Médica agredida nas urgências do Hospital de Gaia. Um caso longe de estar isolado

20 dez 2021, 15:18
Coronavírus

Violência sobre profissionais de saúde está a aumentar: até outubro foram notificados 752 casos, mais 27 do que ano passado. No fim de semana, enfermeiro foi agredido em Aveiro. Falta de médicos e tempos de espera são os principais causadores de ansiedade entre os pacientes

Uma médica do serviço de urgência do Hospital Vila Nova de Gaia foi, esta segunda-feira, agredida por uma paciente que reagia ao facto de estar há muito tempo à espera sem ser atendida. Apesar de ter ficado com pequenas escoriações no corpo, "fisicamente a médica está bem, mas psicologicamente ficou muito afetada", confirmou à CNN Portugal Margarida Mota, a chefe de equipa do serviço de urgência quando tudo aconteceu, cerca das 04:00.

"É algo que acontece muitas vezes nos serviços de urgência, que se debatem com a falta de médicos e com o excesso de pacientes à espera", diz Margarida Mota. A paciente, que terá entre 40 e 50 anos, não era uma doente urgente e por isso já estaria há algum tempo na sala de espera, entretendo-se a fazer crochet. No momento em que a interna foi à casa-de-banho, a mulher atacou a médica, usando inclusivamente as agulhas de crochet. Um outro médico surgiu de imediato para ajudar a colega.

Segundo Margarida Mota, foi imediatamente chamado o segurança e a polícia, "a situação foi controlada e foram feitas as respetivas participações". 

"Neste momento a médica está a descansar e tem os telemóveis desligados, temos de dar-lhe algum tempo para recuperar e depois veremos o que poderemos fazer."

"Tudo isto é dramático. Já estamos habituados a ser insultados verbalmente, mas desta vez houve um descontrolo", explica Margarida Mota.

"Como outros hospitais, aqui [Vila Nova de Gaia] também temos equipas que funcionam com muitos tarefeiros. Alguns dos tarefeiros não compareceram, o que fez com que os médicos de especialidades tivessem de assegurar os seus pacientes e os dos outros médicos. Isto cria uma pressão muito grande. É preciso fazer uma priorização e é óbvio que os doentes menos urgentes acabam por ficar muito tempo à espera."

Enfermeiro agredido em Aveiro

Também esta segunda-feira, a PSP informou que deteve uma jovem, de 21 anos, por ter agredido um enfermeiro que estava a trabalhar no Serviço de Urgência do Hospital de Aveiro.

Em comunicado, a PSP esclarece que a agressão ocorreu no sábado de madrugada e a vítima foi um enfermeiro que estava no exercício das suas funções.

"Após comunicação a dar notícia de uma cidadã a perturbar o normal funcionamento do Serviço de Urgências do Centro Hospitalar Baixo Vouga, onde, momentos antes, já havia efetuado uma tentativa de agressão a um enfermeiro, esta Polícia deslocou-se, de imediato, ao local de ocorrência", refere a mesma nota.

Ao ser interpelada pelos polícias, a suspeita terá apresentado uma postura "agressiva e pouco colaborante", tendo, segundo a PSP, desferido "um soco na região lombar da coluna e um pontapé nos membros inferiores de um enfermeiro, que ali exercia funções", pelo que lhe foi dada voz de detenção. A jovem foi detida por suspeita da prática de um crime de ofensa à integridade física.

Violência sobre profissionais de saúde está a aumentar

De acordo com os dados disponíveis na plataforma Notifica, da Direção-Geral da Saúde (referentes a instituições do SNS e excluindo as instituições das regiões autónomas e as de âmbito nacional, por exemplo, INEM), entre janeiro e outubro deste ano foram notificadas 752 situações de violência.

Este número, explica a DGS à CNN Portugal,corresponde a um aumento de 27 episódios de violência (mais 4%) face aos que foram registados no mesmo período de 2020 (725).

A violência psicológica continua a representar a principal tipologia de violência (63%), seguindo-se a violência física (17%) e o assédio moral (14%).

O principal grupo profissional notificador é o dos enfermeiros (32%), seguindo-se os médicos (31%) e os assistentes técnicos (30%), revela a DGS.

"Isto não é um problema só deste hospital, acontece em todos os hospitais", reconhece Margarida Mota, do Hospital de Vila Nova de Gaia. Estas situações estão a tornar-se cada vez mais comuns: "Não consigo criticar duramente os doentes. São pessoas que vão várias vezes aos centros de saúde, não conseguem consulta e acabam por vir onde há uma porta aberta. Mas, depois, como não são doentes prioritários e há muita falta de médicos ficam aqui sete ou oito horas à espera, às vezes com dores. Não é fácil para ninguém."

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