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aNZIA "verde"

Com todos os acontecimentos a decorrer em Portugal e no Mundo, resta pouco oxigénio para discutir os temas que não fazem primeira página. No Parlamento Europeu, o NZIA (Net Zero Industry Act) foi aprovado, passando a fusão e fissão nucleares a ser consideradas indústrias estratégicas para atingir a neutralidade carbónica na União Europeia (UE).

As votações recentes no Parlamento Europeu terão implicações abrangentes nas vidas dos cidadãos europeus. A consensual legislação “Right to Repair” foi aprovada pela quase totalidade do plenário. Bem executada, esta política pode reduzir significativamente os resíduos eletrónicos. O já referido NZIA foi aprovado por 75% do plenário, contando com os votos a favor dos eurodeputados portugueses do PS, PSD e CDS-PP. No Parlamento Português tanto PS como PSD tinham votado favoravelmente uma proposta do PAN de condenação à inclusão da energia nuclear na taxonomia europeia. Aqui ao lado, em Espanha, acontece a mesma dicotomia. Teresa Ribera, ministra da transição energética, apoia a energia nuclear na Europa, mas tem como bandeira política o encerramento das centrais nucleares espanholas. “Estes são os meus princípios…”

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A votação favorável do NZIA por parte do Parlamento Europeu torna-se óbvio face à situação mundial: Reino Unido e Coreia do Sul assinaram um acordo de colaboração para fomentar as suas indústrias nucleares civis; Um grupo de países pretende juntar-se aos Estados Unidos no compromisso de triplicar a capacidade nuclear mundial para combater as alterações climáticas; A própria Comissão Europeia lançou uma aliança industrial para a implantação de Reatores Nucleares Pequenos Modulares (SMR- Small Modular Reactors).

O ambientalismo tradicional enfrenta o seu momento de verdade. Os verdes europeus congratularam-se com o encerramento das centrais nucleares alemãs, mas não demonstram a mesma exuberância quando a Alemanha reativa centrais a carvão e faz acordos para comprar gás natural à Nigéria. O ambientalismo tradicional fechou-se numa bolha anti-científica e anti-tecnológica. Bolha essa que está a rebentar lá fora e também em Portugal, na senda dos escândalos relacionados com energias verdes, como relata o Huffington Post. Não só muitos dos investimentos em energia não fazem sentido económico, como minam a confiança do público da transição energética, numa altura em que Portugal tem a maior pobreza energética da UE. Um estudo recente do ISCTE conclui ainda que a forma simplista como a discussão sobre energias renováveis e transição energética tem sido conduzida nos media tem alimentado o populismo de extrema-direita. Numa altura em que deveríamos estar a considerar todas as opções e todos os dados de modo racional, há quem ainda insista em reproduzir o fiasco alemão no nosso país, contribuindo com zero para a questão ambiental sem resolver a questão da nossa dependência energética.

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Mas pouco a pouco a realidade impõe-se. A Ordem dos Engenheiros organizou a conferência “Análise Estratégica da Energia Nuclear”, visível aqui: parte 1, parte 2. Grupos como a associação estudantil Nuclear Vision Portugalcomeçam a organizar ações de divulgação e a pedir um debate político sério sobre descarbonização. Este grupo estudantil vai marcar presença na próxima COP28, prestes a começar nos Emirados Árabes Unidos. Esta COP poderá ter a maior afluência de sempre e será sem dúvida a mais ambiciosa de todos os tempos no tópico nuclear. Urge que nesta COP se reforce a ideia de que olhar para os dados sem palas ideológicas é fundamental. A conferência é altamente criticada por tomar lugar num estado autoritário produtor de combustíveis fósseis. Mas, olhando para os dados, é também o estado que mais eletricidade de baixo carbono adicionou per capita à sua rede elétrica nos dez anos 2012-2022. Se no plano democrático o anfitrião deixa muito a desejar, no plano energético surge como um dos melhores exemplos internacionais. Os dados, quando analisados friamente, muitas vezes surpreendem.

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Cortesia Richard Ollington, Radiant Energy Group

Espero que os partidos democratas oiçam atentamente o eleitorado, estudem os dados que existem, e adaptem as suas políticas de modo a não alhear ainda mais os Portugueses nas eleições que se avizinham. Não é vergonha corrigirmos as nossas posições quando nos são apresentadas novas evidências: é esperado que o façamos.

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