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China acusada de esconder onda de infeções e mortes por covid-19. "O comportamento é muito semelhante a 2020"

De acordo com dados oficiais, a China registou 5.235 mortes pelo novo coronavírus. Mais de 4.600 foram registadas nos primeiros meses de 2020 e cerca de 600 foram contabilizadas durante o confinamento de Xangai, em abril e maio deste ano

A China está a ser acusada de ocultar dados relativos ao número de infeções e mortes por covid-19, depois de ter anunciado um abrandamento da política 'covid zero'. Vários analistas citados pelo Financial Times receiam que o governo chinês esteja a esconder informação para "reivindicar o seu sucesso contra o vírus".

Dados oficiais publicados esta sexta-feira dão conta de 16.263 casos positivos na China, menos de metade do pico de infeções registado no mês passado, além de não ter sido registada nenhuma morte. No entanto, o economista chinês Raymond Yeung revela que em algumas cidades, como Baoding, localizada na província de Hebei, os números de infeções já estão a aumentar.

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O economista não tem dúvidas de que em breve cidades maiores como Hong Kong vão enfrentar números semelhantes. "Os dados reais de infeção vão deixar de ser informativos. À medida que os números de infeção 'oficiais' diminuem, o governo pode eventualmente reivindicar o seu sucesso contra o vírus", assume Yeung.

Para outros analistas, esta situação faz lembrar o início do surto em Wuhan, há cerca de três anos, quando não havia informação quanto ao número de casos. "O comportamento em relação ao números de casos é muito semelhante a 2020, quando passámos duas semanas com números de casos reais, antes de o véu cair", compara Rodney Jones, diretor da Migram Capital Advisors, um grupo de aconselhamento macroeconómico com foco na Ásia.

"Não fazemos ideia se vamos voltar a ver informação real quanto ao número de casos e se a redução acentuada do número de casos reflete a redução da testagem ou de uma gestão política dos dados", problematiza.

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Um dos dados mais críticos que está em falta é a taxa de testes positivos, que é essencial para determinar o número de infeções. Da mesma forma, o índice de transmissibilidade (conhecido como Rt) não está a ser divulgado, o que impossibilita a existência de informação quanto ao ritmo a que a doença se está a espalhar.

Além disso, também há muitas discrepâncias entre regiões chinesas sobre a forma como a causa de morte é determinada, bem como em relação à definição de "sintomático". Nalgumas cidades, incluindo Xangai, é necessário fazer uma tomografia ao tórax antes de fazer o despiste à covid-19.

De acordo com os dados oficiais, a China registou 5.235 mortes por covid-19. Mais de 4.600 foram registadas nos primeiros meses de 2020 e cerca de 600 foram contabilizadas durante o confinamento de Xanghai, em abril e maio deste ano.

Fonte de uma autoridade provincial de saúde revelou ao Financial Times que as mortes "normalmente" só seriam registadas se a pessoa testasse positivo antes de procurar ajuda médica. De acordo com a mesma fonte, muitos médicos questionaram a veracidade do número oficial de mortos depois de as autoridades terem ocultado dados relativos ao número de mortes em 2020. 

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"Aqueles que apresentam sintomas mas não tiveram tempo de fazer o teste e morrem de uma outra doença não seriam contabilizados", disse a mesma fonte.

Entretanto, os hospitais de Pequim começaram a ficar sem suprimentos médicos, como ibuprofeno e paracetamol, numa altura em que os profissionais de saúde lutam contra um surto que se espalha rapidamente pela capital chinesa. No entanto, Pequim registou apenas 2.654 infeções diárias esta sexta-feira.

Citado pelo Financial Times, Ben Cowling, professor de epidemiologia da Universidade de Hong Kong, alertou para os riscos de abandono dos requisitos de testagem e do registo de dados de forma imprecisa: “À medida que a intensidade da testagem diminui, será mais difícil saber o número de infeções na comunidade, e a interpretação da contagem de casos será cada vez mais diferenciada."

Yanzhong Huang, do think tank do Conselho de Negócios Estrangeiros, observou que, após o aumento de casos em novembro, houve “muitos casos assintomáticos e poucos casos graves”. “Isso é intrigante. Isso significa que eles têm uma maneira diferente de contar as mortes relacionadas com a covid-19?”, questiona.

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Outros analistas sustentam que, após quase três anos, os custos dos testes em massa, a par com o sistema de rastreamento de contactos, tornaram-se insustentáveis para a economia chinesa.

De acordo com Sam Radwan, diretor da Enhance Internacional, isto obrigou mesmo Pequim a abandonar a estratégia de testagem em massa. “O Centro de Administração do Fundo de Seguro Social de Pequim está sem dinheiro. Eles estão a ter dificuldades para pagar as contas pela primeira vez em muito tempo”, adverte Radwan, referindo-se ao órgão da capital responsável pelo financiamento dos serviços de saúde. 

“É por isso que eles estão a fechar as instalações de testagem antes de porem fim às restrições”, sugere.

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