Violência do namoro. Quais os sinais a que os pais devem estar atentos?

14 fev 2022, 16:19

As novas tecnologias e as redes sociais não facilitam o trabalho vigilante dos pais, mas, mesmo assim, é possível identificar sinais de alerta

Com tantas tecnologias e redes sociais torna-se cada vez mais difícil para os pais perceber se os filhos são vítimas de violência no namoro, até porque, muitas vezes, os comportamentos abusivos são praticados virtualmente através destas plataformas. Uma tendência que se tornou cada vez predominante com a pandemia de covid-19. 

Um estudo divulgado esta segunda-feira, sobre violência no namoro em contexto universitário, revelou que mais de metade dos participantes já tinha sido sujeito a pelo menos um ato violento, em concreto 53,2% das mulheres e 53,6% dos homens, e cerca de 32,4% já tiveram gestos abusivos. 

Quando um jovem está numa relação tóxica e é vítima de agressões psicológicas, físicas, sexuais ou sociais, começa a apresentar alguma sintomatologia ainda que a relação seja recente. De acordo com Rute Agulhas, psicóloga clínica e forense, estes jovens podem tornar-se "mais ansiosos, depressivos, podem sofrer alterações no comportamento alimentar, ter comportamentos sexuais de risco, isolar-se socialmente" e, em casos mais dramáticos, podem levar ao "consumo de substâncias ou ideação suicida". 

Também podem surgir lesões físicas para as quais não apresentam explicação, problemas de concentração, dificuldades em dormir, problemas de memória, dificuldades em tomar decisões, medo e nervosismo constante, diminuição da autoconfiança, fugas da escola ou de casa, desinteresse em estar com amigos e familiares e recusa ou afastamento de atividades anteriormente praticadas. 

Para precaver estas situações ou ser informado de que se passa algo de errado, é importante, segundo a especialista, que desde cedo "os pais tentem estabelecer uma comunicação aberta e uma relação de confiança com os filhos", de forma a aumentar a "probabilidade de estes partilharem eventuais situações abusivas e pedirem ajuda".

Como é que os pais devem agir se se aperceberam que o(a) filho(a) está numa relação abusiva? 

Em primeiro lugar, devem manter a calma e "sem críticas ou juízos de valor, conversar com o(a) filho(a)" e tentar, acima de tudo, ouvir o que este tem para dizer. "Apoiar, dar suporte emocional e disponibilizar-se para ajudar, salientando que é necessário protegê-lo/a e sinalizar a situação às entidades competentes", explicou à CNN Portugal Rute Agulhas.

"Uma das estratégias do agressor é colocar a responsabilidade da agressão na vítima, potenciando sentimentos de culpa e de ambivalência face ao agressor. Neste contexto, sabemos que muitas vítimas não pedem ajuda e desculpabilizam o agressor, pelo que os pais devem ter esta situação em conta e não reforçar a culpa que a vítima já poderá sentir". 

Tanto os pais, como a escola e as autoridades, devem apostar numa abordagem de "prevenção primária". Isto significa que os jovens devem estar o melhor informados sobre o que constitui um comportamento abusivo, saber onde e a quem denunciar e pedir ajuda. assim como devem desconstruir a ideia de que alguns gestos são sinais de carinho e cuidado. Para que isso aconteça, e segundo a especialista, é preciso: 

  • Aumentar conhecimentos acerca da violência nas relações de intimidade juvenil;
  • Capacitar para o reconhecimento de relações íntimas abusivas;
  • Identificar e desconstruir crenças que legitimem este tipo de violência ("a vítima pode ser justificada pelo comportamento da vítima"; "a violência é um assunto privado"; "a violência pode ser causada por fatores externos e, por isso, o agressor não tem controlo");
  • Promover competências sociais (autoestima, assertividade, capacidade em gerir conflitos);
  • Desenvolver competências para gerir uma situação de violência;
  • Saber pedir ajuda.

A violência no namoro integra-se no quadro legal do crime de violência doméstica, no artigo 152.º do Código Penal. Uma vez que se trata de um crime público e de responsabilidade coletiva, as vítimas, ou qualquer outra pessoa que tenha conhecimento de uma situação de violência ou abuso, devem apresentar queixa nas esquadras ou procurar ajuda junto das Equipas da Escola Segura (contexto escolar) ou das Equipas de Proteção e Apoio à Vítima. Podem ainda pedir apoio ou sinalizar situações através de escolasegura@psp.pt ou violenciadomestica@psp.pt.

Para além disto, podem dirigir-se a um posto da GNR, a centros de saúde, hospitais ou estruturas de apoio como a Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV). 

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