Investigação jornalística concluiu que houve várias tentativas de recrutar espiões dentro da Comissão Europeia. O objetivo era, mais do que favorecer o país, favorecer uma pessoa
É o maior entrave à aplicação de sanções à Rússia e também é o país que quer continuar a ter relações comerciais com Moscovo, minando os esforços da União Europeia para tentar apoiar a Ucrânia ao máximo.
Mas sabe-se agora que a Hungria foi ainda mais longe nestes últimos anos, em que tentou estabelecer uma rede de espionagem para recolher informações nas instituições de… Bruxelas.
Apesar de pertencer à União Europeia, a Hungria desencadeou uma grande operação secreta para montar uma rede de espionagem na sede da União Europeia. A informação é avançada pelo jornal belga De Tijd e pelo jornal alemão Der Spiegel, na sequência de meses de investigação que contaram com vários contributos, incluindo o Direkt36, um centro de investigação jornalística sem fins lucrativos sediado na Hungria.
Com base numa série de fontes, incluindo dentro dos serviços de informação e da representação permanente da Hungria, a investigação concluiu que havia mesmo um plano a ser montado em Budapeste para espiar o que se fazia em Bruxelas.
Já depois de a notícia vir a público, a agência Reuters avançou que a Comissão Europeia concordou em abrir uma investigação ao caso, pretendendo esclarecer se houve, de facto, alguma tentativa de ingerência por parte da Hungria.
A investigação jornalística menciona especificamente um cidadão húngaro que trabalhava para a Comissão Europeia e que se terá encontrado com um compatriota nomeado como “V.”.
Os encontros aconteciam com uma periodicidade de três a seis meses. “V.” era um diplomata que trabalhava na representação permanente da Hungria na Comissão Europeia, na área de Economia e Finanças.
Os encontros ocorreram sempre num parque de Bruxelas entre 2015 e 2017, até que “V.” levou um documento para ser assinado pela outra parte, o que levantou suspeitas. O objetivo era que a outra pessoa continuasse a trabalhar para a Comissão Europeia, mas já como agente duplo, uma vez que seria também um “agente secreto” do Informacios Hivatal (IH), os serviços secretos húngaros. Em troca, essa pessoa receberia dinheiro.
O responsável da Comissão Europeia ficou em choque, tendo rejeitado firmemente a proposta. Não só não gostou da abordagem, como entendeu que o objetivo não tinha em conta os interesses russos, mas apenas uma “elite poderosa ou até uma única pessoa”, numa referência clara ao primeiro-ministro da Hungria, Viktor Órban.
Trata-se de uma prática que, como diz o Deutsche Welle, é mais comum entre a Rússia ou a China, nomeadamente de instituições como o KGB, a agência soviética onde chegou a trabalhar um tal de Vladimir Putin.
Falta agora perceber a extensão da rede de espionagem, mas os jornalistas que lançaram a investigação sublinham que o atual comissário europeu da Saúde e Bem-estar animal, o húngaro Oliver Varhelyi, sabia destas atividades.