opinião
Professor Universitário e Doutor em Cibersegurança

Web Summit, de startup a unicórnio

22 nov 2024, 20:38

Então achavam que eu me ia esquecer da Web Summit? Não podia, nem podemos nós, pois apesar de acharmos que é uma feira das vaidades, é a nossa feira das vaidades e tem motivos para se envaidecer. Querem saber porquê? Então vamos a isso.

O final do ano é sempre muito atarefado para mim; entre viagens e feiras, aulas e atividades profissionais que exigem de mim o máximo da minha atenção diariamente, a meta final é sempre brindada com a Web Summit de Lisboa. Um local que, desde que inicia até que termina, para quem lá vai ver o que de melhor vem aí, não poderia haver outra escolha. Ora, por que digo eu “o que de melhor vem aí”? Porque, apesar de todo o alarido dos palestrantes, dos grandes stands dos países convidados e de todo o ruído das palestras — como as que dei — é no chão do evento que se percebe a tendência: o que hoje é startup, amanhã é unicórnio!

Este ano foi particularmente interessante e, de certo modo, até estranho. Com o certame inteiro a olhar para a Inteligência Artificial, não consegui deixar de ficar surpreendido com o fato de não se dar atenção a outras áreas tão importantes da tecnologia, como a cibersegurança, a cloud, a supercomputação ou, quiçá, a computação quântica. Deixo aqui a minha nota: fiz alguns diretos a partir do meu Twitter, ou X, como preferirem, nos quais dizia isso mesmo. Parece que se esqueceram do mundo e só olham para a Inteligência Artificial.

Pasmo-me com esta realidade, porque já é o terceiro ano consecutivo que a IA é o tema de cartaz. E parece que se ignora todo um mundo em guerra e toda uma sociedade que diariamente deixa de funcionar por causa de ataques informáticos. Hello! Recordam-se de que ainda há uns meses meio planeta (tecnológico) parou por causa de um update da CrowdStrike? Precisamente, meus caros amigos! O mundo anda preocupado com a IA e não com o mais importante. Ou, como eu gosto de dizer, andamos preocupados com o acessório e não com o essencial. Não posso deixar de ficar apreensivo quando vejo um ambiente em que metade da oferta do futuro é qualquer coisa assente em GPT e nada de verdadeiramente inovador. Isto é: férias e soluções de viagens vendidas por um chatbot, médicos e processos à distância em que é o GPT a fazer a análise, empresas e negócios em que o GPT é o criador do conteúdo, etc., etc. Mas em que é que isto é inovador? Eu respondo: na remoção do ser humano da equação. Ou seja, menos colaboradores.

Mas então, onde estava a verdadeira inovação? Na outra metade: na metade que estava empurrada para o quinto pavilhão, aquele que todos os anos atrai menos visitas no certame, mas que este ano foi a minha alcova! Lá encontrei propostas de empresas de videojogos, soluções de segurança informática, empresas de formação tecnológica, equipamentos de energias renováveis e todo um escaparate de maravilhas que antecipo estarem nas nossas casas e empresas dentro dos próximos cinco anos. Mas como é possível estarem tão remotamente instaladas no certame? Pois, penso o mesmo. Só posso concluir que não são temas que atraem multidões, mas que, para mim, foram do melhor que vi.

A cereja no topo do bolo este ano foi a oportunidade de conhecer várias empresas nacionais e de outros países que realmente fazem coisas muito boas com inteligência artificial e com outras tecnologias. Destaco o empreendedor Álvaro Pistono e a sua plataforma de criação de jogos sérios, que lhe rendeu o prémio de melhor investigação de doutoramento (doutorado pela UTAD) e atraiu muitos curiosos ao stand da Startup Portugal. E, por falar em Startup Portugal, que palestras foram aquelas? Mais dinamismo, malta! Peço-vos mais dinamismo para vender e mostrar o que é nosso.

Saltando em frente, literalmente, para o stand da SIBS, que andei a namorar durante três dias, fico contente de ver tantas vedetas vossas a falar de temas críticos. Acho pertinente a forma como abordaram o certame, segui atentamente as vossas agendas e até as confirmei com o vosso staff. Ainda bem que, do ponto de vista da cibersegurança, nada vos preocupa. Ou será que não? Porque, sinceramente, não vi nada por lá.

Realço também um momento inovador e que capturou a atenção de centenas de pessoas, o jogo de xadrez entre o Grande Mestre Hans Niemann e as largas dezenas de adversários apoiados por Inteligência Artificial. Tentamos todos mas ele foi um pouquinho melhor e ganhou! Momento espetacular.

E, para fechar esta minha contribuição, não podia deixar de mencionar que fiquei muito contente de ver os meus alunos a seguir as pisadas do sucesso e a marcar presença na Web Summit com as suas ideias e inovações, enquanto outros participaram com a sua visita e curiosidade. Fica aqui o meu reconhecimento pelo esforço e dedicação em serem as melhores versões de si mesmos e por estarem na senda da inovação, perseguindo os seus sonhos.

Assim, despeço-me dos meus caros leitores até à próxima e deixo também um convite: não percam a oportunidade de ir a eventos como este e participem o máximo que conseguirem, tanto neste como noutros semelhantes. O ser humano não é uma ilha e somos todos catalisadores de inovação — basta estarmos expostos a ela.

Comentadores

Mais Comentadores
IOL Footer MIN