"É claramente uma cura". 'Paciente de Dusseldorf' considerado curado do VIH após quatro anos sem medicação

20 fev 2023, 18:37
VIH (AP)

Mais de dez anos depois do primeiro caso de cura, o "paciente de Dusseldorf" volta a animar investigadores

Um alemão de 53 anos foi considerado curado do vírus da imunodeficiência adquirida (VIH), tornando-se assim no terceiro caso em todo o mundo.

O "paciente de Dusseldorf”, como foi apelidado pelos investigadores da revista Nature, que publicou o estudo, já tinha tido resultados promissores em 2019, mas na altura não houve uma confirmação oficial de cura. Confirmação essa que chegou agora, uma vez que continua a não existir qualquer traço do vírus que causa a síndrome de imunodeficiência adquirida (SIDA) no organismo do homem, mesmo depois de quatro anos sem medicação.

“É claramente uma cura, não apenas uma remissão de longo prazo”, garantiu o médico Bjorn-Erik Ole Jensen, que apresentou os resultados.

Este homem junta-se a Timothy Ray Brown, na altura conhecido como “o paciente de Berlim”, a primeira pessoa que foi oficialmente curada do VIH, em 2009, e a um homem de Londres que em 2019 apresentou resultados semelhantes.

“Obviamente que isto é um símbolo positivo de esperança, mas existe muito a fazer”, alertou Ole Jensen, recordando que o VIH continua a ser, na esmagadora maioria dos casos, uma doença que não é possível de erradicar, ainda que os antivirais e outros medicamentos disponíveis no mercado tenham possibilitado uma maior esperança de vida para estas pessoas.

A cura do “paciente de Dusseldorf”, tal como nos outros dois casos, foi possível graças a um procedimento que normalmente é utilizado para pacientes com cancro e que não têm outras opções, o transplante de medula óssea. Neste caso o alemão tinha leucemia, tendo sido por isso que foi realizada a cirurgia. A medula que recebeu tem uma mutação que impede o VIH de entrar no organismo, o que neste caso significou a cura. Essa mutação como que apaga a proteína CCR5, responsável pela entrada do VIH nas células. Trata-se de uma modificação genética rara, e que está presente em apenas 1% das pessoas.

“Penso que podemos tirar várias conclusões deste paciente e de outros casos similares”, afirmou Ole Jensen, esperando que daí surjam “algumas pistas para uma estratégia mais segura”.

Um artigo da revista The Lancet publicado em 2022 dava conta de que uma pessoa diagnosticada precocemente e que siga a medicação necessária pode ter uma esperança média de vida semelhante à de outras pessoas não infetadas. Já alguém com baixos níveis de linfócitos CD4 pode ter uma esperança média de vida até 30 anos mais baixa, “o que indica a importância de um diagnóstico precoce e de tratamento sustentado”, lê-se no estudo.

O VIH entra no sistema imunitário e destrói as suas células, sendo que a continuação dos danos pode levar à SIDA, quando a pessoa deixa de conseguir combater infeções, por muito pequenas que sejam, o que a coloca em risco de vida perante uma simples constipação.

De acordo com a Organização Mundial de Saúde, há 38,4 milhões de pessoas com VIH em todo o mundo. Uma cura generalizada e totalmente eficaz ainda não foi descoberta, pelo que este tipo de resultados leva a novas áreas de investigação, ao mesmo tempo que se continuam estudos para a possibilidade de uma vacina.

A Organização das Nações Unidas definiu o objetivo de "acabar com a epidemia de SIDA em 2030", mas vários países ainda estão atrasados nessa luta. Uma meta que o Reino Unido anunciou querer cumprir, mas que os especialistas recentemente disseram ser difícil de atingir em Portugal.

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