Nova Iorque está pronta para Zohran Mamdani – mas o Partido Democrata (ainda) não

4 nov, 08:00
Zohran Mamdani candidato Câmara Municipal de Nova Iorque (Angela Weiss/AFP via Getty Images)

O muçulmano de 34 anos, atual deputado da assembleia municipal nova-iorquina, está em rota para vencer as eleições desta terça-feira à Câmara de Nova Iorque, após uma corrida pouco renhida marcada por acusações de islamofobia e antissemitismo. Tão aplaudido quanto criticado pelas suas propostas, a provável eleição de Mamdani promete abrir um novo capítulo para os democratas, que a um ano das eleições intercalares de 2026 continuam divididos e sem uma figura unificadora capaz de fazer frente a Donald Trump

Foi de Young Cardamom a Mr. Cardamom – e é agora o provável futuro autarca de Nova Iorque, a mais famosa das cidades dos Estados Unidos (do mundo, se perguntarmos a um nova-iorquino de gema). Há quem lhe chame o “novo Obama”, um jovem carismático que, tal como Barack Obama, que passou de advogado relativamente desconhecido a primeiro presidente negro dos EUA, se transformou num fenómeno político da noite para o dia, e é hoje o candidato mais popular a umas eleições que, de outra forma, pouca ou nenhuma atenção teriam gerado fora do país.

A poucos dias das eleições desta terça-feira, o próprio Obama telefonou-lhe para se confessar “impressionado” com a campanha e se oferecer como “caixa de ressonância” no futuro, numa chamada de 30 minutos noticiada em primeira mão pelo New York Times e confirmada à Reuters por Dora Pekec, porta-voz do candidato. “Zohran Mamdani agradeceu as palavras de apoio do presidente Obama e a conversa que tiveram sobre a importância de trazer um novo tipo de política para a nossa cidade.”

Nascido há 34 anos no Uganda, filho do académico indo-ugandês Mahmood Mamdani e da cineasta indo-americana Mira Nair, o membro da assembleia municipal nova-iorquina apareceu em cena no início do ano e, em poucos meses, foi catapultado para o primeiro lugar do pódio em todas as sondagens de opinião antes da ida às urnas em Nova Iorque. Na mais recente, a poucos dias da votação, mantinha uma vantagem de seis pontos percentuais face ao segundo colocado, o ex-governador do estado de Nova Iorque, Andrew Cuomo, e de 16% em relação ao terceiro, o apresentador de TV Curtis Sliwa. Há duas semanas, uma sondagem no site de apoistas Polymarket dava a Mamdani 93% de probabilidades de ser eleito, contra 6% para Cuomo e 1% para Sliwa.

Quase um ano depois das últimas presidenciais nos EUA, que ditaram o regresso do republicano Donald Trump à Casa Branca, Mamdani veio injetar a esquerda de esperança, dizem uns, mas dividir ainda mais o Partido Democrata, dizem outros. Como destacou a New York Magazine três meses depois da sua vitória estrondosa nas primárias do partido, “a apenas seis semanas das eleições, a pouco mais de um mês para o início da votação antecipada e uma semana depois de a governadora democrata do estado [Kathy Hochul] se pronunciar a favor do candidato, [Chuck] Schumer continuava a evitar a questão Mamdani”.

Líder dos democratas no Senado e indiscutivelmente o atual homem forte do aparato do partido da oposição, Schumer não está sozinho na relutância em apoiar Zohran Mamdani (ainda há três dias preferiu o silêncio a um posicionamento claro quando questionado sobre o assunto pela CNN Internacional). Depois de, há um ano, ter declarado que ia deixar de dar apoio formal a candidatos a eleições locais, o New York Times fez marcha atrás, não por via do costumeiro editorial mas de um “artigo de opinião” publicado pouco antes das primárias democratas, sob o título “O nosso conselho aos eleitores numa corrida acirrada para a autarquia de Nova Iorque”, no qual apontava que a melhor opção é votar em Cuomo.

“Temos objeções sérias à sua ética e conduta, mesmo sendo melhor para o futuro de Nova Iorque do que o sr. Mamdani”, escreveu o jornal sobre o ex-governador afastado do cargo por suspeitas de assédio sexual. “Até os leitores que não são bons no Wordle conseguiram perceber que a não-aprovação do Times era uma aprovação indireta do ex-governador violento e desacreditado”, escreveu pouco depois a New York Magazine.

