuais em comparação com 2021.
Perfis IT, engenheiros, comerciais e administrativos no pódio da procuraJá no que toca aos perfis mais procurados pelos empregadores em 2023, a Hays destaca os de tecnologias da informação (com 30% dos empregadores), engenheiros (28%), comerciais (26%) e administrativos/suporte (17%).
Enquanto os primeiros três registam uma ligeira quebra nas intenções de recrutamento comparativamente ao ano anterior, os perfis administrativos e de suporte sobem este ano para a quarta posição da tabela, ultrapassando os perfis de marketing e comunicação (estes, com uma quebra de três pontos percentuais). Também os perfis financeiros, de logística/supply chain e de apoio ao cliente estão ligeiramente acima do último ano.
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“O facto de as empresas com centros de serviços partilhados em Portugal apresentarem intenções de recrutamento muito superiores às restantes (89% vs 79%), poderá ajudar a explicar este aumento no interesse por perfis administrativos, financeiros e de apoio ao cliente”, considera a consultora no documento.
Entre as engenharias mais procuradas, estarão a engenharia mecânica, engenharia e gestão industrial, engenharia eletrotécnica, engenharia civil e engenharia industrial e da qualidade. Destaque ainda para a engenharia do ambiente, que entrou este ano para o top 10 da tabela de preferências dos empregadores, quase duplicando os valores do ano anterior.
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