Anthony Fauci, o imunologista mais famoso do mundo e conselheiro de saúde da Casa Branca, avisou este domingo que os números de novos casos de Covid-19 vão continuar a crescer por todo o mundo e que provavelmente chegaremos a um ponto em que praticamente toda a gente terá anti-corpos para o SARS-CoV2, seja por ter sido vacinado, seja por ter estado doente. Porém, Fauci lembrou que a variante Ómicron está a provocar uma nova vaga global de infeções por ser mais transmissível, mas também por ter maior capacidade de reinfetar mesmo quem já esteve doente e foi declarado curado.
Apesar da nova variante ser aparentemente menos agressiva, causando doença menos grave e menor risco de hospitalização, Fauci lembrou, em entrevista à cadeia de televisão ABC, que o perigo da nova variante se percebe por um cálculo matemático simples: “Se temos muitas, muitas, muitas mais pessoas [infetadas] com doença menos grave, isso poderá neutralizar o efeito positivo de a doença ser menos grave”.
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A pressão sobre os sistemas de saúde continuará altíssima, e provavelmente mais alta do que alguma vez foi desde que surgiu o novo vírus, devido à enorme transmissibilidade da variante Ómicron.
A demonstrar isso mesmo, há notícias um pouco por todo o mundo de novas vagas de covid, que mais uma vez deverão ensombrar a celebração do Ano Novo. Apesar das enormes restrições sobre as viagens aéreas internacionais, as deslocações internas dentro dos países para os tradicionais encontros familiares estarão a funcionar como catalizador de inúmeros novos surtos, agravando uma tendência de subida da incidência que já vinha de antes do período de Natal.
EuropaEstá a ser assim na Europa, e Portugal não escapa à tendência. A curva ascendente em Portugal é bem inclinada, com 775 casos por milhão de habitantes a sete dias. Ainda estamos longe do pior momento da pandemia no nosso país, atingido no final de janeiro deste ano, com média de 1.256 casos por milhão de habitantes a sete dias, mas já ultrapassámos metade dessa média e estamos a crescer rapidamente. A incidência em Portugal está no ponto em que estava a 9 de janeiro deste ano - e recorde-se que vinte dias depois chegou ao recorde absoluto de novos casos até agora.
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Olhando para o número de novos casos por dia, Portugal tem ultrapassado a fasquia dos 10 mil, mas ainda parece longe dos 16.432 de 28 de janeiro, o dia em que o país atingiu o pico de novas infeções. Quanto a mortes, os dados são bastante diferentes do que se registou no início desta ano: as 108 mortes da última semana estão muito longe das mais de 2 mil mortes da pior semana de janeiro.
No Velho Continente, os piores casos são a Dinamarca e o Reino Unido, onde o crescimento de novos casos graças à variante Ómicron é exponencial. Até agora, o pior momento da pandemia no Reino Unido tinha-se registado em Janeiro, com 875 casos por milhão de habitantes na média a sete dias - neste momento, esse valor já vai quase no dobro, com 1472 casos. E não há sinais de abrandamento.
O mesmo se passa com a Dinamarca, que tem atualmente o título de pior desempenho europeu a nível de incidência Covid, recorde que durante alguns meses foi de Portugal - os dinamarqueses já pulverizaram por muito o recorde português, e estão neste momento com uma média de novas infeções acima de dois mil casos diários por milhão de habitantes na ponderação a sete dias. Também neste caso, sem sinais de abrandamento. É a primeira vez que um país europeu ultrapassa a fasquia dos dois mil casos diários, de acordo com a base de dados do site Our World in Data.
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Há outros países europeus onde a atual vaga já ultrapassou o pior registo anterior de novos casos. É o que acontece com Espanha e França, por exemplo. A França ultrapassou os 100 mil novos casos diários, aproximando-se do seu recorde absoluto, em abril, provocado pela variante Delta. Mas a última semana já é a pior de sempre ao nível de incidência em França: 511 mil novos casos em sete dias, bem acima do anterior máximo semanal.
Cenário igual em Espanha: este Natal, ultrapassou o máximo de casos da vaga de Janeiro passado, e a última semana é também a mais negra de sempre no país em termos de novas infeções. Também Itália, que em novembro de 2020 teve o seu maior pico de novos casos, superou agora esses números.
A Irlanda é outro país onde a curva ascendente está a deixar as autoridades em estado de alerta, esperando-se que após o Natal, que os irlandeses celebram em família com grandes reuniões, os números disparem ainda mais.
