Jogo de nervos na Ucrânia: confrontos agravam-se no leste e Putin antecipa teste de armas nucleares

18 fev 2022, 12:50

Centenas de violações do cessar-fogo registadas na linha da frente entre separatistas pró-russos e forças ucranianas. OSCE diz que Rússia mobilizou maior efetivo desde a Segunda Guerra Mundial para a fronteira com a Ucrânia

Desde 2015 que os confrontos na linha da frente entre separatistas russos e as forças ucranianas não atingiam a intensidade a que chegaram esta sexta-feira. A revelação foi feita por fonte diplomática à agência Reuters, que acrescenta que a Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE), que mantém observadores no leste da Ucrânia, registou até agora centenas de violações do cessar-fogo conseguido após a anexação da Crimeia pela Rússia em 2014.

Os observadores da OSCE relataram um aumento significativo dos tiroteios, apontando 189 violações de cessar-fogo na região de Donetsk durante quinta-feira, o que representa um crescimento dos ataques em relação ao dia anterior, quando foram contabilizados 24.

Na região de Lugansk, outro reduto de separatistas pró-Rússia no leste, foram registadas 402 violações contra 129 na quarta-feira.

Citado pela agência Reuters, o embaixador norte-americano junto da OSCE diz que a organização estima que a Rússia concentrou provavelmente entre 169.000 a 190.000 soldados na fronteira ucraniana, a mobilização militar mais significativa na Europa desde a Segunda Guerra Mundial. Michael Carpenter acusou ainda Moscovo de "criar um pretexto" para justificar uma invasão à Ucrânia.

Kremlin diz que situação é "potencialmente perigosa"

Uma situação "muito preocupante", disse aos jornalistas o porta-voz do Kremlin, que comentou os episódios de violência na região de Donbass classificando-os como "potencialmente muito perigosos", numa altura em que Moscovo já anunciou que o presidente Vladimir Putiun irá marcar presença em manobras militares previstas para este sábado.

Segundo a imprensa internacional, Moscovo decidiu antecipar exercícios habitualmente realizados no final do verão para este fim de semana e que irão inclusivamente testar o poderio nuclear russo, com o lançamento de mísseis balísticos e mísseis de cruzeiro. Putin estará acompanhado por Alexander Lukashenko, o presidente da aliada Bielorrússia e que esta sexta-feira será recebido no Kremlin, num encontro que terá como objetivo decidir o que fará a Rússia às 30 mil tropas que terminam até domingo exercícios militares na Bielorrússia. 

O líderes ocidentais já alertaram que os exercícios conjuntos da Rússia e da Bielorrúsia poderão servir para encobrir a preparação da invasão à Ucrânia, ainda que o porta-voz do Kremlin tenha dito na quinta-feira que não está na agenda a permanência das tropas da Federação Russa na Bielorrúsia. 

Porém, Lukashenko veio dizer que "se fizer sentido", os militares russos ficarão "durante quanto tempo for necessário", frisando que lhe cabe a ele e a Putin tomar uma decisão. 

Ucrânia não acredita na escalada de violência

Oleksii Reznikov, ministro da Defesa ucraniano, falou esta sexta-feira no parlamento para dizer que as informações recolhidas pelas autoridades nacionais apontam para uma baixa possibilidade de escalada das tensões que culmine com a invasão russa. 

"Os nossos serviços de informação veem todos os movimentos que podem representar uma ameaça potencial para a Ucrânia. Estimamos que a probabilidade de uma escalada em larga escala seja baixa", disse Reznikov, citado pela Reuters. 

Num esforço de apaziguamento, também o autarca de Kiev disse à BBC que a avaliação das autoridades ucranianas da crise é diferente da do presidente dos EUA, que tem avisado repetidamente para um ataque iminente da Rússia.

Vitali Klitschko sublinhou que os serviços de informação da Ucrânia revelaram que os soldados russos não avançaram e mantêm posições ao longo da fronteira, ainda que a população do leste do país esteja cada vez mais nervosa, sobretudo depois do ataque dos separatistas a um jardim de infância na quinta-feira. 

Via diplomática continua aberta

O ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Sergei Lavrov, aceitou entretanto um encontro com o secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, na próxima semana, para preparar uma cimeira bilateral que atenue a tensão na Ucrânia.

Se os russos invadirem a Ucrânia "nos próximos dias, ficará claro que eles nunca levaram a diplomacia a sério", frisou o porta-voz de Blinken.

Sergei Shoigu, o ministro da Defesa russo, falará ainda esta sexta-feira por telefone com Lloyd Austin, o secretário da Defesa dos Estados Unidos, que esteve em Varsóvia para preparar a venda de tanques norte-americanos aos polacos e fortalecer mais um aliado da NATO. Austin voltou a descartar a alegada retirada russa dos militares de alguns pontos cruciais da fronteira. 

Ainda esta sexta-feira, o presidente dos EUA, Joe Biden, vai  promover uma reunião com os líderes do Canadá, França, Alemanha, Itália, Polónia, Roménia, Grã-Bretanha, União Europeia e NATO, para falar sobre a Ucrânia.

Também a partir de hoje, e nos próximos dias, mais de 30 chefes de Estado e de Governo, uma centena de ministros e líderes de organizações internacionais vão marcar presença na Conferência de Segurança de Munique, cuja abertura estará a cargo do português António Guterres, secretário-geral da ONU. Destaca-se ainda a presença de Kamala Harris, vice-presidente dos EUA,, bem como os líderes da NATO e da UE, numa reunião que será presidida pela chefe da diplomacia alemã, Annalena Baerbock. Até ao momento, não foi confirmada a presença de qualquer representante da Rússia na conferência que será dedicada, naturalmente, à discussão da crise na Ucrânia. 

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