Doações e propostas

A indignação com a postura dissimulada do conselho editorial do NYT em relação às eleições em Nova Iorque não tardou. Em mais de mil comentários ao artigo na sua versão online, a maioria redundava na crítica de que o jornal tinha acabado de dar o seu apoio a um homem que, nos últimos cinco anos, gastou mais de 20 milhões de dólares em dinheiro dos contribuintes a tentar repudiar e silenciar as mais de dez mulheres que o acusam de assédio sexual.

A par disso, houve dezenas de queixas de leitores à cobertura da campanha de Mamdani antes das primárias, durante a qual o maior jornal da cidade, que é também um dos mais importantes do país, chegou a dar como quase certa a sua derrota, acusado de publicar peças “desdenhosas ou injustas” sobre o candidato. Mais de um mês após a votação de junho, o Times continuou a tentar defender a sua cobertura, incluindo o artigo de 32 parágrafos assinado por três jornalistas sobre como, numa candidatura à faculdade, Mamdani – cuja família se mudou para Queens quando ele tinha sete anos – “marcou uma caixa indicando que era ‘asiático’” e outra em que se identificava como “negro ou afroamericano”.

Andrew Cuomo, que foi governador do estado de Nova Iorque entre 2011 e 2021, abandonou o cargo após ter sido acusado por mais de 10 mulheres de assédio sexual; após perder as primárias do Partido Democrata em junho, decidiu avançar com a candidatura à autarquia de Nova Iorque como independente. foto Seth Wenig/AP
Andrew Cuomo, que foi governador do estado de Nova Iorque entre 2011 e 2021, abandonou o cargo depois de ter sido acusado por mais de dez mulheres de assédio sexual. Após perder as primárias do Partido Democrata em junho, decidiu avançar com a candidatura à autarquia de Nova Iorque como independente. Seth Wenig/AP

Os artigos não travaram a ascensão do autodeclarado democrata socialista. A 24 de junho, Mamdani conquistou a nomeação do partido com estrondo, forçando Andrew Cuomo a manter-se na corrida como independente. Desde então, vários democratas escolheram apoiá-lo formalmente, incluindo a ex-vice-presidente Kamala Harris e a governadora Hochul, a par dos seus padrinhos políticos, Bernie Sanders e Alexandra Ocasio-Cortez. A campanha de Mamdani, feita porta a porta com a ajuda de cerca de 90 mil voluntários, foi sendo alimentada por um fluxo constante de pequenas doações – contra os milhares de milhões despejados por grandes empresários e oligarcas na campanha de Cuomo (segundo a Forbes, 26 bilionários gastaram mais de 22 milhões de dólares para derrotar Mamdani; apenas 16 deles vivem em Nova Iorque). E até ao fim da corrida, no final de outubro, o próprio New York Times foi fazendo o seu ato de contrição, com uma cobertura cada vez mais ampla e compassiva que culminou com um perfil publicado na revista semanal do jornal, três semanas antes das eleições, sob o título “Por dentro da ascensão improvável, audaciosa e (até agora) imparável de Zohran Mamdani”, o “provável vencedor”.

Apoiado numa plataforma de acessibilidade e proximidade, o candidato promete aumentar os impostos sobre os mais ricos de Nova Iorque e o imposto sobre o rendimento das empresas, propondo ainda o congelamento dos preços de apartamentos com renda estabilizada, o aumento da oferta de habitações subsidiadas pelo Estado e a gratuitidade dos transportes públicos – uma agenda de exequibilidade questionável e despudoradamente “socialista” que está a preocupar a comunidade financeira da cidade.

Na semana passada, o jornal Times of London, um dos mais prestigiados do Reino Unido, que faz parte do conglomerado de media do magnata Rupert Murdoch, publicou um longo artigo a criticar a candidatura de Zohran Mamdani, no qual citava o antigo autarca nova-iorquino Bill de Blasio a dizer que, na sua opinião, “os cálculos não se aguentam sob escrutínio e os obstáculos políticos são substanciais”.

A equipa de Andrew Cuomo foi rápida a partilhar o artigo nas redes sociais, até o próprio De Blasio, um dos vários democratas que apoia publicamente Mamdani, vir a público desmentir as declarações “inteiramente falsas e fabricadas”, recorrendo à rede social X para se dizer “chocado” e garantir que “nunca” falou com o jornalista que assinava a peça, exigindo um pedido de desculpas público. “O The Times pediu desculpas a Bill de Blasio e removeu o artigo assim que descobriu que o nosso repórter foi enganado por um indivíduo que dizia falsamente ser o ex-autarca de Nova Iorque”, informou uma porta-voz do jornal horas depois.

