CRÓNICA DE JOGO || A história da melhor exibição do Benfica na época bem que se podia resumir a 18 minutos. Depois ainda apareceu um menino para embelezar a coisa
Sejamos justos logo à partida: não era preciso muito para ver aparecer o melhor Benfica da época. Com Bruno Lage foi, até certo ponto, competente, mas nunca foi deslumbrante. Com José Mourinho até perdeu alguma competência aqui e ali ao início, com a qualidade a continuar longe da equipa.
Essa premissa assustava todos os benfiquistas na antecâmara de uma sempre difícil visita a Guimarães, onde o Vitória local não está na melhor das épocas, mas é sempre um gigante a jogar em casa.
Desconfianças iniciais que a primeira parte não foi propriamente lesta em afastar. Vitória e Benfica anularam-se mais do que se atacaram, com um primeiro tempo quase inócuo e com pouca história para contar.
Sudakov, Prestianni ou Lukébakio não estavam a ter jogo. Sem grande engenho coletivo, são estes jogadores que têm de puxar pelos restantes.
Com os dois primeiros amarelados, José Mourinho decidiu que era preciso mexer logo ao intervalo.
Se era óbvio que os amarelos podiam ser razões óbvias, logo se percebeu que um dos homens que vinha a jogo tinha uma missão maior do que apenas uma troca por troca.
Leandro Barreiro, aquela espécie de patinho feio que de vez em quando vira cisne, teve uma dessas noites. Não marcou, mas foi decisivo para baralhar por completo o adversário. Foi ele o toque de Midas de José Mourinho.
E se é possível dizer que Sudakov ou Prestianni andaram fora de jogo em quase toda a primeira parte - o próprio Benfica pareceu ter jogado com 10 a espaços nesses momentos -, a entrada de Leandro Barreiro teve efeito contrário. Quase como se o luxemburguês tivesse multiplicado posições, com o Benfica a passar a jogar virtualmente com 12 jogadores.
Percebeu-se isso mesmo logo a abrir a segunda parte, quando só um milagre fez com que o próprio Leandro Barreiro não marcasse. Ele que, como tantas vezes faz, apareceu no espaço morto para finalizar.
Só que a entrada do médio que era suposto ser mais defensivo mas tem sido decisivo é a atacar teve o condão de também libertar o agitador Lukébakio. O belga não é o melhor jogador do Benfica em termos absolutos, mas é, no tempo de José Mourinho, o jogador mais valioso.
Foi ele que fez o tal cruzamento a abrir o segundo tempo, por exemplo. E também foi ele que marcou o canto que confirmou a boa entrada do Benfica na segunda parte, quando já iam três oportunidades claras de golo contadas.
Com a colher no pé esquerdo meteu a bola na cabeça de Tomás Araújo, que aproveitou uma ausência de defesas adversários e uma má abordagem do guarda-redes para fazer o primeiro. Cheirava a golo e o cheiro tinha razão.
E se se esperava uma natural reação do Vitória, uma entrada totalmente descabida de Fabio Blanco deitou tudo a perder. O jogador da casa elevou o pé demasiado e colocou os pitons à frente, acabando por atingir o adversário. João Pinheiro não teve dúvidas: vermelho direto.
Se o Benfica já parecia jogar com 12 a espaços, imagine-se quando passou a jogar contra 10.
Aos 56 minutos, e com o Benfica a fazer em 11 minutos infinitamente mais que nos outros 45, o jogo estava mais que encaminhado.
Para as poucas dúvidas que existissem, o golo de Samuel Dahl ao minuto 63 esclareceu tudo. E é inevitável voltar a falar de Lukébakio. Não assistiu, mas o perigo que representa destraiu claramente a equipa adversária. Perante isso, o belga deixou no comboio Aursnes, que cruzou rasteiro para um grande remate do lateral do outro lado.
O Benfica desacelerou um pouco, mas sempre alerta e a controlar, não permitindo ao Vitória sequer acreditar.
O jogo acabou por evoluir favoravelmente, de tal forma que o jovem João Rego conseguiu ter tempo para se estrear a marcar esta época pelo Benfica.
Contas feitas, 0-3 num dos campos mais difíceis da Liga e a melhor exibição - mesmo que apenas em 45 minutos - do Benfica esta época. É também a primeira vez que José Mourinho consegue duas vitórias na Liga.