Violência doméstica: já morreram 16 mulheres este ano, tantas como em 2021. Uma em cada dez dias

25 jun 2022, 21:45

Cláudia foi a vítima mais recente. Antes foram Elsa, Marta, Madalena, Sandra, Alda, Silvana, Lucília, Marisa, Celestina, Sílvia, Luísa, Assunção e Sara. A mais velha tinha 78 anos, a mais nova 31. Para todas, a vida acabou abruptamente em 2022

Chamava-se Cláudia Serra, tinha 39 anos, era esteticista e morreu este sábado. Deixa para trás dois filhos. Estava internada nos cuidados intensivos do Hospital de São João, no Porto, depois de ter sido atingida na cabeça por um "objeto não identificado" (que seria um ferro) e, posteriormente, baleada.

O alegado agressor é um homem de 44 anos, primeiro começou por fugir, mas depois entregou-se às autoridades, na quarta-feira. Era o marido da vítima. O caso ocorreu em Soalhães, no concelho de Marco de Canaveses.

Cláudia foi a mais recente vítima mortal da violência doméstica em Portugal, mas não é a única. Elsa, Marta, Madalena, Sandra, Alda, Silvana, Lucília, Marisa, Celestina, Sílvia, Luísa, Assunção e Sara também foram mortas desde o início do ano. E ainda duas mulheres cujos nomes não conseguimos identificar. Desde janeiro, já foram 16 as mulheres que acabaram por morrer em contexto de violência doméstica, um número que equivale ao total de vítimas de violência doméstica em 2021

Em 2022, a cada dez dias uma portuguesa foi morta pelo companheiro ou ex-companheiro.

A mais velha tinha 78 anos, a mais nova 31. Para todas, para muitas, para demasiadas mulheres a vida terminou abruptamente mais cedo. Em mais de metade dos casos, as situações de violência doméstica estavam sinalizadas pelas autoridades.

O que está a falhar?

Para Cátia Pontedeira, do Observatório de Mulheres Assassinadas, é perentório reforçar as medidas de combate à violência doméstica já e de modo a prevenir situações em que o desfecho é letal.

“Algo que também está a falhar é a intervenção com as pessoas agressoras. Não basta a pena, não basta a sentença ser proferida”, alerta Cátia Pontedeira.

A especialista em criminologia acredita que uma avaliação da perigosidade ao agressor e o seu afastamento “deveria ser suficiente para prevenir estes desfechos”, mas para isso é também necessário que existam “mais condenações efetivas”, alerta.

O Observatório de Mulheres Assassinadas acredita que os números registados desde janeiro são claros e mostram uma falha nas medidas de atuação e apoio à vítima. Só entre janeiro e maio deste ano, a PSP registou mais de seis mil ocorrências de violência doméstica, o que dá uma média de 41 crimes por dia. Estes números já são superiores aos registados em 2020 e 2021.

Cátia Pontedeira avisa ainda que é necessário reforçar e melhorar as unidades de serviços de atendimento especializados para crianças e adolescentes em contexto de violência doméstica.

“Este é um serviço absolutamente fundamental, mas precisa necessariamente de ser expandido para várias regiões do país, porque é importante que as crianças também sejam entendidas como vítimas e que haja um apoio especializado para elas”, aponta o Observatório de Mulheres Assassinadas.

Em 173 dias, de 3 de janeiro a 25 de junho, 16 mulheres foram mortas. Eis a cronologia:

3 de janeiro: Elsa, 44 anos, Beja
 
27 de janeiro: Alda, 49 anos, Setúbal
 
25 de fevereiro: 
Sandra, 31 anos, Penafiel
 
28 de fevereiro: Silvana, 42 anos, Cascais
 
11 de março: Lucília, 56 anos, Arcos de Valdevez

14 de março: Maria, 74 anos, Lagos

21 de março: Madalena, 63 anos, Vila Real
 
9 de abril: Marta, 47 anos, Barcelos
 
3 de maio: Sónia, 33 anos, Ponte de Lima
 
4 de junho: Celestina, 51 anos, Arouca
 
6 de junho:
Sílvia, 46 anos, Felgueiras
 
15 de junho: Assunção, 78 anos, Seia
 
21 de junho: Sara, 38 anos, São Domingos de Rana

22 de junho: cadáver de mulher encontrado, cerca de 50 anos, Leiria
 
25 de junho: Cláudia, 38 anos, Marco de Canaveses

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