Reportagem: Cheira a morte nos corredores do teatro de Mariupol

11 abr 2022, 22:38

Chegar ao teatro de Mariupol não é uma missão fácil. Atravessar uma cidade completamente destruída implica passar por ruas cheias de destroços, estradas com crateras e por vários postos de controlo, que não podemos filmar. Esta sala de espectáculos fica no centro de Mariupol, bem perto das zonas da cidade onde ainda se travam combates. Terá sido um ataque aéreo, em pleno cerco das tropas russas à cidade, que a 16 de março provocou a destruição do teatro.

Quando chegamos ao local, ouvem-se disparos constantes, granadas de morteiro e a aviação russa que tenta acabar com a última bolsa de resistência ucraniana no complexo metalúrgico Azovstal. Depois de passarmos a porta, tentamos reconstruir o que terá acontecido. Alguns cartazes de vários espectáculos resistiram ao fogo mas, para lá do átrio principal, é um filme de terror. Os corredores do primeiro piso foram consumidos pelas chamas.

Na nossa caminhada, vamos encontrando vestígios daquilo que um dia foi um teatro. Aqui vemos algumas cadeiras. Mais à frente, projectores e também as cordas que manobravam os panos e o cenário.

Apesar de a estrutura estar debilitada, arriscamos subir até ao piso superior para termos uma ideia do desastre. É aqui que percebemos a dimensão da derrocada interna. O edificio abateu sobre a parte central, onde estava o palco e uma plateia com capacidade para cerca de um milhar de pessoas.

Segundo a Rússia, teria sido o neonazi Batalhão Azov a implodir o teatro. De acordo com a Ucrânia, tratou-se de um ataque aéreo russo. Mas a guerra da autoria passou para a batalha dos números e ninguém sabe ao certo quantas pessoas terão morrido dentro deste edificio. O presidente ucraniano alega que as vítimas mortais podiam ser centenas. Não pudemos confirmar estas informações mas, infelizmente, descobrimos vários cadáveres.

Foi já na parte inferior do edifício que encontrámos quatro corpos calcinados pelo fogo. Cheira a morte nestes corredores. Entre a escuridão e os disparos, tentámos passar o teatro a pente fino e acedemos às várias salas que serviam de abrigo na cave. O fogo não chegou a esta parte. Encontramos camas, sofás, mesas, cobertores e alimentos. Provavelmente, foi daqui que saiu centena e meia de pessoas com vida, segundo as autoridades ucranianas. Já no exterior damos a volta ao teatro e observamos as ruínas.

Nas traseiras, várias pessoas enchem garrafões de água, outras retiram madeira dos destroços para cozinharem e para se aquecerem. Este homem diz-nos que há dois corpos deste lado do teatro. Caminhamos para onde nos indica e encontramos duas pessoas soterradas debaixo dos escombros. É um cenário desolador enquanto prosseguem os combates ali ao lado. Esta gente que já se habituou aos tiros e às explosões tudo o que pede é o fim do conflito. Para que a guerra exista apenas nos cinemas e peças de teatro.

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