Conseguiu o último lugar num voo ao lado de um desconhecido. Estão casados há 40 anos

CNN , Francesca Street
26 jul, 11:00
Graham e Vickie

Vickie Moretz nunca tinha saído do Sul dos Estados Unidos, muito menos viajado para o estrangeiro. A perspetiva de voar sobre o Atlântico era, ao mesmo tempo, emocionante e assustadora.

Era fevereiro de 1982. Vickie tinha 22 anos, tinha acabado de se formar na Universidade do Tennessee e estava a caminho de Londres, para participar num programa de trabalho e estudo.

Estava a viajar com uma das suas melhores amigas, Sandra. As duas jovens fizeram malas enormes (“Lévamos tudo o que tínhamos no guarda-roupa, duas malas grandes para cada uma”) e carregaram-nas desde o Ohio, passando por Nova Orleães, até ao que, na época, se chamava Aeroporto Nacional de Washington.

As amigas tinham bilhetes em lista de espera reservados num voo da World Airways para o Aeroporto Heathrow, em Londres. Reservaram os bilhetes em lista de espera simplesmente porque era a opção mais barata. Nunca lhes ocorreu que os bilhetes eram baratos por um motivo.

“Eu nem sabia o que significava a palavra standby”, conta agora Vickie à CNN Travel. “Tudo o que eu sabia era que tinha feito um ótimo negócio”.

As duas jovens ficaram tão aliviadas por terem chegado a Washington DC (não tinha sido fácil arrastar as suas malas grandes para um autocarro e um comboio lotado) que, quando chegaram ao aeroporto, ambas relaxaram.

“Eu não sabia que era preciso fazer o check-in. Não sabia mesmo o que era preciso fazer”, lembra Vickie.

Quando perceberam que os seus bilhetes não garantiam que iriam embarcar no voo, Vickie e Sandra entraram em pânico.

No portão de embarque, as duas mulheres esperavam ansiosamente, chorando com a ideia de que não iriam conseguir embarcar — ou, pior ainda, que uma delas poderia ser admitida a bordo e a outra não.

Entre soluços, explicaram aos funcionários do aeroporto que nenhuma delas tinha viajado para o estrangeiro antes e que dependiam uma da outra para se apoiarem mutuamente.

Sandra foi autorizada a embarcar primeiro. Poucos minutos depois, Vickie foi informada de que tinha conseguido o último lugar no avião.

“Levaram-me pela primeira classe, acompanharam-me até à parte de trás do avião, voltaram, atiraram a minha bagagem para um lugar, ela bateu na pessoa ao lado, ela virou-se e era a minha amiga”.

Contra todas as probabilidades, Vickie e Sandra não só conseguiram embarcar, como acabaram por ficar em lugares ao lado uma da outra. Abraçaram-se felizes, enxugando as lágrimas, enquanto respiravam de alívio. E, depois, Sandra apresentou Vickie ao homem que completava a fila de três.

“Este é o Graham”, disse-lhe ela. “Ele é inglês”.

Graham sorriu, em sinal de cumprimento. Vestido com uma camisola verde e com cabelo ruivo encaracolado, ele exalava uma confiança amigável e descontraída que instantaneamente deixou Vickie à vontade. O pânico das últimas horas tinha diminuído oficialmente.

Graham também tinha 22 anos e era natural de Lancashire, no Norte da Inglaterra. Tinha-se formado na Universidade de Leeds, no Reino Unido, no ano anterior, e acabara de passar vários meses a viajar pelos Estados Unidos, enquanto esperava para começar a faculdade de Direito.

“Poupei algum dinheiro, comprei um bilhete só de ida para Nova Orleães e passei cerca de seis semanas a viajar pelos Estados Unidos até o meu dinheiro acabar”, conta agora Graham à CNN Travel.

Tal como Vickie e Sandra, Graham reservou um bilhete em lista de espera. Ao contrário de Vickie e Sandra, ele sabia o que isso significava. Não fazia ideia se seria autorizado a embarcar no voo ou não, mas estava entusiasmado por conseguir um lugar e igualmente entusiasmado por estar sentado ao lado de duas americanas simpáticas, ansiosas por saber tudo sobre o Reino Unido.

