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Álvaro saiu de casa para ir ao jardim, mas acabou no comício da CDU

No jardim da Cova da Piedade, em Almada, um pequeno palco com as letras da CDU, instalado à frente do coreto, aguardava a chegada dos membros do partido. No mesmo local, houve quem não quisesse arredar pé de uma tarde de sábado ao sol, e por lá ficou a assistir. Foi então que surgiu Álvaro Freitas

No território que vestiu o vermelho durante 41 anos, alguns apoiantes vão marcando lugar antes do comício. É enquanto esperam, que João Oliveira lidera pela primeira vez a arruada da CDU como substituto de João Ferreira, que por sua vez representaria Jerónimo de Sousa na campanha. Segue as pisadas do secretário-geral do PCP, a caminho do jardim da Cova da Piedade, na cidade de Almada. Esta que, desde 2017, está sob o domínio do Partido Socialista. 

Sentado num banco do jardim está Álvaro Freitas, de 88 anos, a observar o que aí vem. Como é habitual desde que ficou viúvo, almoçou ali perto e decidiu aproveitar uma tarde pacata ao sol. Não estava nos seus planos assistir a um comício da CDU mas, já que ali está, não quer perder a oportunidade. "Vejo e tenho muito gosto em ver", assume. Pode ser que lhe sirva de inspiração para dia 30. 

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Álvaro vive em Almada há cerca de 60 anos e gosta de fazer a sua vida sozinho. No dia anterior, por exemplo, terminou mais uma refeição nas redondezas e apanhou um transporte até Setúbal. "Porque não?", questiona-se. Tem uma filha, que "anda lá na casa dela", já ele tem muito tempo, não ganha muito mas garante que é o suficiente para comer. "Trabalhei dos 11 aos 70 anos, cumpri o meu dever". 

Dirige o olhar às bandeiras azuis da CDU. Embora os óculos escuros e a máscara cirúrgica não denunciem qualquer tipo de expressão, estava certamente a recordar o passado. Vivi num regime salazarista antes das primeiras eleições livres, "mas era o que tinha", até surgir a União Democrática Popular, em 1974. Desde então, só votou nesse partido. 

"Eu já sou velhote, imagine há quanto tempo acabou a UDP". Atualmente dirige-se todos os anos à mesa de voto e faz um risco, de alto a baixo, no boletim. Está indeciso, vê todos os partidos da mesma forma. Todos, menos um: o Chega. "O meu voto não leva de certezinha", garante. "É triste ficar em terceiro lugar nas sondagens, mas essas às vezes também não dizem nada". Já a Jerónimo de Sousa deseja-lha rápidas melhoras. "Já está como eu, a ficar velho", ri-se. 

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"Nas modernices está mais complicado"

Questionado sobre as alterações que o país sofreu ao longo dos anos, retira um telemóvel do bolso interior do casaco e mostra-o. "Tenho dois assim como deve ser, mas não sei trabalhar com isto", reclama. "Nas modernices está mais complicado", mas não são apenas as "modernices" tecnológicas que o inquietam, é também a dificuldade de comunicar com a Junta de Freguesia. Algo que, a seu ver, pouco depois do 25 de abril não acontecia. "Uma vez fui lá porque a rua estava suja", lembra. "Deram-me um número e acabaram por não resolver nada". O mesmo aconteceu quando mostrou interesse em participar numa assembleia. "Agora sacodem-nos, isso está bom para os jovens, já eu estou velho para isso". 

Apesar das adversidades, Álvaro conclui que, de facto as "coisas estão melhores" e que as pessoas devem efetivamente votar, recordando: "Antes do 25 de abril ninguém o podia fazer".

De repente, "a CDU avança com toda a confiança" faz-se ouvir ao longe, em uníssono. O local que outrora estava consideravelmente vazio, rapidamente se encheu de militantes e bandeiras ao som de tambores e gaita-de-foles. "Façam agora as sondagens!", grita um dos presentes à comunicação social. Álvaro permanece imóvel, ficará ali para ouvir as declarações dos dirigentes.

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