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Biden desastrado num debate desastroso para democratas desesperados: “Estamos f***”

Donald Trump mente com cada dente mas a surpresa veio do outro lado, de um Joe Biden à deriva e sem força sequer nas suas próprias forças. Um desastre… em câmara lenta

Podia ter sido apenas uma falsa partida, mas Joe Biden perdeu. Perdeu copiosamente. E perdeu mais do que o debate desta madrugada com Donald Trump: perdeu a confiança numa vitória de muitos dos seus apoiantes. Ainda o debate decorria e já repórteres da CNN relatavam os desabafos e as incredulidades de membros do partido democrata: “Estamos f***”. O debate acabou e a dúvida começou a ser verbalizada: poderá Biden ainda ser substituído na corrida à Casa Branca?

A resposta é que provavelmente não, até porque não há um candidato óbvio na reserva – e mesmo a vice-presidente Kamala Harris (que reconheceria que “foi um arranque lento” de Biden) está longe de ter aquecido os corações democratas no exercício do cargo. Mas nem é a resposta que é significativa: é o mero facto de haver pergunta.

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Que mal fez Biden, afinal? Foi lerdo, arrastou-se, perdeu-se na forma. E claudicou onde se esperava que fosse inapelável, em áreas chave destas eleições, como a imigração e o aborto.

“Foi penoso”, disse o comentador da CNN Van Jones, “eu adoro Joe Biden… ele não esteve bem… ele não esteve bem…” Esteve tão mal que as repetidas mentiras de Trump passaram para segundo plano.

As falhas de Biden

Há um momento doloroso no debate, ainda não tinham passado 20 minutos: Joe Biden perde-se na resposta, esquece-se primeiro de palavras, depois da frase em que está, fica à deriva, como se suspenso à espera de um ato de misericórdia, que veio quando o pivô da CNN acaba com o estertor dando a resposta como concluída, “obrigado, senhor Biden”. O momento equivale ao autogolo da Turquia contra Portugal, naquele momento sabes que perdeste. E se a palavra “energia” tinha marcado as antevisões do debate, pela necessidade de Biden se mostrar vivaz e em controlo, foi a falta dela que se viu: Biden apático, de voz enfraquecida, de boca aberta, resposta lenta. E só isso bastaria para ele ter perdido. É a questão da idade, que marca estas eleições entre Biden (81 anos) e Donald Trump (78 anos).

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As mentiras de Trump

A verificação de factos feita durante a após o debate são inclementes mas a impunidade com que Donald Trump mente é notável:

  • disse que quase 100% do financiamento da NATO é pago por americanos, o que é falso. Em 2016 eram 22% das contribuições diretas;
  • -afirmou que os imigrantes estão a entrar nos EUA e "estes assassinos estão a entrar no nosso país e estão a violar e a matar mulheres", mas há mais imigração e menos crime e menos homicídios, além de que não há relação comprovada entre imigração e crime;
  • acusou Nancy Pelosi de ter dito, numa gravação para a filha, que foi responsável pela falta de resposta à invasão do Capitólio de 6 de janeiro, porque Trump timha colocado 10 mil soldados e a Guarda Nacional à disposição e ela recusou-os, o que é mentira;
  • garantiu que o Supremo Tribunal dos EUA "aprovou" a pílula abortiva mifepristona, o que é falso: o tribunal não "aprovou" o medicamento, decidiu que os médicos e os grupos anti-aborto que tinham contestado o acesso ao medicamento não tinham legitimidade para colocar um processo;
  • autocitou-se para mostrar que, no discurso de 6 de janeiro, enquanto apoiantes seus invadiam o Capitólio dos EUA, disse para eles terminarem “Eu disse: 'pacífica e patrioticamente”. Isto é altamente enganador: Trump usou essas palavras durante o seu discurso mas também disse aos seus apoiantes que "já não teriam um país" se não marchassem até ao Capitólio dos EUA e "lutassem como o diabo" contra uma eleição "roubada".
  • disse que “fez o maior corte de impostos na história” quando foi presidente, o que é errado;
  • declarou, ao falar sobre o Médio Oriente e o ataque do Hamas a Israel, a 7 de outubro, que "não houve terror durante a minha administração", o que é falso, mesmo que ele se estivesse a referir especificamente a ataques de extremistas islâmicos: houve vários ataques terroristas durante a presidência de Trump. Aliás, no seu discurso sobre o Estado da União em 2018, Trump culpou as políticas de imigração por "dois ataques terroristas em Nova Iorque" só nas "últimas semanas".
  •  defendeu que os EUA têm atualmente o maior défice comercial com a China, o que é falso
  • alegou que os “milhões e milhões de pessoas que estão a chegar” estão a entrar na Segurança Social e vão acabar com ela, o que está errado: o contrário, aliás, é que é verdade, a Segurança Social está a ter mais receitas com os imigrantes;
  • repetiu que os democratas matam bebés no “oitavo mês, no nono mês de gravidez, ou mesmo depois do nascimento”, o que é uma mentira disparatada;
  • repetiu que a eleição de 2020 foi uma fraude, o que é falso…

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… e vamos parar por aqui. As confirmações de factos podem ser lidas na CNN, há muitas mais, a ideia foi demonstrar que Trump mente sem pensar duas vezes.

A mentira vende? A mentira vence?

O problema é que Biden não foi sequer eficaz em demonstrar as mentiras de Trump, mesmo quando elas nem eram novas. "Trump estava a pegar num universo construído sobre uma casa de mentiras e a construir um mundo inteiro para os milhões de pessoas que estavam a assistir", disse Abby Phillip, da CNN. "Esse mundo que ele foi capaz de construir não foi derrubado pelo presidente [Biden]. Esse é realmente o cerne do problema".

Biden disse muitas vezes “mentira” e “mentiroso”, mas de pouco lhe serviu. Os dois homens que não apertaram a mão um ao outro nem no início, nem no final, estavam com caras bem diferentes. Biden saiu pela esquerda baixa, Trump tinha um sorrisinho na boca.

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O que fazer depois disto? A própria Kamala Harris parecia combalida quando foi entrevistada pela CNN. Houve várias justificações, desde uma constipação anterior de Biden até ao sublinhar que o que interessam não são uns minutos na televisão mas três anos e meio na Casa Branca.

É costume dizer-se que a maioria dos eleitores já sabem em que votarão – e que os debates televisivos servem apenas para mobilizar votos e para conquistar indecisos. Mas ou Biden recupera deste choque em câmara lenta desta noite, ou pode até ter perdido alguns eleitores que estavam convencidos a votar nele – mas perderam a confiança não nele, mas na capacidade de fazer mais quatro anos depois destes 81.

Veja aqui os pormenores e os temas mais debatidos11 conclusões do debate

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