Depois de um interregno de cerca de dois meses, por causa do surto de covid que atingiu a Coreia do Norte, o líder norte-coreano voltou a distribuir ameaças de guerra contra os Estados Unidos e a Coreia do Sul. Num discurso assinalando o “Dia da Vitória” - o feriado nacional que marca o fim da Guerra da Coreia de 1950-53 - Kim Jong Un disse que o seu país está pronto para utilizar armas nucleares contra os dois principais inimigos e prometeu a “aniquilação” do vizinho do sul, se se sentir ameaçado por Seul.
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O regresso de Kim à retórica belicista mais inflamada ocorre quando os serviços secretos dos EUA e da Coreia do Sul acreditam que Pyongyang está à beira de retomar os ensaios nucleares, suspensos em 2017.
O regresso da Coreia do Norte aos ensaios nucleares é o passo que falta numa escalada de testes de armamento, que este ano atingiu níveis sem precedentes. Nos últimos meses o país testou mísseis hipersónicos, mísseis balísticos intercontinentais, e mísseis que segundo os norte-coreanos podem transportar armas nucleares táticas - armas supostamente com a capacidade de atingir boa parte do território dos EUA e da Europa, mas também capazes de reduzir drasticamente o tempo que a Coreia do Sul teria para responder a um eventual ataque.
"As nossas forças armadas estão completamente preparadas para responder a qualquer crise, e a dissuasão da guerra nuclear da nossa nação está também totalmente preparada para mobilizar a sua força absoluta de forma fiel, precisa e rápida para a sua missão", disse Kim perante antigos combatentes da guerra das Coreias.
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Os EUA voltaram a ser um dos alvos preferidos do líder norte-coreano, segundo o qual o “confronto” com os Estados Unidos, envolvendo a ameaça nuclear, exigiu que o Norte realizasse uma "tarefa histórica urgente" de reforçar a sua autodefesa, investindo nesta capacidade de dissuasão.
"Mais uma vez deixo claro que a Coreia do Norte está totalmente pronta para qualquer confronto militar com os Estados Unidos", disse Kim, que acusou os EUA de “diabolizar” o Norte, rotulando como ameaças ou provocações atividades militares “de rotina” - uma aparente referência aos testes de mísseis norte-coreanos.
"Isto está a conduzir as relações bilaterais [com os EUA] a um ponto em que é difícil voltar atrás, a um estado de conflito", disse Kim Jong Un.
Ameaças diretas ao novo governo de SeulMas a retórica foi igualmente inflamada em relação à Coreia do Norte, sobretudo por causa da chegada ao poder de um novo presidente, o conservador Yoon Suk-yeol, com uma agenda focada em rearmar o país e estreitar a cooperação militar com os Estados Unidos.
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Segundo a agência de notícias norte-coreana, Kim denunciou as intenções belicosas da administração Yoon Suk-yeol, dizendo que qualquer tentativa de anular antecipadamente as capacidades de ataque do Norte terá uma resposta severa e levará à "aniquilação" do Sul.
"Uma tentativa tão perigosa seria punida imediatamente por forças poderosas, e a administração Yoon Seok-yeol e os seus militares seriam exterminados", disse Kim, que apareceu na cerimónia de Pyongyang com a sua esposa, Ri Sol-ju.
Embora não descartem a gravidade das palavras do líder norte-coreano, observadores citados pela Associated Press notam que o regresso à retórica belicista contra os inimigos externos podem ser uma forma de Kim desviar as atenções do país em relação à profunda crise económica que a Coreia do Norte atravessa, devastado pela seca, pela pandemia de covid-19, e com dificuldade em receber ajuda da Rússia e da China, os seus dois aliados tradicionais.
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