Declarações de Lavrov "mostram que a Rússia se esqueceu das lições da 2.ª Guerra. Ou nunca aprendeu com elas", diz Zelensky

2 mai 2022, 23:04
O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, numa declaração ao país transmitida em vídeo (AP)

O presidente ucraniano comentou as declarações do ministro russo, que sugeriu, numa entrevista, que Adolf Hitler tinha "sangue judeu", comparando-o, assim, a Zelensky

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, disse esta segunda-feira que as declarações do ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia mostram que Moscovo “se esqueceu” - ou, na verdade, “nunca aprendeu” - "as lições da Segunda Guerra Mundial".

"O ministro dos Negócios Estrangeiros da Rússia disse, abertamente e sem hesitação, que os maiores antissemitas estavam supostamente entre os próprios judeus. E que Hitler, supostamente, tinha sangue judeu. Como é que tal poderia ser dito nas vésperas do aniversário da vitória sobre o nazismo?", questionou Zelensky, numa mensagem de vídeo no Telegram, citada pelo The Guardian.

Para o chefe de Estado ucraniano, as palavras de Lavrov "significam que o principal diplomata da Rússia está a culpar o povo judeu pelos crimes nazis". "Não tenho palavras", lamentou Zelensky, recordando depois as críticas que rapidamente surgiram do lado de Israel.

"É claro que agora há uma grande polémica em Israel por causa dessas palavras. Mas ninguém ouviu qualquer justificação por parte de Moscovo. Só temos silêncio. Isto mostra que a liderança da Rússia se esqueceu de todas as lições da Segunda Guerra Mundial”, disse Zelensky.

“Ou então, talvez nem tenha aprendido com essas lições”, atirou o presidente ucraniano, considerando que estas palavras "não foram acidentais" e dirigindo-se depois a Israel: "A questão agora é: o embaixador de Israel vai ficar em Moscovo mesmo sabendo desta posição? As relações com a Rússia vão manter-se, tal como dantes? Porque isto não foi acidental. As palavras do ministro das Relações Exteriores russo não foram acidentais."

Numa entrevista a um canal televisivo italiano, transmitida no domingo, Sergei Lavrov reiterou ainda o objetivo da Rússia de “desnazificar” a Ucrânia. Além disso, o ministro minimizou também o facto de o próprio Zelensky ser judeu.

“Ele [Zelensky] apresenta um argumento: que tipo de nazismo eles podem ter se ele é judeu? Posso estar errado, mas Hitler também tinha sangue judeu. Não significa absolutamente nada. O povo judeu sábio diz que os antissemitas mais fervorosos geralmente são judeus", disse Lavrov.

Israel não deixou passar as declarações do ministro russo em branco e convocou esta segunda-feira o embaixador da Rússia em Israel para prestar esclarecimentos. Aliás, o país não só criticou o ministro russo por sugerir que Adolf Hitler tinha raízes judaicas, como exigiu um pedido de desculpas de Moscovo.

“As observações do ministro Lavrov são uma declaração imperdoável e ultrajante, bem como um terrível erro histórico”, respondeu o ministro dos Negócios Estrangeiros de Israel, Yair Lapid.

Entretanto, vários líderes políticos criticaram essas declarações, entre eles o primeiro-ministro italiano, que classificou os comentários de Lavrov como "aberrantes" e "obscenos". Em declarações aos jornalistas, Mario Draghi afirmou que Itália, ao contrário da Rússia, defende a liberdade de expressão e permitiu que Lavrov se expressasse naquela entrevista televisiva, "mesmo que [as declarações sejam] falsas e aberrantes".

"A parte sobre Hitler foi obscena", criticou.

Também o primeiro-ministro canadiano, Justin Trudeau, que classificou de Lavrov como "ridículas e inaceitáveis". "O que o ministro dos Negócios Estrangeiros russo disse foi inacreditável", acrescentou.

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