Putin e Erdogan chegam a acordo para desminagem de portos para exportar cereais. Itália também oferece ajuda

Agência Lusa , BCE
1 jun 2022, 21:54
Erdogan e Putin

Chefe de Estado russo voltou a argumentar, perante Erdogan, que a crise alimentar “surgiu como resultado das políticas financeiras e económicas míopes dos Estados ocidentais”

Os presidentes russo e turco chegaram esta quarta-feira a acordo para a ajuda da Turquia nas operações de desminagem dos portos da Ucrânia para permitir a exportação de cereais do país, anunciou o ministro dos Negócios Estrangeiros russo, Serguei Lavrov.

No âmbito deste acordo, a Turquia vai tentar "ajudar a organizar a desminagem dos portos ucranianos para libertar os barcos que ali permanecem como reféns, com mercadorias de que os países em vias de desenvolvimento necessitam”, afirmou o chefe da diplomacia russa numa conferência de imprensa em Riade.

Segundo Lavrov, cujas palavras foram transmitidas pela televisão pública russa a partir da Arábia Saudita, as operações de desminagem com cooperação turca devem realizar-se “sem tentativas de reforçar o poder bélico da Ucrânia e prejudicar a Rússia”.

O diplomata russo escusou-se a fornecer mais pormenores, indicando que estes “serão discutidos entre militares, entre especialistas”.

Ao referir-se à crise alimentar - que a ONU e o Ocidente vinculam à ofensiva militar russa na Ucrânia através do bloqueio dos portos ucranianos -, Lavrov reiterou que a Rússia não é responsável.

“Repito: do nosso lado não existe qualquer obstáculo. Todos os obstáculos provêm da parte ucraniana ou daqueles países ocidentais que encobrem todas as ações inadmissíveis e ilegais do regime de Kiev”, sustentou.

Putin diz que crise alimentar deve-se às políticas "míopes" do Ocidente

Na segunda-feira, Putin mostrou-se disposto a facilitar o trânsito marítimo de mercadorias nos mares Negro e de Azov em coordenação com a Turquia, bem como a exportação de cereais a partir dos portos ucranianos.

O chefe de Estado russo voltou a argumentar, perante Erdogan, que a crise alimentar “surgiu como resultado das políticas financeiras e económicas míopes dos Estados ocidentais”.

Além disso, reiterou que a Rússia pode exportar volumes significativos de fertilizantes e produtos agrícolas se as sanções forem levantadas, indicou o Kremlin.

Por sua vez, Erdogan ofereceu-se novamente como mediador no diálogo – atualmente congelado – entre Moscovo e Kiev e propôs facultar uma eventual reunião entre Rússia, Ucrânia e ONU em Istambul, para liderar um mecanismo de controlo do conflito ucraniano.

O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, tinha repetido no dia anterior a sua proposta de se reunir com Putin, ao que o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, respondeu: “‘A priori’ ninguém descarta um encontro como esse e nunca ninguém o descartou”.

“Mas deve ser preparado. E se Putin e Zelensky se reunirem será para finalizar um determinado documento”, declarou, acrescentando que “o trabalho nesse documento está parado há muito tempo e, desde então, não foi retomado”.

Itália oferece-se para ajudar na desminagem de portos e exportação de cereais

O governo italiano ofereceu-se para ajudar a desminar os portos da Ucrânia, minados para os defender da invasão russa e assim desbloquear a exportação de alimentos e cereais do país.

O anúncio foi feito pelo ministro italiano dos Negócios Estrangeiros, Luigi Di Maio, num discurso no parlamento: "Estamos a pressionar para que sejam criados corredores marítimos para o transporte de matérias-primas alimentares, especialmente cereais, a partir de portos ucranianos."

Para que isso aconteça, acrescentou Di Maio, é necessário desminar os portos da Ucrânia, especialmente o de Odessa, que permanece sob o domínio ucraniano, aproveitando "a garantia russa de um trânsito seguro de cargas".

"A Itália já manifestou a sua disponibilidade para participar nas eventuais operações de desminagem, pretende favorecer um papel central das Nações Unidas e, eventualmente, unir-se a outros parceiros, como a Turquia, para a coordenação das operações", explicou.

A Ucrânia era antes da guerra um dos maiores exportadores mundiais de cereais e fertilizantes agrícolas e os seus bens eram cruciais para a segurança alimentar de áreas como o Médio Oriente e o norte de África.

A maioria dos bens alimentares ucranianos eram expedidos da antiga república soviética para o resto do mundo através dos portos do Mar Negro.

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