Benfica-V. Setúbal, 1-1 (crónica)

4 mai 2014, 20:02

Como é possível ser-se competente numa festa?

Uma das coisas que ainda não foi estudada em toda a sua dimensão passa por perceber como é possível ser-se competente numa festa.

Como é possível?

No trabalho é fácil percebê-lo. No papel que se tem no seio de uma família também é possível. No cuidado que se dá à saúde, sem dúvida.

Agora numa festa: como é possível?

Uma pessoa veste roupas leves e confortáveis, enche o peito de entusiasmo e a cabeça de bom humor, deixa o espírito ir até onde for possível e fica sem ânimo para pensar em mais nada. Muito menos em ser competente, seja lá o que isso for.

Foi mais ou menos o que aconteceu este domingo ao Benfica. O Estádio da Luz cobriu-se com 52 325 e uma euforia própria de quem esperava o melhor de uma festa.

Gritou-se, cantou-se e saltou-se. Fizeram-se coreografias e a onda mexicana.

Os jogadores cobriram o cabelo de vermelho e a cara de selos: ambos com uma tinta que, como o choco poderá explicar melhor do que eu, é coisa para trocar as ideias a qualquer um.

Confira a ficha de jogo e as notas dos jogadores

Ora por isso houve demasiada festa para se pensar que aquilo que se passava no relvado ainda era trabalho: não era, era outra coisa muito diferente. Era divertimento puro. Por isso, como qualquer rapaz num jogo de amigos, o Benfica esvaziou a tarde de pressão e encheu-a de erros. Passes mal feitos, perdas de bola, falta de velocidade. Havia apenas onzes homens e uma bola.

O V. Setúbal aproveitou este estado de alma para entrar a ameçar e nos primeiros minutos ficou perto do golo por duas vezes. Depois percebeu que estava a ser impertinente e recuou para a defesa.

Jorge Jesus não deu descanso a tanta gente como se pensava, mas poupou por exemplo Garay, Rodrigo e Markovic, enquanto Enzo Perez, Lima e Gaitán haveriam de entrar só na segunda parte.

O Benfica estava longe de ser uma equipa de segundas linhas, mas também não era o onze mais forte que podia ser. Entre jogadores sem confiança e outros sem vontade, a primeira parte passou sem merecer grandes retóricas para além daquela que já se fez: houve muita festa.

A segunda parte, sim, foi mais interessante. Jesus trocou Djuricic por Lima e o Benfica melhorou. Aproximou-se da baliza de Kieszek e marcou cedo, aos 57 minutos, numa jogada em que André Gomes combinou com Cardozo e finalizou dentro da área.

Um golo que teve um mérito enorme: invalidou desde já que o Benfica seja o primeiro campeão sem golos portugueses, o que ameaçava ser um factor de ruído desnecessário numa época tão avassalorada como foi esta.

A figura: André Gomes, finalmente um golo em português

Curiosamente o golo não mudou o Benfica, que continuou no mesmo registo descontraído. Por isso o V. Setúbal foi à procura do golo, atirou à trave num excelente momento de futebol (Tiba deu de letra para Paulo Tavares rematar) e marcou mesmo num penálti indiscutível.

O que sem dúvida veio trazer mais justiça à exibição encarnada.

O Benfica celebrou desta forma a conquista do título e do apuramento para a final da Liga Europa com um empate inédito este ano no campeonato (o último empate caseiro foi com o Arouca em dezembro) e uma exibição cinzenta. Mas pelo menos a festa foi bonita... e e enorme.

Voltando ao início, ainda está para se compreender como é possível ser competente numa festa.

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