As empresas enfrentam um momento de transformação em que a responsabilidade social já não pode ser vista como um extra, mas sim como um elemento estratégico essencial. A crescente exigência de relatórios de sustentabilidade, impulsionada por diretivas como a Corporate Sustainability Reporting Directive (CSRD) e os European Sustainability Reporting Standards (ESRS), exige que as organizações demonstrem não apenas boas intenções, mas impacto real e sustentável. Doações e apoios financeiros podem gerar efeitos a curto prazo, mas para que o impacto seja significativo e duradouro, é essencial investir na capacitação das organizações do terceiro setor tornando-as mais eficientes e autónomas no longo prazo.
Se, por um lado, muitas organizações sem fins lucrativos enfrentam desafios na profissionalização da sua gestão e na obtenção de recursos sustentáveis, por outro, as empresas possuem um enorme capital humano e técnico que pode ser colocado ao serviço destas causas. O voluntariado de competências surge, assim, como a melhor forma de criar uma ponte entre estes dois mundos, permitindo que o conhecimento e a experiência dos colaboradores fortaleçam as organizações sociais, tornando-as mais eficazes e preparadas para cumprir a sua missão.
Apesar do seu potencial transformador, muitas empresas ainda não adotam esta prática de forma estruturada. Em Portugal, apenas 9% das empresas apresentam um desempenho elevado nos critérios ESG (iapmei.pt). As doações e as atividades de team building social desempenham um papel fundamental na construção de uma cultura organizacional solidária e têm um impacto real nas comunidades. No entanto, há espaço para ir mais longe. O verdadeiro desafio passa por complementar estas ações com iniciativas que criem um impacto mais duradouro e estruturado, permitindo que as competências dos colaboradores sejam aplicadas para fortalecer as organizações do terceiro setor. Criar um modelo sustentável, onde os colaboradores possam dedicar parte do seu tempo e expertise ao terceiro setor, exige um compromisso maior e uma visão estratégica de longo prazo, mas traz benefícios que vão muito além da responsabilidade social: fortalece as organizações, capacita as comunidades e torna a própria empresa mais resiliente e inovadora.
O voluntariado de competências, apesar de não ser um requisito explícito nas normas ESG e CSRD, pode ser um elemento diferenciador nos relatórios de sustentabilidade, demonstrando que a empresa tem um compromisso real e estruturado com o impacto social. Para que esta prática deixe de ser uma iniciativa isolada e se torne uma ferramenta efetiva de transformação, é essencial adotar um modelo bem definido, que pode incluir, programas de voluntariado alinhados com as competências da empresa, garantindo que o apoio prestado tem valor real e impacto duradouro. Facilitar a participação dos colaboradores, permitindo a integração destas ações no horário laboral ou num modelo híbrido de contribuição partilhada. Estabelecer parcerias estratégicas com organizações sociais, criando um fluxo eficiente de apoio técnico e profissional ou mensurar e comunicar os resultados, garantindo transparência e motivando cada vez mais colaboradores a aderirem.
O voluntariado de competências não é apenas uma forma de “dar algo de volta” — é um modelo de crescimento mútuo. As empresas que investem nesta prática não só contribuem para uma sociedade mais capacitada e justa, como também fortalecem a sua cultura organizacional e aumentam a motivação e o compromisso dos seus colaboradores.
No atual contexto, onde sustentabilidade e impacto social são cada vez mais decisivos para o posicionamento das empresas, apostar no voluntariado de competências não é apenas uma escolha acertada, mas uma necessidade estratégica. O conhecimento e a experiência que cada profissional detém são bens valiosos — partilhá-los é uma das formas mais nobres e eficazes de transformar o mundo.