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Costa diz que foi "muitas vezes incompreendido" por dizer que a União Europeia não podia gerar "falsas expectativas" à Ucrânia

Num dia que considerou "histórico", o primeiro-ministro fez questão de realçar a "desilusão" dos países que aguardam há anos uma resposta por parte da União Europeia

"Responsabilidade", "falsas expectativas" e "gestão de expectativas". Foram as três chamadas de atenção que o primeiro-ministro fez à União Europeia depois de o Conselho Europeu ter estado reunido durante horas, em Bruxelas, para anunciar que a Ucrânia e a Moldova iriam passar a ter o estatuto de países candidatos.

António Costa felicitou os dois países pela conquista, mas alertou para a "desilusão" daqueles "que pretendem apenas a liberalização dos vistos de circulação, aqueles que já são países candidatos e aqueles que já estão em processo de negociação", numa referência aos seis países dos Balcãs Ocidentais (Albânia, Bósnia-Herzegovina, Kosovo, Macedónia do Norte, Montenegro e Sérvia). 

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Fez também questão de explicar que este processo de candidatura tem responsabilidades para ambas as partes, ou seja, tanto para os países como para a União Europeia. 

"Este processo de candidatura trata-se não só de verificar que a Ucrânia e a Moldávia, e os outros eventuais candidatos, venham a preencher os requisitos para entrar na União Europeia, mas é preciso também que a União Europeia se prepare para preencher os requisitos para os poder acolher".

Isto significa, explicou Costa, que é preciso repensar a arquitetura institucional e orçamental "de forma a que esse processo de integração seja um caso de sucesso e não de enfraquecimento da União Europeia". Avisando que o processo de negociações com vista a tal adesão será "necessariamente longo", defendeu uma relação com Kiev "leal, empenhada e correta".

"Temos pago um custo elevado na credibilidade da União Europeia"

Foi já na resposta aos jornalistas que o primeiro-ministro confessou ter-se sentido "muitas vezes incompreendido" por dizer que a União Europeia não podia gerar "falsas expectativas" ao países candidatos, concretamente à Ucrânia. 

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"Eu fui muitas vezes incompreendido por ter chamado várias vezes a atenção de que a União Europeia tinha de ter o sentido da responsabilidade e compreender que não pode gerar falsas expectativas. No passado e no presente, temos pago um custo elevado na credibilidade da União Europeia", afirmou. 

Lembrou que a Ucrânia é um país que está em guerra, cujo povo tem sofrido bastante nos últimos meses, e, por isso mesmo, "é o último [país] a quem a União Europeia pode frustrar nas suas expectativas". 

"A confiança que nos merece, o trabalho desenvolvido pela comissão, tem de se traduzir num trabalho muito sério ao longo dos próximos anos, tendo em vista que não tenhamos com a Ucrânia uma reunião como aquela que tivemos hoje, durante toda a manhã, com os países dos Balcãs Ocidentais". 

A decisão dos chefes de Estado e de Governo - em atribuir o estatuto de candidato à Ucrânia e à Moldova - ocorre menos de uma semana depois de a Comissão Europeia ter adotado recomendações nesse sentido e ter dado "perspetiva europeia" à Geórgia.

Os três países solicitaram a adesão já depois de a Rússia ter invadido a Ucrânia, a 24 de fevereiro, tendo Kiev sido a primeira capital a fazê-lo, quatro dias a seguir ao início da ofensiva, enquanto a Moldova e a Geórgia apresentaram as suas candidaturas em março.

As atenções estavam inevitavelmente centradas na decisão sobre a Ucrânia e a concessão do estatuto de candidato já era considerado um dado adquirido, sobretudo desde que, há precisamente uma semana, os líderes das três maiores economias da União – o chanceler alemão, Olaf Scholz, o presidente de França, Emmanuel Macron, e o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi – se deslocaram a Kiev para expressar em conjunto o seu apoio à concessão do estatuto com efeito "imediato".

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