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Mulher foi executada na praça pública em Kherson, de onde chegam relatos de terror

Tetyana Mudryenko ficou conhecida por não se vergar aos ocupantes

Capturada pelas forças russas logo no início da guerra na Ucrânia, a região de Kherson é agora palco de terror. Apesar de ser esperada uma retirada das tropas de Moscovo, quem lá vive não se esquece do que foram os últimos meses.

É o caso de Natalia Chorna, que desde o início avisou a sua irmã sobre reclamações e protestos contra a presença russa na região. Avisos em vão, uma vez que Tetyana Mudryenko acabou morta em praça pública, tudo por ter afirmado que a sua cidade natal, Skadovsk, era território ucraniano.

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Com efeito, desde 30 de setembro que a Rússia não reconhece esse cenário, depois de ter anexado a região, tal como fez com Donetsk, Lugansk e Zaporizhzhia, na sequência de referendos que foram criticados pela comunidade internacional.

De acordo com várias testemunhas, e com a propria Natalia Chorna, Tetyana Mudryenko foi arrastada pelas ruas por funcionários das autoridades apontadas por Moscovo, acabando enforcada numa execução pública.

“Na ocupada Skadovsk não podes ter a tua opinião”, afirma Natalia Chorna ao Financial Times, a quem relatou um cenário de terror naquela localidade para todos os que ousam a desafiar a autoridade imposta pelo Kremlin.

Para Tetyana Mudryenko o fim foi o pior, mas aqueles que sobrevivem vivem sobre constante ameaça: os cerca de 15 mil habitantes da vila costeira são presos ou roubados dos seus pertences diariamente quando protestam contra os ocupantes.

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No caso desta mulher, uma pediatra de profissão, o seu fim foi consequência de várias confrontações com as tropas russas. Natalia Chorna lembra como, num dia, as duas colocaram balaclavas e Tetyana Mudryenko confrontou um grupo de soldados russos.

“Ela olhou para o orc, mesmo nos olhos dele, e perguntou: ‘Porque estás aqui? Vais disparar sobre mim’?”, recordou a irmã, que descreveu depois um caso mais recente, mesmo antes da morte da mulher. Tetyana Mudryenko repreendeu um polícia ucraniano e gritou “Skadovsk é Ucrânia”. Natalia Chorna soube de tudo à distância, uma vez que fugiu para Dnipro em abril. E foi também à distância que soube do rapto da irmã, levada, com o marido, por polícias ucranianos que estavam a colaborar com a Rússia.

Durante dias ninguém soube do casal, até que, uma semana depois, Natalia Chorna recebeu a chamada de uma mulher a contar que a irmã tinha sido executada na praça pública.

“Colocaram-lhe algo na boca e depois enforcaram-na em frente ao tribunal”, disse, acrescentando que o marido da irmã tinha sido libertado com um braço partido e outros sinais de violência. Depois disso foi autorizado a enterrar o corpo da mulher.

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Empenhada em saber o que tinha acontecido exatamente, Natalia Chorna ligou para a morgue local a pedir a confirmação da morte da irmã. No serviço começaram por recusar falar com ela, mas acabaram por confirmar a morte, acrescentando que a causa do óbito era “asfixia mecânica”, o que significa que tinha sido aplicada uma forte pressão sobre o pescoço da vítima.

Natalia Chorna não conseguiu confirmar a veracidade da história, mas o Financial Times reviu a certidão de óbito e as mensagens de texto que confirmam a versão do enforcamento.

O caso de Tetyana Mudryenko é mais um entre vários. A organização não-governamental Iniciativa Mediática para os Direitos Humanos registou-o, tal como os serviços de informação, que a 14 de outubro diziam ter registado “vários casos de homicídio e tortura durante a ocupação” da região de Kherson.

Em paralelo, e depois de terem admitido uma retirada das zonas na margem oeste do rio Dniepre, há soldados russos a ocupar as casas de quem fugiu para território controlado por Kiev ou dos que foram deportados para a Crimeia. É que Skadovsk, em zona de forte presença russa, fica a menos de 100 quilómetros da península anexada pela Rússia em 2014. Mesmo que Kherson venha a ser libertada, a vila continuará em mãos russas por muito tempo, uma vez que está bem longe da linha da frente de combate.

E se já seria difícil lá chegar, mais ainda será no futuro. Skadovsk vai ser a nova zona de estabelecimento da administração russa na região de Kherson, perante a iminente saída das forças de Moscovo da principal cidade daquela zona, com o mesmo nome.

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