“Elas estavam exaustas e esgotadas, mas obviamente animadas por se reencontrarem no avião”, lembra Graham. “E nós simplesmente começamos a conversar”.

Graham gostou de Vickie e Sandra imediatamente. Elas eram fáceis de lidar, divertidas e seu entusiasmo era contagiante. Ele entreteve-as com histórias sobre a Inglaterra e estava ansioso para ouvir como era a vida no Sul dos Estados Unidos.

Vickie também gostou de Graham. Graças a ele, ela teve uma ótima primeira viagem transatlântica.

“Nós rimos muito”, lembra Vickie. “Ficamos acordados a noite toda. Foi a nossa segunda noite acordadas, Sandra e eu, porque tínhamos ficado acordadas na noite anterior para tenta chegar ao aeroporto. E ele foi adorável. Tornou-se um bom amigo imediatamente”.

Embora Vickie achasse Graham divertido e fácil de conviver, não pensou que ele seria mais do que um amigo, pelo menos para ela.

“Ele tinha cabelo ruivo encaracolado naquela época — era uma permanente, não era natural — e a minha amiga adora homens com cabelo encaracolado. Então pensei: ‘Que bom, a Sandra encontrou o seu par ideal’.”

Graham prometeu ajudar Vickie e Sandra a transportar a sua bagagem de Heathrow para o centro de Londres. Depois disso, ele teria de voltar para o Norte para ver a família, mas disse que voltaria à capital em breve.

“Estávamos entusiasmadas por ele nos levar para passear”, lembra Vickie. “Ele passou a noite toda a contar-nos a história da Inglaterra”.

Vickie lembra-se vividamente de Graham a tentar explicar 1066, considerada uma data crucial na história inglesa, quando Guilherme da Normandia derrotou o rei Harold II na Batalha de Hastings.

“Eu nem sabia o que era 1066”, diz Vickie. “No momento em que saí do avião, sabia tudo o que tinha acontecido. Estou surpreendida por não ter memorizado os reis e rainhas no final”.

“Gostei de ensinar as meninas e apresentá-las ao meu país”, diz Graham. “Não podia acreditar na minha sorte por me ter sentado ao lado de duas loiras lindas e, com certeza, estava ansioso para vê-las novamente. Fiz planos concretos para as visitar, antes de me despedir delas naquele primeiro dia”.

Depois de aterrar no Reino Unido, o trio seguiu de comboio para o hotel central onde Vickie e Sandra iriam viver e trabalhar durante os próximos três meses. Graham liderou o caminho, ensinando Vickie e Sandra a navegar no sistema de transportes estrangeiro e ajudando-as a transportar as malas grandes para dentro e para fora dos vagões.

Era hora de ponta e o trio deu por si num comboio suburbano lotado. Vickie ficou surpreendida por ninguém a bordo estar a conversar ou mesmo a olhar uns para os outros. Ela, Sandra e Graham interromperam o silêncio com a sua conversa animada.

“Nós três causámos uma comoção com as nossas gargalhadas e comentários constantes, enquanto apontávamos para as janelas, o que fez com que alguns sorrissem com o nosso entusiasmo”, lembra Vickie.

“Quando saímos da estação, ficámos impressionadas com a beleza de Londres, mesmo com o nevoeiro, e apaixonámo-nos pela cidade naquele mesmo dia”.

Antes de se despedir e se preparar para apanhar o comboio para o Norte, para a casa dos pais, Graham ofereceu a Vickie e Sandra as suas primeiras chávenas de chá britânico. Prometeu voltar no fim de semana seguinte, mas a sua partida ainda tinha um toque de tristeza.

“Enquanto tomávamos o chá e ele se preparava para partir, dizíamos: ‘Oh, não’. Ele tinha-se tornado no nosso melhor amigo. E pensávamos: ‘Oh, odiamos deixá-lo’. Então eu disse: ‘Bem, temos de tirar fotos’”, lembra Vickie.

Vickie e Graham posaram para esta fotografia horas depois de se conhecerem em 1982, ao desembarcarem do avião em Londres. (Família Kidner)

Ela agarrou na câmara e tirou a primeira fotografia em Londres: Graham e Sandra, sorrindo juntos.