As propostas de Mamdani podem ser criticadas, e foram-no, a par da sua inexperiência política – mas até em tempos politicamente turbulentos como estes serão melhores do que nada. “Mesmo com os adversários políticos de Mamdani e os formadores de opinião, como o New York Times, a ridicularizar o absurdo do seu catecismo político, seria difícil encontrar um eleitor durante a campanha às primárias que conseguisse citar uma, quanto mais três, propostas políticas defendidas por Cuomo”, indicava a New York Magazine há algumas semanas. 

“Apesar de todas as reformulações das normas políticas desta era, uma máxima continua inviolável: não se pode lutar contra algo com nada. O apoio velado do conselho editorial do Times a Cuomo nunca especificou que políticas oferecia sob a promessa de serem ‘melhores para o futuro de Nova Iorque’, pela simples razão de que não havia nenhuma. Ele não mora na cidade há décadas e está tão afastado da realidade que, numa entrevista ao Times após as primárias, não conseguiu citar um único democrata vivo que admire.” 

Islamofobia e antissemitismo

O desespero do candidato sem ideias ficou à vista na reta final da corrida eleitoral, com Cuomo a recorrer até a um vídeo gerado por Inteligência Artificial no qual os apoiantes de Mamdani são equiparados a criminosos. Na prática, o vídeo foi uma mera nota de rodapé numa campanha que, ao longo das semanas, foi ficando mais e mais marcada por ataques islamofóbicos ao rival.

Veja-se a entrevista concedida por Cuomo ao programa de rádio “Sid & Friends in the Morning”: “Este cargo é assustador – uma pessoa acorda como presidente da câmara, acorda como governador, e em qualquer manhã pode haver uma revolta numa prisão, um tiroteio em massa, uma epidemia de legionella, um colapso fiscal, em qualquer manhã pode haver uma crise – e a vida das pessoas está em risco. Deus nos livre de outro 11 de Setembro, consegue imaginar Mamdani no cargo?” Ao que o apresentador, Sid Rosenberg, interpõe entre risos: “Eu consigo, ele estaria a comemorar.” Ao que Cuomo diz: “Esse é outro problema. Mas consegue imaginar? Se Mamdani estivesse no cargo no 11 de Setembro, o que teria acontecido nesta cidade?”

Em modo de controlo de danos, o seu porta-voz veio garantir que foi Rosenberg e não Cuomo a sugerir que Mamdani teria aplaudido o atentado terrorista de 2001 que derrubou as torres gémeas, matando mais de 2.600 pessoas, invocando em jeito de defesa uma amizade particular de Zohran. “Ele [Cuomo] estava a referir-se ao amigo íntimo de Mamdani, Hasan Piker, que disse que ‘os EUA mereceram o 11 de Setembro’, uma declaração que as famílias das vítimas do 11 de Setembro pediram a Zohran Mamdani para denunciar, algo que ele se recusou a fazer durante meses”, disse o porta-voz num email enviado à NBC News, que incluía um link para uma reportagem do tabloide New York Post sobre o assunto. (Não só o streamer e comentador político não foi especificamente mencionado em momento algum da entrevista, como o argumento ignorou o facto de que Mamdani se distanciou dos comentários “questionáveis e repreensíveis” do amigo.)

"Este judeu apoia Zohran para autarca da nossa linda e diversificada cidade", lê-se num cartaz de um manifestante pró-Mamdani em Nova Iorque. foto Selcuk Acar /Anadolu via Getty Images
"Este judeu apoia Zohran para autarca da nossa linda e diversificada cidade", lê-se num cartaz de um manifestante pró-Mamdani em Nova Iorque. Selcuk Acar /Anadolu via Getty Images

Voltamos às comparações com Barack Obama, em particular ao outono de 2008, quando o então candidato democrata à presidência foi alvo de uma campanha orquestrada pelo rival republicano, o senador John McCain, na qual se questionava a sua orientação religiosa, levantando-se a possibilidade de ser não um cristão mas um muçulmano. “Dezassete anos depois, esta questão tornou-se central na corrida à autarquia de Nova Iorque”, ressaltava a revista New Yorker no domingo. “Houve muitos ataques legítimos à candidatura de Mamdani, citando a sua inexperiência e questionando como vai cumprir as promessas de tornar a cidade mais acessível. Nas últimas semanas, porém, muitas críticas foram tingidas com conotações especificamente antimuçulmanas.”

