Putin arrasa a Ucrânia, a NATO, a América, o Ocidente: "Porque é que fizeram de nós um inimigo?"

21 fev 2022, 22:12

A Ucrânia está "contaminada pelo Ocidente com o vírus da corrupção". Está a "desenvolver armas nucleares". É palco de "crescimento do neonazismo". Foi "inundada de armas ocidentais" e transformada "sem vergonha pelos EUA e a NATO num cenário de guerra". Por tudo isto, é "uma ameaça": "Fomos simplesmente enganados". Putin justificou assim, num longo discurso de 65 minutos, o porquê de reconhecer a independência de dois territórios ucranianos. A Europa promete uma resposta firme e unida, os EUA avançam com sanções. E como fica o mundo com tudo isto?

19:36, hora de Portugal Continental. Foi neste momento que Vladimir Putin assinou a declaração que reconhece como independentes os territórios de Donetsk e Lugansk, numa cerimónia de assinatura foi seguida de perto em Moscovo pelos líderes separatistas destes dois estados na região de Donbass, no leste na Ucrânia. "Considero necessário tomar esta decisão que estava pensada há muito tempo, de reconhecer imediatamente a independência da República Popular de Donetsk e da República Popular de Lugansk", afirmou o presidente russo, que pediu também ao parlamento russo para "aprovar esta decisão" para, em seguida, "ratificar os acordos de amizade e de ajuda mútua a estas repúblicas", o que permitirá a Moscovo, por exemplo, enviar apoio militar aos dois territórios pró-russos do Donbass ucraniano.

Mas, antes, o presidente russo deu um longo discurso de 65 minutos, no qual afirmou que a admissão da Ucrânia pela NATO é "uma ameaça direta à segurança da Rússia" e que em todos estes anos a Ucrânia "não conseguiu atingir a estabilidade, precisando de se apoiar em países como os Estados Unidos". Para Vladimir Putin, as autoridades ucranianas foram "contaminadas pelo Ocidente, com o vírus da corrupção". Mas as críticas não ficaram por aqui: o presidente russo acusou líderes ucranianos de quererem o melhor dos dois mundos, sem quaisquer obrigações perante a Rússia, que considera que esteve sempre disponível para cooperar.

Vladimir Putin não poupou críticas ao regime ucraniano. Afirmando que a situação no leste da Ucrânia é "novamente crítica", o líder russo classificou a região como "terras ancestrais russas": "A Ucrânia é uma parte integral da nossa própria História". "A Ucrânia moderna foi criada pela Rússia comunista", argumentou o presidente russo.

Num discurso marcado por fortes posições ideológicas, o presidente russo disse que está "preparado para mostrar o que é uma descomunização genuína" e criticou a forma como a "Ucrânia pós-soviética se comportou", lamentando também o "aumento no neonazismo" no país. Ainda durante discurso televisivo, que durou 65 minutos, o presidente russo pediu à Ucrânia para cessar imediatamente as “suas operações militares” contra os separatistas pró-Rússia. 

"Sem vergonha"

Vladimir Putin acusa os serviços de inteligência norte-americanos de ajudar a Ucrânia a cometer crimes. "A Ucrânia tem sido inundada de armas ocidentais nos últimos meses", afirma, considerando o país "uma ameaça" e acusando-o de estar a "planear criar as suas próprias armas nucleares para atacar a Rússia".

Segundo o presidente russo, "se a Ucrânia obtiver armas de destruição maciça, a situação mundial poderá mudar drasticamente": "Não podemos ignorar isto". 

Putin vê a adesão da Ucrânia à NATO como uma "ameaça direta à segurança" do país, que acredita estar a ser "constantemente espiado por drones norte-americanos". Putin acusa também os Estados Unidos e a NATO de "transformarem sem vergonha a Ucrânia num cenário de guerra", referindo que a aliança atlântica está "constantemente presente em exercícios militares" nesse território.

O líder russo assegurou que tomará medidas para garantir a segurança da Rússia perante a recusa dos Estados Unidos e da NATO em abordar as suas preocupações de segurança e renunciar à Ucrânia o direito de fazer parte da Aliança Atlântica no futuro: "Basta olhar para o mapa para ver como os países ocidentais cumpriram a sua promessa de não permitir que a NATO se expandisse para o leste", vincou. “Simplesmente fomos enganados. Uma após a outra, houve cinco ondas de ampliação da NATO”, acrescentou.

Segundo Putin, como consequência a Aliança Atlântica e a sua infraestrutura militar "aproximaram-se das fronteiras russas": "Se a Ucrânia entrar na NATO, as ameaças militares à Rússia aumentarão várias vezes. E o perigo de um ataque-surpresa contra o nosso país aumentará várias vezes".

Um segredo que nunca tinha contado

Quase no fim da sua longa intervenção, Putin revelou que, no ano 2000, pediu ao presidente norte-americano Bill Clinton para aderir à NATO. 

“Vou dizer uma coisa que nunca disse em público: no ano 2000, quando o Presidente Bill Clinton visitou Moscovo, perguntei-lhe como é que os EUA viam a possibilidade de a Rússia entrar na NATO.” Contudo, o presidente russo não revelou “todos os detalhes” da conversa, mas adiantou que ficou de imediato claro que os norte-americanos não estariam abertos a essa possibilidade. “Porquê?”, questionou. “Porque é que fizeram de nós um inimigo?”

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