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"Graças ao 25 de Abril os meus pais conseguiram regressar a Portugal". A Avenida da Liberdade também se vestiu de jovens nos 50 anos da revolução - dos mais pequenos aos mais graúdos

Juntámo-nos à marcha dos 50 anos do 25 de Abril, esta quinta-feira, e ouvimos 12 jovens portugueses que ajudaram a homenagear o Dia da Liberdade ao lado de quem o viveu

“25 de Abril sempre, fascismo nunca mais”, ouvimos este cântico da boca de uma pequeníssima criança sentada aos ombros do pai, enquanto percorríamos a Avenida da Liberdade, em Lisboa, esta quinta-feira. Não foram só os mais velhos que sairam à rua para celebrar os 50 anos da Revolução dos Cravos, que muitos eles viveram na primeira pessoa, mas os mais novos também marcaram presença - e em grande número. Uns trouxeram os familiares, outros os amigos e ainda houve quem viesse sozinho. De um lado e do outro, crianças, adolescentes e jovens adultos de punhos em riste reforçavam esta caravana de portugueses (e não só) que encheu o coração da capital desde a Praça do Marquês de Pombal até ao Rossio.

A CNN Portugal acompanhou os festejos que ocorrem há cinco décadas nesta data e testemunhou a enchente que já se fazia notar pelas 14:00, uma hora antes do arranque da habitual marcha comemorativa. À medida que vários e diferentes grupos se iam preparando, desde os partidários aos apartidários, outros aguardavam sentados no passeio ou na relva e entretinham-se com fotografias e conversas. Entre eles circulava Isadora Bastos, 28 anos, praticamente escondida por uma enorme bandeira portuguesa/europeia que carregava às costas.

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Veio de Bruxelas para celebrar o 25 de Abril

No momento em que nos cruzamos, Isadora conta-nos que a família é do Norte, mas ela nasceu em Bruxelas, na Bélgica. Chegou há uma semana a Portugal para celebrar o 50.º aniversário do 25 de Abril na Avenida da Liberdade, exatamente uma década depois de ter feito a mesma viagem para os 40 anos deste evento histórico. “Se o 25 de Abril não tivesse acontecido eu não estaria aqui”, partilha. "A minha mãe deixou o país para trabalhar em instituições europeias e antes isso não seria possível". 

Admite, porém, algum receio face a questões que têm vindo a ser novamente debatidas como a criminalização do aborto, tanto em Portugal como na Bélgica, mas sublinha que "ainda estamos longe de poder ter medo" de perder os privilégios que Abril proporcionou. Elogia a postura do partido Livre e do seu porta-voz Rui Tavares como símbolos da liberdade: "Deixam-me muito surpreendida desde a sua aparição". 

Isadora Bastos. Imagem: DR

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Primeira vez com o cravo na mão

"Para mim a liberdade é não termos medo de dizer o que achamos e responsabilizar-nos pelas nossas ações", afirma com convicção Miguel Brito, 16 anos, naquela mesma rotunda do Marquês de Pombal. Encontramo-lo à conversa com as amigas Constança Encarnação e Daniela Freire, ambas com 15 anos, de cravos ao peito e no cabelo: "Lembra a revolução". Estudam juntos em Lisboa e é a primeira vez que saem à rua para celebrar o 25 de Abril, numa altura em que começam a ganhar mais interesse político. "Fazia todo o sentido vir celebrar a liberdade, principalmente os 50 anos", continua o rapaz.

Os pais de Constança também vieram. "Estão ali algures", aponta sorridente. A família de Miguel não está presente, mas costuma vir todos os anos: "Foram eles que me incutiram isto, sem o 25 de Abril nunca poderíamos manifestar os nossos valores e direitos". Ainda assim, os três concordam que "muita coisa ainda precisa de ser corrigida", nomeadamente na educação. Constança sugere que "deviam investir um bocadinho mais", Miguel considera que falta "preparação suficiente para o futuro", o que leva "muitos jovens a emigrar". 

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Miguel Brito, Constança Encarnação e Daniela Freire. Imagem: DR
De pequenino é que se torce o pepino

Matilde, Xavier, Vasco e Laura têm entre 8 e 10 anos e já estão acostumados a acompanhar os pais na tradicional marcha pela Avenida da Liberdade. O entusiasmo dos quatro ofusca facilmente os adultos que os rodeiam, afinal é o "feriado preferido" daquelas crianças. "O pior é ter de esperar", queixa-se Vasco. E o melhor? Perguntamos-lhe. "Estar com os meus amigos e gritar", risos. Os restantes concordam e Matilde intervém: "É um dia muito importante, porque sãos os 50 anos da liberdade". 

"Liberdade de expressão" e "dizermos o que quisermos", é o que esta data significa para o pequeno grupo. Para além do cravo, associam-lhe também os símbolos da "paz", a "pomba branca" e até os "canhões". 

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Matilde (à esquerda), Xavier (à frente), Vasco (à frente) e Laura (à direita). Imagem: DR
Família regressou após a revolução

Érica, 22 anos, veio celebrar o 25 de Abril pela primeira vez em Lisboa por serem os 50 anos. Até então assinalava a data com a família em Almada, onde reside. Revela que "graças à revolução dos cravos" os pais, que estavam emigrados no Canadá, conseguiram regressar a Portugal. Ao seu lado, Matias, 22 anos, confessa que já não descia a Avenida desde 2021, mas desta vez "é uma ocasião mais especial", e trouxe os amigos consigo. Destaca as canções de artistas como Zeca Afonso, José Mário Branco e Sérgio Godinho como "a imagem da liberdade". Érica escolhe a cor vermelha, que remete para o cravo e a "revolução".

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Apesar dos benefícios que o 25 de Abril lhes trouxe, manifestam preocupação face ao crescimento da direita no país. Não sabem se as suas liberdades vão ser "uma constante" nas suas vidas, "por isso enquanto são há que apoiar". Em relação aos setores da Habitação e da Saúde, Érica considera "muito assustador não termos estas oportunidades daqui a uns anos". 

Matias e Érica. Imagem: DR
Aqui ou ali, a data celebra-se em todo o lado

Carolina Milhanas tem 23 anos e é cantora e compositora. Diz que sem o 25 de Abril não conseguia ter a carreira que tem hoje, mas preocupam-na os "50 deputados de extrema-direita" que chegaram este ano ao Parlamento. Ao lado das amigas, a jovem conta à CNN Portugal que costuma celebrar esta data histórica em Grândola ou Lisboa, tendo escolhido o 50.º aniversário para descer a Avenida esta quinta-feira. 

No mesmo grupo, Catarina Froes, 22 anos, diz que o 25 de Abril não se celebra apenas na rua, mas também no quotidiano e por isso não discrimina quem não vem marchar até ao Rossio. Mas "a nossa liberdade corre perigo”, alerta a jovem, sublinhando a importância de assinalar a Revolução de Abril atualmente tendo em conta as guerras que estão a ocorrer.

Carolina Milhanas (ao centro) e Catarina Froes (à direita). Imagem: DR

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