Quando, no final de 2018, surgiram as primeiras notícias sobre o partido que André Ventura estava a criar, houve uma ideia que se colou à imagem do partido: a de que queria “proibir o casamento homossexual”.
André Ventura procurou explicar que defendia um enquadramento jurídico diferente, recordando que a expressão “casamento” remete para uma tradição religiosa, onde essa união acontece apenas entre homens e mulheres. No caso dos homossexuais, dizia o fundador do partido, devia falar-se de uma união civil.
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Mas a ideia de proibir o casamento homossexual ganhou adeptos entre as bases do Chega. Agora, com presença reforçada no Parlamento, André Ventura vinca mais uma vez que, nesta questão concreta, se diferencia de quem o apoia.
“Enquanto eu for líder do Chega, isso não vai acontecer [proibir o casamento homossexual]. Não penso que seja uma proposta que se enquadra naquilo que o Chega tem defendido. Defender o modelo de família tradicional não significa atacar outros modelos. Nenhuma proposta passará por atacar ou destruir qualquer outro modelo de família. Não quero tirar direitos a ninguém”, afirma agora numa conversa com a CNN Portugal.
No programa político com que o Chega se apresentou às legislativas de janeiro, não surge qualquer referência à homossexualidade. Lê-se apenas que o partido “respeita outros modelos diferentes de partilha de vida comum” e que considera “a família natural, baseada na relação íntima entre uma mulher e um homem”.
No programa político anterior, essa referência à homossexualidade era direta, com o partido a defender “o fim da promoção, pelo Estado, de incentivos e medidas que institucionalizem os casamentos entre homossexuais e a adoção de crianças por ‘casais’ homossexuais”.
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Confrontado sobre essas vozes mais radicais no Chega, que insistem, entre outros, na proibição do casamento homossexual, o fundador do partido deixa o recado: “quem tiver propostas mais radicais, tem hipótese nos momentos eleitorais do partido”.
“Não diria moderado”, apenas diversificadoAndré Ventura chegou ao Parlamento como deputado único mas tem agora mais 11 deputados a fazerem-lhe companhia. “É diferente. Estava habituado a conjugar os esforços sozinhos”, conta André Ventura nesta conversa com a CNN Portugal.
Mais braços colocam o partido entre os mais produtivos nas iniciativas legislativas mas, numa análise ao conteúdo, percebe-se que na primeira fase não entraram propostas com o nível de polémica a que o Chega habitou os portugueses. Está o partido mais moderado? Ventura discorda.
“Não diria moderado. A nossa obrigação também é falar para outro tipo de eleitorado. Quando era um só, o meu pensamento e estilo eram conhecidos. Tinha tendência para focar em assuntos que domino mais, onde estou mais à-vontade”, afirma. Mas há bandeiras que não estão esquecidas, como a castração química de pedófilos reincidentes, tema a que André Ventura promete voltar ainda em 2022.
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Entre as propostas apresentadas estão a pensão mínima para ex-combatentes, a reversão da extinção da SEF ou um subsídio para as forças de segurança.
Há um novo perfil de propostas que o Chega quer surfar nesta nova fase do Parlamento, para “falar para todos os tipos de eleitorados, para todos os tipos de questões”.
“Vamos voltar muito à carga com a questão fiscal”, traça André Ventura. Além de propostas para reduzir a progressividade do IRS, “em contraciclo com o PS”, o Chega quer acabar com o IMI, o imposto pago por quem é dono de uma casa.
Para já, o partido propôs a isenção do IMI durante o período do Plano de Recuperação e Resiliência, mas a meta seria acabar com este “imposto estúpido”, como o define André Ventura. Mas, antes de avançar, é preciso perceber como compensar a perda de receita em impostos para o Estado.
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