Esta campanha em particular esteve enraizada nas críticas de Mamdani à ofensiva de Israel contra a Faixa de Gaza, que até esta semana já tinha vitimado mais de 68.800 pessoas e que, sustentadamente, tem levado mais e mais nova-iorquinos – e mais e mais norte-americanos – a distanciar-se do Estado hebraico. Em julho, pouco depois das primárias democratas em Nova Iorque, uma sondagem do Gallup apurou que apenas 32% da população dos EUA aprova as ações militares de Israel em Gaza, contra 60% que as condenam. 

Um mês depois, um inquérito de opinião do YouGov para a revista The Economist confirmou a tendência, mostrando que a percentagem de americanos que “dizem que as suas simpatias no conflito estão mais com os israelitas do que com os palestinianos atingiu o nível mais baixo em 25 anos”; numa reportagem de capa com base nessa e noutras sondagens, a Economist apontava então que “a visão amplamente favorável de Israel evaporou-se” desde o início da guerra, em outubro de 2023, com 43% dos inquiridos a considerarem que “Israel está a cometer um genocídio em Gaza”.

A maior queda no apoio a Israel dentro dos EUA ocorreu entre os democratas de todas as idades – entre aqueles com mais de 50 anos, “a visão negativa de Israel aumentou 23 pontos percentuais nos últimos três anos”, indicava a revista. E entre os republicanos a tendência tem sido a mesma, ainda que a um ritmo menor, com metade das pessoas abaixo dos 50 anos a verem Israel de forma negativa – segundo a Economist “uma mudança radical em relação a 2022”, ainda mais acentuada entre os jovens cristãos evangélicos.

No final de setembro, a cerca de um mês das eleições desta semana, uma nova sondagem da Siena para o New York Times apurou que mais eleitores dos EUA estão agora do lado dos palestinianos do que dos israelitas, algo inédito desde que o jornal começou a colocar essa questão em sondagens em 1998. Mais ou menos na mesma altura, um outro inquérito para o Washington Post apurou que o sentimento encontra eco entre os judeus americanos – 94% dos inquiridos concorda que o Hamas é culpado de crimes de guerra e 61% que Israel é culpado do mesmo.

“Aqueles que na classe política assumiram que a posição de Mamdani sobre Israel seria a criptonita que o iria destruir estavam a iludir-se”, escreve a New York Magazine, invocando a primeira sondagem pós-primárias Siena-Times com eleitores registados na cidade de Nova Iorque – que, no início de setembro, revelou que 44% da população da cidade, que alberga a maior comunidade de judeus fora de Israel, simpatiza mais com os palestinianos, contra 26% mais favoráveis a Israel. A única faixa etária em que as margens são o oposto é a dos maiores de 65 anos. Na mesma sondagem, 51% dos inquiridos considerou que “criticar Israel não é inerentemente antissemita”, contra 31% que consideram o contrário. “No que pode ser considerado o eufemismo da década”, analisa a mesma revista, “o Times concluiu que os resultados do inquérito ‘ressaltam o quanto Cumo pode ter interpretado mal o eleitorado ao gastar energia para atacar as opiniões de Mamdani sobre Israel’”.

Em artigos recentes sobre o voto judaico em Nova Iorque, as opiniões dividem-se nas mesmas linhas de idade, com os eleitores mais velhos a assumirem que vão votar em Cuomo por causa das visões de Mamdani – por exemplo, quando disse em 2023 que o departamento da polícia de Nova Iorque aprendeu táticas agressivas com o exército israelita – e apesar das suas tentativas de apelar a todo o eleitorado desde que venceu a nomeação democrata em junho, deslocando-se a sinagogas para participar em cerimónias de importantes feriados judaicos e prometendo “compreender as perspetivas daqueles com quem discorda e debater profundamente essas divergências”. Como diz um eleitor de 58 anos à CNN, assumindo que vai votar em Mamdani, “ele vai ser presidente da Câmara de Nova Iorque, não embaixador em Israel”.

Se Mamdani for eleito presidente da Câmara de Nova Iorque, as suas ações não terão qualquer impacto sobre Israel e a Palestina, independentemente do que ele disser ou fizer. Pelo contrário, e da mesma forma que usou a sua plataforma para criticar a ofensiva contra Gaza, Mamdani também prometeu repetidamente dedicar tempo e recursos à luta contra o antissemitismo na cidade – uma causa sobre a qual qualquer autarca nova-iorquino pode fazer a diferença.

