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Depois das reformas, as licenças sem vencimento para trabalhar fora das escolas. "Ninguém quer ser professor"

Ao contrário do ensino público, nos colégios privados as aposentações de professores pouco se sentem

Os números ajudam a explicar a vaga nunca vista de aposentações de professores no ensino público: 57% dos professores do público têm mais de 50 anos. Pelo contrário, no privado são apenas 24%, como revelam os últimos dados da Direção-Geral de Estatísticas da Educação e Ciência.

Rodrigo Queiroz e Melo, da Associação de Estabelecimentos de Ensino Particular e Cooperativo, admite que os privados também já sentem a falta de docentes – "já não temos tantos currículos para escolher" –, mas o problema está longe de ser tão grave como no público, onde as escolas têm pouca margem e autonomia para melhorar as condições aos docentes.

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A falta de professores nas escolas públicas é um problema que se vai agravar nos próximos anos com o mais que previsível crescimento das reformas, avisa Luís Catela Nunes, professor na Universidade Nova de Lisboa e especialista em Educação, que defende medidas de emergência para evitar que os alunos fiquem sem aulas.

"Quase nada foi feito para tornar a carreira docente mais atrativa", afirma o investigador que em 2021 liderou um estudo encomendado pelo Ministério da Educação para perceber as necessidades de docentes até 2030.

"Ninguém quer ser professor", constata o presidente Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos de Escolas Públicas, que já chegou a fazer essa pergunta aos alunos da sua escola e não viu um único dedo no ar.

Além das aposentações, Filinto Lima está preocupado com outro fenómeno: há cada vez mais professores dos quadros a pedirem licença sem vencimento para trabalhar noutras áreas, numa altura de quase pleno emprego na economia em que é fácil encontrar um emprego noutra área a ganhar mais e com melhores perspectivas de progressão na carreira.

Paulo Maeiro é um desses casos: professor de Química e Física no Alentejo, chegou a ser diretor da sua escola em Odemira. Era docente há duas décadas, ganhava cerca de 1.300 euros limpos por mês e estava cansado de perder poder de compra. Este ano letivo, no entanto, não vai entrar numa sala de aula – pediu licença sem vencimento e foi trabalhar para outra área.

"Por mais paixão que tenhamos por ensinar os nossos alunos e estarmos envolvidos na comunidade, não é suficiente para mitigar a diferença salarial. O mercado cá fora é muito mais apelativo que o ensino e eu nem estava afastado de casa e tinha estabilidade, mas a diferença hoje é abismal", conclui o professor que tão cedo não espera voltar a dar aulas.

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