Depois, passou a câmara para Sandra e posou para a sua própria fotografia com Graham. Sem pensar, o visitante americano e a desconhecida britânica abraçaram-se e inclinaram-se, com as mãos a roçarem-se e as cabeças a tocarem-se.

“Eu ainda achava que ele gostava mais da Sandra do que de mim”, diz Vickie. “Mas na nossa fotografia (ele tirou a mesma fotografia com a Sandra e as mãos deles estão mais afastadas) e, claro, na nossa, as nossas mãos estão bem juntas, o que é bastante engraçado. Acho que era uma previsão do que estava para vir”.

Na altura, Vickie não deu importância ao facto. A foto era simplesmente para celebrar o início da sua aventura no Reino Unido.

“Era apenas para comemorar: chegámos a Londres e aqui estamos nós. E aqui está o nosso novo amigo. O nosso novo e único amigo em Londres”, recorda.

Graham despediu-se, prometendo voltar no fim de semana seguinte.

Um dia perfeito em Londres

A primeira semana de Vickie em Londres foi um batismo de fogo. Ela e Sandra trabalhavam como funcionárias de limpeza num hotel. Estavam igualmente desorientadas e empenhadas, entusiasmadas por experimentar algo novo, mas sem saber como fazer isso.

“Eu tinha uma licenciatura em gestão de empresas, bem como uma especialização em informática e outra em imobiliária. Raramente fazia a minha própria cama e fui para lá para ser empregada de limpeza. Por isso, estávamos muito nervosas por começar a trabalhar lá”, recorda Vickie.

Vickie também se lembra de um verdadeiro choque cultural. A maior parte do que sabia sobre o Reino Unido tinha aprendido com Graham durante o voo de sete horas sobre o Atlântico. Sentia-se visível, com o seu sotaque sulista americano, no meio de um mar de vozes britânicas.

“Naquela época, os americanos visitavam o país, é claro, mas não como fazem agora. Hoje, os britânicos e os americanos estão tão acostumados a conviver que são muito parecidos. Naquela época, era muito diferente”, diz Vickie.

“Fomos realmente examinadas minuciosamente quando chegámos. Mas eu mal podia esperar que ele voltasse”.

De volta a casa, em Lancashire, Graham ligou a um amigo da universidade que vivia em Londres, o Jim, e passou-lhe os dados de Vickie e Sandra, sugerindo que as procurasse.

“Ele combinou encontrar-se com elas e levou-as para tomar uma bebida. E eu comprei imediatamente o meu bilhete de comboio para voltar no fim de semana seguinte”, diz Graham. “Esse era o plano. E não havia dúvida de que eu o iria cumprir”.

No sábado seguinte, como prometido, Graham voltou a Londres e ele e Jim levaram Vickie e Sandra para um dia de passeios turísticos pela cidade.

Era um dia glorioso e ensolarado e o grupo entrava e saía de museus e pubs, posando para fotos em frente a pontos turísticos de Londres. Vickie e Sandra saborearam o seu primeiro prato de peixe com batatas fritas, subiram às estátuas de leões na Trafalgar Square, espreitaram o número 10 da Downing Street e maravilharam-se com a imponente grandiosidade da Catedral de São Paulo.

“Estávamos todos a correr de um lado para o outro. Divertimo-nos imenso. Dávamo-nos todos muito bem, brincávamos e ríamos”, recorda Vickie.

“A nossa amizade com estes rapazes é tão fácil, como se os conhecêssemos há anos”, escreveu Vickie no seu diário naquele dia.

“Quando pensamos nisso, é incrível como tudo teve de se alinhar para que nos conhecêssemos. Uma pequena mudança nos planos e nunca nos teríamos encontrado”, reconhece Graham Kidner.

Vickie ainda suspeitava que Sandra tinha uma queda por Graham. Estava feliz por eles e entendia por que Sandra gostava dele.

“A sua preocupação connosco e sua personalidade calorosa eram cativantes, e nós víamo-lo como alguém especial, porque ele apresentou-nos este país antes mesmo de chegarmos. Já para não falar dos seus cabelos ruivos encaracolados e olhos verdes sorridentes”.

À tarde, o grupo dirigiu-se à Portobello Road, onde se encontra um dos mercados de rua mais famosos do mundo, com uma mistura de antiguidades, bancas de frutas e legumes e tudo o que se possa imaginar.