Questionado sobre as eleições à Câmara de Nova Iorque, o presidente Trump disse que apoia Cuomo porque Mamdani é um "comunista"; o bilionário Elon Musk, por sua vez, disse num post na sua rede social X que Mamdani "é o futuro do Partido Democrata", em linha com um memorando interno do Partido Republicano que delineia a estratégia de usar o provável vencedor das eleições desta terça-feira como a "cara demasiado à esquerda" dos democratas, a um ano das intercalares. Evan Vucci/AP
Questionado sobre as eleições à Câmara de Nova Iorque, o presidente Trump disse que apoia Cuomo porque Mamdani é um "comunista" e ameaçou cortar fundos federais para Nova Iorque se o jovem candidato vencer; o bilionário Elon Musk, por sua vez, disse num post na sua rede social X que Mamdani "é o futuro do Partido Democrata", em linha com os esforços do Partido Republicano para pintar o provável vencedor das eleições desta terça-feira como o "rosto demasiado à esquerda" dos democratas, a um ano das intercalares. Evan Vucci/AP

Socialismo aquém e além-mar

A ascensão de Mamdani até pode ser uma faca de dois gumes para os democratas norte-americanos – e os EUA estão longe de perceber como é que, a um ano das eleições intercalares, a sua provável vitória local vai ou não impactar o futuro do partido, atualmente dividido entre socialistas como Bernie Sanders e Alexandra Ocasio Cortez, que apelam mais aos jovens, e a ala mais centrista representada por figuras como Chuck Schumer, que veem em Mamdani uma vulnerabilidade face aos ataques republicanos, pelas suas críticas a Israel e pelo “socialismo democrático” que proclama (para Donald Trump, "comunismo, não socialismo"). 

Deste lado do Atlântico, contudo, a esquerda já está a surfar a onda. Num artigo intitulado “Esquerda europeia acorre a Nova Iorque para tomar nota da ascensão meteórica de Mamdani”, o site Politico referia esta segunda-feira como “vários políticos europeus de esquerda dizem ter entrado em contacto com membros da campanha de Zohran Mamdani em Nova Iorque, na esperança de replicar o seu sucesso em futuras eleições locais”.

Entre eles contam-se Manon Aubry, copresidente francesa do grupo A Esquerda no Parlamento Europeu, que na semana passada viajou até Nova Iorque para participar num evento de Mamdani na reta final da campanha, e quatro representantes do Die Linke, o partido anticapitalista alemão, que estiveram reunidos com o chefe da estratégia de campanha de Mamdani, Morris Katz.

“[Ele] oferece uma visão concreta de como a vida das pessoas pode realmente ser melhorada”, defende Liza Pflaum, chefe do gabinete parlamentar de um dos líderes do Die Linke, de olhos postos nas eleições locais de Berlim de setembro próximo. “Isso sente-se aqui em Nova Iorque: as pessoas começaram a sentir esperança novamente”, adianta Pflaum, para quem a estratégia vencedora está nas operações porta a porta para ouvir as preocupações reais dos eleitores e cortejar pequenas doações – um investimento que, no caso de Zohran Mamdani, parece ter dado frutos.

Questionado sobre a sua influência política além-Atlântico, junto de partidos progressistas de esquerda europeus, o provável futuro autarca de Nova Iorque disse, no domingo, que para já o seu foco é local. “Sabe aquela capa da revista New Yorker sobre o mundo acabar em Nova Jérsia? É assim que estou a tentar pensar nos próximos dias”, disse ao Politico. “O que me parece é que estamos a virar o nosso foco para os trabalhadores e para a acessibilidade, que é algo que tem faltado muito.”

Sem dar o seu apoio formal ao candidato Mamdani, Obama não deixa de discordar, tendo tecido elogios à “campanha impressionante de se ver” na chamada com o democrata no sábado à noite. E essa não foi a primeira vez que os dois políticos conversaram. Logo após a vitória de Mamdani nas primárias de junho, o antigo presidente pegou no telefone de forma “espontânea e sem solicitação” para falar com o candidato a autarca, algo que, nas palavras de Patrick Gaspard, assessor de Mamdani que também foi diretor político da campanha de Obama em 2008 e depois na Casa Branca, disse ser “algo que o presidente Obama não precisava de fazer”.

“O facto de ele nos ter ligado – e depois a notícia dessa chamada ter chegado a todo o mundo – foi um sinal muito importante para muitos no establishment político, no establishment empresarial e para os eleitores comuns, que ajudou a credenciar Zohran Mamdani”, diz Gaspard. E o resto do mundo está a prestar atenção. "Passámos muito tempo a lutar contra o fim do mundo", diz David Belliard, candidato d'Os Verdes à Câmara de Paris nas eleições municipais de março próximo, "mas talvez não o suficiente a ajudar as pessoas a chegar ao fim do mês".

E.U.A.

Mais E.U.A.