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O que as mulheres podem fazer para reduzir o risco de doenças cardíacas

As doenças cardíacas são a principal causa de morte nas mulheres – para cerca de uma em cada cinco – nos Estados Unidos, de acordo com os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA. Mais de 60 milhões de mulheres norte-americanas vivem com alguma forma de doença cardíaca, mas apenas pouco mais de metade (56%) estão cientes de que a doença cardíaca é a assassina número um de mulheres.

Quais os tipos de doenças cardíacas que as mulheres devem conhecer? As doenças cardíacas afetam as mulheres de forma diferente do que os homens? Quais são os sintomas que podem significar problemas cardíacos? E o que devem as mulheres fazer para melhorar a sua saúde cardíaca?

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Para nos guiar por estas questões, falei com a especialista da CNN em saúde, a dra. Leana Wen, médica de emergência e professora associada na Universidade George Washington que anteriormente foi comissária da saúde de Baltimore.

CNN: Quais os tipos de doença cardíaca que as mulheres devem conhecer?

Leana Wen: As doenças cardíacas são um termo chapéu que engloba várias condições cardiovasculares.

A doença arterial coronariana é o tipo mais comum de doença cardíaca. Esta ocorre quando as artérias do coração são estreitadas ou bloqueadas por placas compostas por depósitos de colesterol. A doença arterial coronariana e a doença vascular, ou a doença dos vasos sanguíneos, são a principal causa de ataques cardíacos e de acidentes vasculares cerebrais (AVC). Os fatores de risco de doença arterial coronariana incluem problemas médicos como hipertensão, colesterol elevado e diabetes; obesidade; e fumar.

Outro tipo de doença cardíaca são as anomalias no ritmo cardíaco. A fibrilação atrial, por exemplo, ocorre quando o coração bate de forma irregular. Isto pode levar à formação de coágulos de sangue e a complicações como AVC e insuficiência cardíaca.

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A insuficiência cardíaca em si mesma representa outra forma de doença cardíaca, que ocorre quando o coração fica de alguma forma danificado ou enfraquecido. As causas de insuficiência cardíaca incluem ataques cardíacos; doenças crónicas como tensão arterial elevada ou consumo excessivo de álcool; e algumas infeções virais ou bacterianas.

Também existem anomalias na própria estrutura do coração, por exemplo, se houver defeitos nas válvulas do coração ou um buraco na parede do coração. Alguns destes problemas são congénitos, o que significa que existem desde nascença; ou podem desenvolver-se ao longo do tempo devido a infeções, doenças e outros fatores.

As doenças cardíacas afetam as mulheres de forma diferente do que afetam os homens?

De certa forma sim. Isto começa à nascença, porque o tamanho e a estrutura do coração é diferente nos homens e nas mulheres; geralmente as mulheres têm corações e vasos sanguíneos mais pequenos em comparação com os homens. Estudos têm demonstrado que as mulheres têm maior probabilidade de desenvolver doenças cardíacas nas pequenas artérias do coração. Isto é mais difícil de diagnosticar do que problemas com as artérias maiores e, em parte, contribui para as taxas mais elevadas de diagnósticos falhados nas mulheres.

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Para além disso, existem as alterações hormonais, como as alterações nos níveis de estrogénio, que ocorrem nas mulheres ao longo da sua vida e que também podem afetar o risco de doença arterial coronariana. E as mulheres têm mais probabilidade do que os homens de sofrerem de certas doenças que aumentam o risco de problemas cardíacos, incluindo anemia e endometriose.

As doenças cardíacas são a principal causa de morte entre as mulheres nos Estados Unidos. (SDI Productions/E+/Getty Images)

Existem problemas cardíacos que ocorram especificamente durante a gravidez?

Há condições médicas que podem manifestar-se durante a gravidez e que podem influenciar a saúde cardíaca quer enquanto a mulher está grávida, quer mais tarde. Entre elas incluem-se condições comuns, como a diabetes gestacional e tensão arterial elevada, e problemas menos comuns mas muito graves como o aumento do tamanho do coração, resultando em insuficiência cardíaca.