Ao descerem a escada rolante para sair da estação de metro de Londres, Vickie e Graham viram-se lado a lado. Sandra e Jim estavam mais abaixo, no meio da multidão de turistas e locais.

Do nada, uma mulher parada no degrau à frente de Vickie e Graham virou-se para os observar. No início, não deram conta dela, pois estavam ocupados um com o outro. Então, ela disse: “Vocês dois são escorpiões”. Era mais uma afirmação do que uma pergunta.

“Sim, senhora, eu sou”, disse Vickie, surpreendida. Ela não sabia a data de nascimento de Graham, muito menos o seu signo, mas virou-se para olhar para ele com expectativa.

Graham disse que sim. Ele também era escorpião.

A desconhecida sorriu, como se isso confirmasse tudo o que ela já sabia.

“Vocês vão viver um grande amor e vão ficar sempre juntos”, disse a mulher, antes de se virar para sair da escada rolante.

“Graham e eu olhámos um para o outro, completamente confusos, e quase tropeçámos na escada rolante”, escreveu Vickie no seu diário.

“Achámos aquilo muito engraçado”, recorda Vickie agora. “Rimos e mal podíamos esperar para contar a Sandra e Jim sobre isso. Achamos aquilo muito engraçado”.

Mas ouvir as palavras da estranha mudou algo em Vickie e Graham.

“No final daquela noite, estávamos de mãos dadas”, conta Vickie atualmente. “Isso foi a 6 de março. Ficámos noivos a 4 de julho e casámos a 28 de dezembro”.

Ponto de viragem

Graham e Vickie aproximaram-se rapidamente, depois de passarem o dia juntos a visitar Londres. (Família Kidner)

A interação com a mulher na escada rolante pareceu engraçada no início. Mas, olhando para trás, Graham diz que acha que foi um ponto de viragem.

“Foi nesse momento”, reconhece.

“O dia já foi quase perfeito e agora Graham e eu estamos a olhar um para o outro com novos olhos”, escreveu Vickie no diário.

Naquela noite, o grupo desfrutou de uma bebida no The Bloomsbury Tavern. Quando estavam a sair, Graham estendeu a mão para segurar a de Vickie.

“Ele simplesmente estendeu a mão e segurou a minha, e eu aceitei, o que seria incomum para mim. Era para ser assim. Quero dizer, foi - é - muito estranho, mas era definitivamente para ser assim”, diz Vickie 40 anos depois.

A química e a conexão entre Vickie e Graham pareciam tão naturais que Sandra, que, como Vickie suspeitava, gostava bastante de Graham, ficou imediatamente feliz por eles.

“Ela ficou emocionada quando ficámos juntos. Disse que parecia apropriado”, recorda Vickie.

A partir daquela noite, Vickie e Graham tornaram-se um casal. Graham viajava de Lancashire para Londres sempre que possível. E apenas três semanas depois de se terem conhecido no avião, Vickie viajou para o Norte de Inglaterra com Graham, para conhecer os pais dele.

Os pais de Graham estavam preocupados com o filho a viajar sozinho pelos Estados Unidos. A mãe dele tinha um medo particular de seitas americanas. Mas, em todas as situações hipotéticas com as quais ela se preocupava, nunca havia considerado que ele pudesse conhecer uma rapariga americana num avião e apaixonar-se instantaneamente. Ela não sabia o que pensar.

“Acho que realmente os chocámos por estarmos a namorar e por levarmos o relacionamento a sério imediatamente”, considera Vickie.

Vickie e Graham esforçaram-se para aproveitar ao máximo o tempo que passaram juntos no Reino Unido. Sabiam que havia um prazo. Vickie teria de voltar para os Estados Unidos daí a alguns meses e essa consciência acelerou o relacionamento deles.

“Não queríamos separar-nos depois de nos conhecermos. Então, sabíamos que teríamos de fazer planos permanentes”, explica Graham.

“Sabíamos que o meu tempo estava a chegar ao fim rapidamente. Por isso, tivemos que agir rapidamente», acrescenta Vickie. “O que faríamos para nos vermos, para ficarmos juntos? E lembro-me de termos dito que teríamos de nos casar, o que era estranho, porque tínhamos acabado de nos formar na universidade. Casar era a última coisa que passava pela minha cabeça”.

