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Conflito no SNS: eis como um médico poeta diz "não muito obrigado" ao governo

Rubrica “As Pessoas Não São Números” analisa o conflito na saúde e termina inesperadamente: com um poema “extraordinário”

Médico-poeta ou poeta-médico? João Luís Barreto Guimarães é um só em ambas as coisas, é ainda Prémio Pessoa e é parte dos “Médicos em Luta”, que junta quase sete mil profissionais num grupo de protesto contra o governo. E é ele quem fecha a edição desta semana da rubrica “As Pessoas Não São Números”, lendo para a câmara o poema que escreveu a propósito do atual conflito.

Chama-se “Extraordinário”, numa alusão às horas extraordinárias, que estão no epicentro do conflito que opõe médicos e governo. Porque o SNS é hoje dependente de horas extra, sendo que os médicos contestam a sua própria categorização: se os contratos já definem um número mínimo de horas trabalhadas fora do contrato de trabalho, são elas na verdade extraordinárias?

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Os médicos não decidiram fazer greve – bastou-lhes a indisponibilidade de fazer mais do que 150 horas de horas extraordinárias por ano para ameaçar de paralisação grande parte dos serviços hospitalares nos últimos dois meses do ano. O Governo desde cedo mostrou a pretensão de que eles se comprometessem a fazer um mínimo de 250 horas extraordinárias por ano para que tivessem aumentos salariais. E daí resultou o impasse, uma vez que os representantes dos médicos falam de logro, já que o governo aumenta salário em troca de aumento de horas trabalhadas.

250 horas por ano, recorde-se, é o equivalente a sete semanas (de 35 horas) a mais de trabalho.

O poema “Extraordinário”, de João Luís Barreto Guimarães, foca ainda outro aspeto crucial: o da diferença geracional, quando “os mais velhos” querem que “os mais novos” aguentem a mesma carga que eles aguentaram. Só que o mundo mudou. Ainda que algumas perversidades não. Eis o poema na íntegra:

Extraordinário

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E quando os mais velhos sugerem (à falta de melhor argumento) que os mais novosaguentem (num acinte à inteligência) como eles terão aguentado como se o mundo entretanto não tivesse andado à volta e a esse lote dos mais velhos (comodamente instalados) não fosse agora conveniente normalizar a exceção (banalizar o extraordinário) regateando dignidade no seu mercado de saldos com a ideia perversa de que quem paga controla a narrativa? Ah não muito obrigado” João Luís Barreto Guimarães, 2023

Ficha técnica e fontes da edição

Autoria: Pedro Santos Guerreiro e António Prata Imagem: Nuno Assunção Edição: Filipe Freitas Grafismo: Diogo Bobone  

Agradecimentos: Hospital de Santa Maria e João Luís Barreto Guimarães

Fontes usadas neste episódio:

Evolução do número de médicos: INE, Pordata

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Estatísticas da Saúde: INEPordata

Consultas, internamentos e urgências nos hospitais: Pordata

Vagas no Ensino Superior: Ministério do Ensino Superior

Recursos Humanos em Saúde: Nova SBE

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Hospitais: números e camas: Pordata

Setor privado da Saúde: Augusto Mateus Associados

Emigração de médicos: Ordem dos Advogados

Rácio de médicos por 1000 habitantes em Portugal subiu 74% em 20 anos: Ordem dos Médicos

 

 

 

 

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