Segundo os dados da OMS agregados pelas grandes regiões do mundo, a Europa é, de longe, aquela onde a atual vaga está a ter mais impacto no registo de novos casos. Quase três milhões de novas infeções por semana, em comparação com menos de dois milhões no final de 2020 e início de 2021.
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No continente americano a situação global não é tão grave como foi noutros momentos da pandemia, mas a tendência também é de crescimento, sobretudo na América do Norte. Com mais de 260 mil casos detetados imediatamente antes do Natal, os EUA aproximam-se perigosamente da fasquia dos 300 mil casos diários, com aconteceu em janeiro. Porém, os dados norte-americanos podem estar subestimados, pois o país tem-se debatido com enormes constrangimentos no acesso a testes.
Logo a norte, no Canadá, este é já o pior período de toda a pandemia, bem acima de qualquer das vagas precedentes.
Para já, a boa notícia é que o impacto da variante Ómicron ainda não se faz sentir muito nos países da América Latina. Por exemplo, o Brasil, que foi um dos grandes motores de casos na América do Sul noutras vagas, tem os dados relativamente estabilizados, embora se note uma tendência para recrudescimento de novos casos.
ÁsiaO panorama geral no Indo-Pacífico parece menos preocupante do que noutras ocasiões, mas esse é um efeito deturpado sobretudo pelo enorme pico de casos que a Índia sofreu em maio, que distorce as comparações com a situação atual. Os casos na Índia estão a crescer, e a variante Ómicron já está com transmissão comunitária no país, mas o cenário está muito longe da calamidade que os indianos testemunharam na primavera.
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Diversos países da Ásia-Pacífico estão em alerta vermelho com a transmissão comunitária da Ómicron, incluindo-se mesmo o Japão, que tem seguido uma das políticas de fronteiras mais rigorosas, para tentar evitar a importação dessa variante. É garantido que já existe transmissão comunitária da nova variante entre os nipónicos, nomeadamente nas maiores cidades do país, Tóquio e Osaka.
Na Nova Zelândia, também um Estado insular e com fortes controlos à entrada no país, os casos mais do que duplicaram desde o Natal.
Laboratório transformou testes positivos em negativosNa Austrália, registou-se uma subida de novos casos nunca vista nos últimos quinze dias. A incidência está quatro vezes acima do pior registo ao longo de toda a pandemia. Domingo foi o dia com mais casos de sempre na Austrália - com quase dez mil - e as autoridades já alertaram para uma grande vaga pós-Natal. Há milhares de australianos em confinamento, e o número de hospitalizações também deu um grande salto nos últimos dias.
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Para agravar a situação, cerca de 1.400 pessoas que tinham um resultado negativo em testes Covid feitos antes do Natal ficaram agora a saber que a informação estava errada - são 1395 testes, pelo menos, cujo resultado positivo foi transformado em negativo por um erro de origem desconhecida. A responsabilidade é de um grande laboratório de Sidney.
Agora, todas essas pessoas e todos aqueles com quem estiveram durante as festas, estão a ser contactadas, para nova testagem e eventual confinamento. Nos estados mais populosos da Austrália a variante Ómicron já é predominante.
A Coreia do Sul continua a assistir à pior vaga da pandemia, e a nova variante não é a principal responsável. Por enquanto, ainda é a Delta que está a catapultar os números de infeção no país. Ao fim de vinte dias a assistir a sucessivos recordes de incidência, pela primeira vez o país registou menos de cinco mil casos. Mas as autoridades não sabem se a redução será reflexo das medidas de restrição entretanto impostas, ou de menor testagem durante os dias de Natal. Entretanto, o sistema de saúde continua debaixo de água, com números nunca vistos de internados e de pessoas em UCI por causa do SARS-Cov2.
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Também a China, apesar da política de Covid zero, está a braços com surtos. Xian, o epicentro de uma vaga que deixou a cidade em confinamento, registou mais 150 casos. A população de 13 milhões de habitantes da cidade tem ordem de permanecer em casa, e será sujeita a mais um teste generalizado, para despistar eventuais novos casos.
As autoridades de saúde consideram a situação “difícil e complexa”, tendo em conta que, com a ordem de confinamento que persiste há vários dias, o número de novos casos diários já deveria ter baixado.
Vários outros países da Ásia-Pacífico estão a preparar-se para uma grande vaga de novos casos. É o caso de Singapura e da Tailândia - a capital, Bangkok, já anunciou que serão canceladas todas as comemorações de Ano Novo.
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