O casal conversava sobre o futuro enquanto se sentava no arborizado Bloomsbury Square Garden, um espaço verde tranquilo perto do hotel onde Vickie morava e trabalhava.

“Sentávamo-nos lá fora e tudo era tão tranquilo. Era como se o mundo estivesse perfeito. Era tudo o que precisávamos fazer, apenas sentarmo-nos juntos e o mundo parecia bom”, lembra Vickie.

Vickie também teve longas conversas com Sandra sobre o que fazer. Casar tão rapidamente seria um erro? A amiga apoiou-a.

“Nunca conheci duas pessoas que parecessem tão certas uma para a outra como vocês, especialmente tão rapidamente”, lembra-se Vickie de Sandra lhe ter dito.

Enquanto estava em Londres, Vickie manteve contacto com os pais através de cartas enviadas para o Tennessee. Nunca ligou. As chamadas transatlânticas de longa distância eram caras em 1982. Em vez disso, escreveu sobre Graham em longas cartas para casa, explicando que a relação era séria e sugerindo que o casamento poderia estar nos planos.

“A minha mãe disse que, independentemente da minha decisão, sabia que eu tomaria sempre boas decisões”, recorda Vickie.

Quanto aos pais de Graham, estavam preocupados que a carreira jurídica do filho pudesse ser prejudicada por um romance transatlântico. Mas viram o quanto ele se preocupava com Vickie e também apoiaram a decisão. Os amigos dele ficaram chocados, mas deram-lhes também o seu apoio.

“O Jim ficou espantado com a rapidez com que tudo estava a acontecer, mas feliz por nós”, recorda Graham. “Os meus outros amigos ficaram todos surpreendidos, mas assim que conheceram a Vickie, compreenderam porque é que me tinha apaixonado por ela”.

Um pedido de casamento

Vickie e Graham casaram-se nos EUA em dezembro de 1982. (Família Kidner)

A 4 de julho de 1982, Graham pediu Vickie em casamento. Apesar de todas as conversas que antecederam o pedido, Vickie ainda ficou surpresa. Eles tinham falado tanto sobre casamento que ela achava que não seria necessário um pedido oficial. Era algo implícito, não é verdade?

“Tomámos a decisão de casar antes do noivado oficial, mas eu queria ser tradicional e pedi-la em casamento de joelhos”, lembra Graham.

O dia 4 de julho, sendo um feriado nacional nos Estados Unidos, parecia uma data apropriada.

“Ele veio até o quarto e disse: ‘tu sabes que, se vamos fazer isto, temos que fazer como deve ser’. Então, ajoelhou-se e pediu-me em casamento. E deu-me o anel que tinha comprado, o que foi muito gentil”, recorda Vickie.

Vickie teve de voltar para os Estados Unidos em setembro. Seguiu-se uma despedida emocionante no aeroporto Heathrow, em Londres.

“A decolagem do avião trouxe novas lágrimas”, escreveu Vickie no seu diário. “Era mais do que deixar alguém que eu amava por alguns meses; era o fim de um capítulo da minha vida. Um capítulo inesperado. Um capítulo em que eu arrisquei, deu certo e aprendi e cresci muito”.

Em dezembro de 1982, Vickie e Graham reuniram-se nos Estados Unidos, para o dia do casamento. Graham lembra-se da semana surreal e emocionante em que conheceu toda a família de Vickie poucos dias antes do casamento. A família de Vickie também conheceu os pais de Graham naquela semana. Foi uma semana agitada, mas feliz.

“Todos o adoraram assim que o conheceram e também gostaram muito da família dele”, conta Vickie.

O casamento foi realizado em Bristol, Virgínia. Vickie adotou o sobrenome de Graham, tornando-se Vickie Kidner. Depois disso, o casal voltou para o Reino Unido, onde morou durante os dois anos seguintes, enquanto Graham concluía a faculdade de Direito.

Depois disso, Vickie e Graham mudaram-se para os Estados Unidos. Estavam divididos entre a vida no Reino Unido e a vida nos Estados Unidos. Mas, no final, os Estados Unidos venceram.

