Aperto de mão durante cimeira em Pequim levanta preocupações junto dos líderes da Europa. "Putin só está a realizar estas reuniões com o objetivo de acabar com a união dos países europeus e do mundo democrático"
O encontro entre o presidente russo e o primeiro-ministro húngaro deixou a Europa preocupada e levou mesmo os embaixadores dos países da NATO na Hungria a reunirem-se em Budapeste, por iniciativa do representante norte-americano, para discutir a preocupação com as ligações mantidas pela Hungria com a Rússia.
A reunião, que contou também com a presença da Suécia, candidata à Aliança Atlântica, aconteceu dois dias depois de Viktor Orbán se ter encontrado com Vladimir Putin em Pequim para uma discussão sobre cooperação energética e paz.
O jornal Guardian descreve a atitude como "rara", uma vez que Orbán é líder de um país que pertence à União Europeia e à NATO. No entanto, a Hungria há muito que é criticada pelas políticas favoráveis à Rússia e à China, tendo em conta que o ministro dos Negócios Estrangeiros, Péter Szijjártó, visita regularmente Moscovo.
A reunião entre Putin e Orbán em Pequim acabou por deixar os líderes europeus em polvorosa e, ao jornal inglês, Petr Pavel, presidente da República Checa, afirmou que o presidente russo "só faz estas reuniões com o objetivo de acabar com a união dos países europeus e do mundo democrático".
"Como tem sido demonstrado repetidamente, Putin não se encontra com os líderes europeus com o objetivo de alcançar a paz na Ucrânia. A paz pode ser alcançada sem quaisquer negociações da sua parte, bastando cessar os ataques e retirar as suas tropas do território ucraniano. Putin só está a realizar estas reuniões com o objetivo de acabar com a união dos países europeus e do mundo democrático. Não devemos cair nas suas táticas."
Já em declarações à Reuters, a primeira-ministra da Estónia, Kaja Kallas, considerou que as imagens do primeiro-ministro húngaro a apertar a mão a Putin eram "muito, muito desagradáveis" e desafiavam a lógica.
Também o embaixador norte-americano, David Pressman, que denunciou o uso do termo “operações militares” por Viktor Orbán para descrever o conflito, afirmou que todos estão preocupados com esta reunião.
“Estamos todos preocupados que o primeiro-ministro húngaro se tenha reunido com o presidente Putin enquanto a Rússia trava uma guerra de agressão contra a Ucrânia. É preocupante que a Hungria tenha optado por cooperar com o Kremlin desta forma”, disse, prometendo levar estas preocupações de segurança aos aliados, depois de já ter criticado o primeiro-ministro húngaro na terça-feira por este ter estado “ao lado de um homem cujas forças são responsáveis por crimes contra a humanidade na Ucrânia”.
O Governo húngaro desvalorizou as críticas. "A posição da Hungria em relação à Rússia e à guerra na Ucrânia tem sido clara desde o início. Sempre defendemos um diálogo aberto e transparente com as partes envolvidas para ajudar a encontrar uma solução pacífica para este conflito sangrento. Acho divertido ver como estes políticos se aglomeram para criticar o governo húngaro e o nosso interesse declarado em manter uma relação diplomática com a Rússia enquanto a sua superioridade moral é, na melhor das hipóteses, uma fachada", afirmou o porta-voz do governo húngaro, Zoltán Kovács, citado pelo Guardian.