Entre a primeira denúncia e o alerta das autoridades passaram poucos dias. Este é um fenómeno muito recente e as autoridades ainda sabem pouco. Isso mesmo assumiu à CNN Portugal uma inspetora chefe da Polícia Judiciária. Idades das vítimas variam "entre os 10 e os 14, 15 anos" e há grupos com "cerca de 200" menores. Ainda assim, deixou um apelo aos pais
Uma prática “emergente e massiva” de factos que constituem a prática de crime de pornografia de menores. Foi desta forma que a Polícia Judiciária (PJ) classificou o facto de contactos de crianças e jovens estarem a ser adicionados a grupos de WhatsApp onde, entre outros, são partilhados conteúdos pornográficos. Do primeiro caso ao alerta público, passaram poucos dias, porque as autoridades acreditam que é possível limitar o "impacto" dos grupos. Carla Costa, inspetora-chefe da unidade UNC3T da PJ falou com a CNN Portugal sobre este tema. Idades das vítimas variam "entre os 10 e os 14, 15 anos" e há grupos com "cerca de 200" menores.
Primeiro a PSP, depois a Polícia Judiciária (PJ). Apesar do número de casos não ser muito elevado, envolvem centenas de crianças e pode mesmo ultrapassar um milhar. “A primeira situação de que tomámos conhecimento foi no Porto. Mas começaram a surgir situações semelhantes um pouco por todo o país. Estamos, mais ou menos, com cerca de meia dúzia de casos. Daí termos tomado esta iniciativa, para ver se conseguimos limitar o impacto deste tipo de fenómeno”, explica à CNN Portugal Carla Costa, inspetora-chefe da unidade UNC3T da PJ.
Do que conhecem há grupos com “cerca de 200” menores. E as idades variam “entre os 10, mais ou menos, e os 14, 15 anos”, reconhece. Há situações de turmas inteiras incluídas num mesmo grupo. Eles vão “adicionando e já houve também situações em que as crianças saíram do grupo e voltaram a ser adicionadas”, alerta a inspetora.
E é por isso que a PJ, que inicialmente recomendou que os pais bloqueassem no WhatsApp a possibilidade dos filhos serem adicionadas a grupos por números desconhecidos, agora pede aos pais que bloqueiem qualquer adesão. Mesmo de contactos guardados nos telemóveis dos filhos. E esta simples ação pode, de facto, ajudar a limitar o alcance dos grupos.
O fenómeno é tão recente que as autoridades não sabem ao certo como chegam aos contactos telefónicos dos menores e não excluem, ainda, nenhuma possibilidade. Jogos online, redes sociais, todas as possibilidades estão em aberto.
“Ainda não conseguimos a 100% ter a certeza. Sabemos que, em algumas situações, há conversas que começam através de jogos online como, por exemplo, de Roblox, e o Fortnite. Abordam as crianças nesses meios e depois convidam-nos a passar para o WhatsApp. Depois também as instigam a adicionar contactos, que já têm gravados nos seus telemóveis. E que depois acaba por ser uma bola de neve, porque cada contacto irá adicionar os restantes”, explica a inspetora chefe Carla Costa.
Muitos casos não estão a chegar à PJ. Esta responsável refere, a título de exemplo, uma situação que chegou através da APAV: “A pessoa não procurou a polícia”. No entanto, como “a pornografia de menores é um crime público nós temos legitimidade para atuar de imediato”. Não interessa como a informação chega.
Carla Costa garante mesmo que é isso que está a ser feito. “Já estamos a recolher a prova digital para identificar os administradores dos grupos”, sublinha. Mas há muito que ainda não se sabe.
“Não podemos afastar a hipótese de ter origem fora de Portugal”
E esta situação tem outro facto curioso associado. A nível internacional, só foi detetada em dois países. Em Espanha, mais em concreto em Madrid, e está a acontecer ao mesmo tempo que em Portugal. É algo muito recente. A primeira notícia tem data de 24 de novembro. Na altura havia apenas três queixas.
Mas antes, só há registo de outro caso na Ilha de Wight, nos primeiros dias de outubro. Esta é uma ilha localizada a sul de Southampton, na costa sul da Inglaterra. O alerta foi dado pelas escolas e não há indicação que se tenha espalhado pelo Reino Unido.
Carla Costa está ciente deste facto: “Não podemos afastar a hipótese de ter origem fora de Portugal, mas também não podemos garantir. Neste momento não conseguimos ainda afirmar com certeza qual é a origem do fenómeno”. E, por isso, a PJ vai falar com os congéneres que já se depararam com o fenómeno e não só.
Ao contrário de outras situações como, por exemplo, a burla “Olá pai, olá mãe” em que é pedida uma contrapartida, aqui não há muito que esteja a ser pedido, pelo menos, “nestes primeiros momentos”.
“Aqui não encontramos nenhuma contrapartida. O que vemos é, efetivamente, a exposição das crianças a este tipo de conteúdos que são desadequados. Há aqui uma normalização deste tipo de conteúdos e também de pornografia de adultos que também aparecem. Os miúdos também são, por vezes, instigados a partilhar este tipo de conteúdos”, acrescenta.
Carla Costa aproveita ainda para lembrar que a idade mínima para se poder usar a rede WhatsApp são 16 anos e que, por isso, os pais precisam de ser vigilantes. “É preciso algum controlo parental. Não só nas aplicações, mas uma certa monitorização, no bom sentido, dos telemóveis das crianças. Principalmente quando têm um telemóvel com 10, 11 anos, que ainda não têm maturidade suficiente nem conhecimento para se protegerem devidamente”.