“Eu não queria deixar a minha família, não estava habituada a isso. Lembrem-se que foi a primeira vez que saí do país, ou do Sul”, justifica Vickie.

“Como eu já tinha ido aos Estados Unidos sozinho, acho que estava um pouco mais aventureiro, no sentido de estar disposto a correr um pouco mais de risco, viajar e fazer algo diferente”, reconhece Graham.

Vickie e Graham tiveram dois filhos e criaram-nos nos Estados Unidos, incorporando muitas tradições britânicas.

Nesta imagem, estão Vickie e Graham com os seus dois filhos, numa viagem em família a Londres, na década de 1990. (Família Kidner)

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Quando os filhos estavam a crescer, Vickie e Graham também os levavam regularmente à Inglaterra, para visitar a família.

Hoje, Vickie e Graham ainda gostam de voltar ao Reino Unido. Especialmente a Londres. É sempre especial para eles regressarem aos locais onde se enamoraram. O hotel onde Vickie trabalhava é agora um prédio de apartamentos. Mas, numa viagem recente, em 2022, o gerente do prédio deixou Vickie e Graham, nostálgicos, entrarem no átrio para dar uma espreitadela.

“Não se parece em nada com o que era quando estávamos lá. Mas temos muitas lembranças felizes desse lugar”, reconhece Vickie.

Depois, o casal sentou-se na Bloomsbury Square, o local verdejante onde conversaram pela primeira vez sobre casamento. Foi especial e surreal ver o quanto eles evoluíram em quatro décadas.

Ainda são amigos de Sandra e Jim e gostaram de rever Jim durante a recente viagem ao Reino Unido.

Quatro décadas depois

Eles conheceram-se num avião há 40 anos. (Clique na imagem para ver a galeria de fotografias)

Vickie e Graham celebraram recentemente o seu 40.º aniversário de casamento. Para comemorar a ocasião, a vizinha deles Amanda Caldwell, que é fotógrafa, tirou uma fotografia de Vickie e Graham. Ela pediu ao casal para recriar a fotografia que tiraram no dia em que se conheceram, no primeiro dia de Vickie em Londres, de braços dados e sorridentes.

“Conhecemo-nos quando tínhamos 22 anos. Ambos tínhamos acabado de fazer 23 anos quando nos casámos. E agora temos 63”, contabiliza Vickie.

“É difícil de acreditar”, reconhece Graham.

“O tempo passa muito rápido”, acrescenta Vickie.

Aquela primeira chávena de chá juntos, em 1982, transformou-se em muitas outras chávenas de chá partilhadas. Vickie e Graham dizem que sempre gostaram de “não fazer nada” juntos, saboreando os pequenos momentos, bem como as grandes aventuras.

“É preciso gostar de não fazer nada juntos, assim como gostar de fazer coisas juntos”, diz Vickie. “Casamos com um amigo. Trata-se de encontrar alguém de quem possamos ser amigos, porque as amizades mantêm-se”.

“E também é aceitar o bom e o mau”, acrescenta. “Os nossos interesses mudam ao longo dos anos, até certo ponto. Criar filhos juntos nem sempre é fácil. Mas é por isso que casamos com um amigo, alguém com quem gostamos de estar”.

Atualmente, quando viajam juntos de avião, Graham costuma colocar os auscultadores antes da descolagem, fica absorto num livro e não fala com ninguém.

“Ele tornou-se muito, muito britânico”, brinca Vickie, que diz que acaba sempre a conversar com o vizinho do lado”.

Ainda assim, viajar juntos leva-os sempre os leva a refletir sobre como se conheceram e a coincidência de ambos terem reservado o mesmo voo, ambos terem reservado lugares em lista de espera e, contra todas as probabilidades, ambos terem embarcado naquele voo da World Airways para Londres.

“Quando pensamos nisso, é incrível como tudo teve que se alinhar para que nos conhecêssemos”, diz Graham. “Uma pequena mudança nos planos e nunca nos teríamos conhecido. Estava destinado a ser assim”.

“Foi incrível como nos conhecemos e como as coisas aconteceram”, diz Vickie. “E o facto de ainda estarmos juntos também é incrível, pois não nos conhecíamos realmente. Conhecíamos e não conhecíamos. E, no entanto, ainda estamos aqui”.

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