O capitão Kirk foi ao espaço e sentiu uma "grande dor". "Deveria ter sido uma celebração, mas foi como ir a um funeral"

10 out 2022, 19:07
William Shatner (Getty Images)

 O voo durou pouco mais de 10 minutos, mas foi o suficiente para o ator passar de um estado de euforia para um estado de profunda consternação

Viajar no espaço é, para muitos, o sonho de uma vida. Quem já foi, descreve a viagem como uma experiência "intensa", "emocionante" e há mesmo quem diga que foi "a melhor experiência" que já viveu. Mas, para o ator William Shatner, de 91 anos, que em outubro do ano passado se tornou no ser humano mais velho a visitar o espaço, aquilo que deveria ser uma celebração foi, na verdade, muito parecido com "ir a um funeral".

Foi há cerca de um ano que Shatner viajou até ao espaço a bordo da nave Blue Origin, naquele que foi o segundo voo humano da empresa espacial de Jeff Bezos, onde seguiam mais três tripulantes civis. O ator esperava sentir uma espécie uma "catarse final", como assim a designou. Em vez disso, diante da "frieza viciosa do espaço", o famoso Capitão Kirk, da série Star Trek, ficou num estado de profunda confusão. De tal forma que, assim que voltou a pisar a terra, chorou, sem saber porquê: 

"Toda a gente estava a agitar garrafas de champanhe, envolvidos num sentimento de realização. E eu não me sentia assim, de todo. Não estava a celebrar. Estava a sacudir os meus punhos em direção aos deuses", conta Shatner, em entrevista ao The Washington Post.

William Shatner a sair da cápsula da nave espacial New Shepard, da Blue Origin (Blue Origin/Getty Images)

O ator recorda que demorou várias horas até perceber o que estava realmente a sentir - "uma grande dor pelo planeta". O voo durou pouco mais de 10 minutos, mas foi o suficiente para passar de um estado de euforia para um estado de profunda consternação. Ao olhar pela janela da cápsula, ao mesmo tempo que sentia o desconforto da gravidade zero, Shatner diz ter ficado preocupado com a cor e a curvatura da terra, em contraste com "a escuridão sinistra" do espaço.

William Shatner sempre esteve associado a causas ambientais, mas admite que esta viagem ao espaço tornou esta questão ainda mais urgente no seu quotidiano. Num excerto do seu novo livro, publicado nos EUA na quinta-feira, com o título “Boldly Go: Reflections on a Life of Awe and Wonder", o ator diz ter descoberto que "a beleza não está lá fora, mas sim aqui, junto de todos nós".

"Fiquei completamente aterrorizado. A minha viagem ao espaço deveria ter sido uma celebração; em vez disso, foi como ir a um funeral", resumiu.

Depois desta viagem, Shatner ficou com uma nova perceção do que nos rodeia, incluindo a invasão russa da Ucrânia, que considera supérflua quando comparada com os problemas ambientais que o planeta terra atravessa: 

"Não há tempo para a guerra", vincou. Para Shatner, estes conflitos "só contribuem para as próximas extinções, que vão incluir os seres humanos".

Ciência

Mais Ciência

Patrocinados