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Fartíssimo do 'FUTEBOL-OSTRA'! Quando é que regressamos ao futebol-espectáculo que coloca os talentos no seu devido lugar?

Rui Santos faz uma reflexão sobre o futebol que se tem praticado neste Europeu e diz que algo tem de mudar para se acabar com o aborrecimento de muitos jogos. As equipas com mais talento organizam-se para não sofrer golos. Tanta táctica, uma canseira!

Gosto do futebol da Espanha e é, até agora, a única equipa que me seduziu verdadeiramente.

Gosto de futebol de ataque, gosto de futebol pressionante, gosto de um futebol de vertigem.

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Com base numa organização que não desvalorize o equilíbrio, que é o mais difícil de obter quando se introduz velocidade nos processos.

Gosto de equipas que se soltam, gosto de equipas que conciliem organização com — lá está! —… talento à solta.

Tudo o que este Europeu NÃO nos tem dado.

Bom sei que estamos em final de época e que os jogadores acumulam nas pernas muitos jogos realizados nos respectivos campeonatos, cuja intensidade varia de Liga para Liga, mas que em todo o caso obriga a uma preparação específica para aguentar os ritmos que as diversas competições impõem.

Os jogadores não são de ferro, está convencionado que 3 dias de recuperação entre jogos são suficientes para os atletas fazerem uma espécie de restart, mas uma coisa que a UEFA e a FIFA deviam fazer era  tornar os calendários mais seletivos, provavelmente enquadrando e distribuindo as equipas por divisões (para mim, faz pouco sentido emparelhar seleções em fase de qualificação de níveis competitivos tão diferenciados).

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Não o fazer significa olhar para o dinheiro e para as receitas e muito pouco para o consumidor e para a proteção do futebol como espectáculo.

Dir-me-à que é a ditadura da indústria. Perdoe-se-me a expressão: uma ova! Com todo o respeito: Dona Indústria, vá dar uma curva, mesmo que seja a bordo de um iate, com os sheiks chiques do planeta Terra.

Os treinadores, de uma forma geral, também não estão a ajudar, sucumbido à ideia de que, para se ganhar, é preciso fazer tudo, em primeiro lugar, para não se sofrer golos e só depois para marcá-los.

Veja-se o caso da França.

Tão bons jogadores em todas as posições, por dentro e por fora, e as cautelas, a medição dos centímetros nos espaços, e a captação dos talentos em nome da coesão e da consistência defensiva faz da França uma equipa que não consegue fazer brilhar “estrelas” como Mbappé ou Griezmann.

Acontece também um pouco com Portugal. O traço da bissectriz é mais importante do que a actriz a representar no espaço.

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Confesso que estou farto deste exercício das equipas a fazer tudo para fechar, para não dar espaço, para cultivar a importância do centímetro quadrado da mesma forma como é importante plantar abóboras para se achar o milagre da fertilização e para escravizar a liberdade e a arte futebolísticas.

Não há quase tempo para a criação e os treinadores, querendo defender os seus contratos, muito dependentes dos resultados, também não arriscam.

E futebol sem risco é uma chatice.

O futebol precisa de readquirir a sua componente de espectáculo. Ou pela diminuição dos calendários, ou pela alteração dos formatos competitivos, ou pela abolição dos foras-de-jogo, ou tudo junto, se quiserem.

Tem de haver uma fórmula.

A minha esperança era ver Portugal a revolucionar. Era ver A Portuguesa atrevida, sedutora, capaz de iluminar os palcos com um futebol atraente e empolgante.

Mas não. Estamos no tempo do futebol-ostra. O futebol em que a ostra, quando fabrica uma pérola (leia-se golo), fecha a sua concha para a manter numa espécie de solda protegida.

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Queremos todos ver Portugal campeão?

Sim, queremos.

Acreditamos que podemos vencer o futebol-ostra da França sem ostracizar as nossas principais características?

Sim, acreditamos (embora… já não sei bem…).

… Mas, se me permitem, queremos ver também futebol que nos convença e que não permita, neste processo de progressivo aborrecimento, dar espaço e cada vez mais tempo às guerras, às facadas da vizinha no vizinho e às politiquices do nosso quotidiano.

Ostras? Só no prato e regadas a espumante. Português!

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