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Também podem existir problemas cardíacos pré-existentes que não se manifestam até o corpo estar sob stress durante a gravidez e o trabalho de parto. Por exemplo, uma mulher pode sofrer de tensão arterial elevada há muito tempo e não o saber até à gravidez. Mulheres em idade fértil devem estar cientes destas condições e prestar atenção à sua saúde cardíaca, antes, durante e depois do parto.

Quais são os sintomas que indicam que as mulheres devem procurar apoio médico urgente e imediato?

Os sintomas clássicos de um ataque cardíaco são dor no peito, dor no maxilar e no pescoço que se alastra ao braço esquerdo, falta de ar, tonturas e náuseas. Estes sintomas podem não estar todos lá, ou pode haver variações. Por exemplo, alguém pode não dizer que tem dores no peito, mas ter uma sensação de peso ou uma dor surda no peito. Podem sentir dor na parte superior do abdómen, nas costas e nos ombros.

As mulheres têm maior probabilidade do que os homens de terem sintomas vagos e não-clássicos, incluindo fadiga, náuseas e desconforto na parte superior do abdómen. Múltiplos estudos têm demonstrado que as mulheres são alvo de diagnósticos errados mais do que os homens; os seus sintomas de enfarte do miocárdio acabam por ser atribuídos a azia ou mesmo a manifestações psiquiátricas. Num estudo em particular, quase metade das mulheres não demonstrou os sinais clássicos de ataque cardíaco.

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E quanto a outros problemas cardíacos que não enfartes? Quais podem ser os sinais de alerta?

Alguém com anomalias no ritmo cardíaco pode experienciar palpitações e sentir que o seu coração está subitamente a bater de forma rápida e irregular. Podem sentir tonturas ou uma sensação de desmaio. As pessoas com insuficiência cardíaca congestiva podem sentir uma crescente degradação da sua capacidade de fazerem exercício físico e começar a sentir falta de ar após uma curta caminhada. Podem detetar inchaço nas pernas e precisar de mais almofadas para dormirem confortavelmente à noite.

Todos estes podem ser, de alguma forma, sintomas subtis. A grande lição aqui é que ouçam o corpo e não esperem para procurar ajuda médica. Se não se sentirem bem, garantam que se defendem. Discutam como estes sintomas que estão a sentir não são comuns para vocês. Ponham-nos no contexto da vossa vida para tornarem isso bem claro para o médico. Por exemplo, se costumava fazer caminhadas rápidas de 30 minutos todos os dias e agora não conseguem chegar ao fim do quarteirão sem ficarem sem fôlego, isso é tudo informação importante que deve ser transmitida [ao médico].

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O que devem as mulheres fazer para melhorar a sua saúde cardíaca?

O mais importante é estar ciente e gerir condições médicas existentes que aumentam o risco de doenças cardíacas. A tensão arterial elevada é um desses fatores de risco. Mais de 56 milhões de mulheres norte-americanas têm tensão arterial alta. Isso corresponde a 44% das mulheres adultas dos Estados Unidos. Apesar de a incidência de tensão arterial elevada aumentar com a idade, muitas mulheres jovens também sofrem disto; segundo os Centros de Controlo e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC), quase uma em cada cinco mulheres em idade fértil sofrem de tensão arterial elevada.

Menos de uma em cada quatro mulheres com tensão arterial elevada têm este problema sob controlo, segundo o CDC. Manter a pressão arterial sob controlo e otimizar alterações no estilo de vida e medicação, se necessário, é fulcral para reduzir o risco de ataque cardíaco, AVC e outras complicações cardiovasculares.

O mesmo se aplica às mulheres em casos de diabetes e colesterol elevado. A obesidade também um grande fator de risco, tal como fumar, o consumo excessivo de álcool, uma dieta insalubre e falta de exercício físico. As mulheres também não devem descartar o papel do stress, do sono e do bem-estar mental, que também podem influenciar a sua saúde cardíaca.

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