Começaram a chamar-lhe "Rua Verde" quando em plena pandemia se transformou num pequeno jardim no coração de uma das zonas mais antigas de Lisboa: os carros foram proibidos, as esplanadas ocuparam a estrada, os passeios foram decorados com inúmeras plantas e o movimento de pessoas tornou-se constante. Depressa, esta rua tão estreita da cidade, ali bem perto do bairro de Santos, começou a atrair não só locais, como muitos turistas e curiosos. O fenómeno de bairro estendeu-se às redes sociais: a "Rua Verde" passou a "Green Street" e até lhe foi criada uma página no Instagram. "Uma rua mágica", diz quem lá passava. Tudo isto mudou radicalmente, no entanto, há poucos dias. Para muitos, o cenário encontrado agora é desolador.
No meio do caos da terceira pop-up na Almirante Reis, tiram as esplanadas da rua mais mágica e verde: a Green Street na Misericórdia. Para escoar o transito, certo? @Moedas@Angelo_fPereirapic.twitter.com/LfOy5SxzqH
— LisboaPossível (@LisboaPossivel) May 26, 2022
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Procurámos a explicação para uma mudança tão abrupta na rua que, na verdade, não é ‘green’ nem sequer é 'verde' mas Rua da Silva, de seu nome. A presidente da Junta de Freguesia da Misericórdia, Carla Madeira (PS), afirma à CNN Portugal que as esplanadas deixaram de existir porque as licenças eram temporárias: foram concedidas especialmente para o período da pandemia, numa altura em que a Direção-Geral da Saúde recomendava o distanciamento social e os convívios ao ar livre.
“Foi um projeto criado na pandemia para criar clientes fora dos estabelecimentos. Criou-se uma zona de esplanadas, com licenças que foram prorrogadas. Estas esplanadas eram provisórias e estas licenças provisórias acabaram a 31 de março. A partir de 1 de abril ou passavam a esplanadas definitivas ou eram retiradas”, refere.
As licenças são atribuídas pela junta de freguesia, mas é a Câmara Municipal que dá a autorização para o condicionamento do trânsito na rua. E sem essa autorização não é possível fechar a rua aos automóveis e permitir mesas e cadeiras na estrada.
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Mas desde cedo, frisa Carla Madeira, a junta mostrou interesse em que o projeto pensado apenas para a pandemia se tornasse definitivo. “É um projeto positivo. Um projeto que era provisório, mas que tinha condições para se tornar definitivo”, sublinha. E foi isso que foi transmitido à autarquia em fevereiro e depois também em março. “Informámos a câmara e pedimos pareceres de condicionamento de trânsito”, acrescenta.
Entretanto, a responsável diz que a junta de freguesia foi “informando periodicamente” os estabelecimentos de que tinham de retirar as esplanadas porque “não havia autorização de condicionamento de trânsito”.
Apesar disso, a rua continuou “verde” para lá de 31 de março. As esplanadas "continuaram sem autorização”, vinca Carla Madeira.
Só há poucos dias os proprietários acabaram por retirar as mesas e as cadeiras que ocupavam a estrada. As fotografias partilhadas nas redes sociais com automóveis estacionados onde outrora havia espaços de convívio geraram grande indignação.
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Confirma-se. Quem quiser esplanada na rua verde tem de pedir licença. Acabou a liberalização permitida pela covid-19 q tanta vida deu à rua - e aos negócios. Entretanto, já se pode estacionar. pic.twitter.com/triA6QVRsd
— Rui Oliveira Marques (@ruiomarques) May 26, 2022
Mas há boas notícias para quem já tem saudades de desfrutar em pleno da rua com mais plantas da cidade: a Junta de Freguesia da Misericórdia revela à CNN Portugal que recebeu esta semana o parecer da câmara para o condicionamento do trânsito, ou seja, a autorização que faltava para fechar a rua aos automóveis.
Carla Madeira adianta que a junta já está a recolher os pedidos de licenciamento para dar luz verde às esplanadas. Uma informação que é confirmada por Catarina Vieira, gerente do restaurante "A Obra". "Nós já hoje vamos ter esplanada", acrescenta.
A Junta da Misericórdia está confiante de que “dentro de dias” a Rua da Silva volte a ser “Verde” (ou “Green”), mesmo a tempo dos Santos Populares.
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