Sabe qual é o lugar mais seguro num avião? (Não é esse em que está a pensar)

CNN , Doug Drury
11 fev 2023, 13:00
O interior de um avião. Créditos: Dmitriy/Adobe Stock

Nota do Editor | Doug Drury é professor e diretor de aviação na Central Queensland University. As opiniões expressas neste artigo são exclusivamente suas. A CNN está a divulgar o trabalho da The Conversation, uma colaboração entre jornalistas e académicos sobre notícias relevantes. O conteúdo é produzido exclusivamente pela The Conversation

Quando reserva um voo, costuma pensar no lugar que poderá protegê-lo mais numa emergência? Provavelmente não.

A maioria das pessoas reserva os lugares a pensar no conforto, como o espaço para as pernas, ou por conveniência, como o fácil acesso à casa de banho. Passageiros frequentes podem reservar o seu lugar na parte da frente do avião, para que possam desembarcar mais rapidamente.

Raramente reservamos um voo na esperança de conseguirmos um dos lugares centrais na última fila. Pois bem, adivinhe? Estes lugares são, estatisticamente, os mais seguros num avião.

Viajar de avião é seguro

Antes de começarmos, é preciso reforçar que o avião é o meio de transporte mais seguro. Em 2019, quase 70 milhões de voos descolaram em todo o mundo, com apenas 287 mortes.

De acordo com a análise de dados do Conselho Nacional de Segurança dos Estados Unidos [National Safety Council], a possibilidade de morrer num acidente de avião é cerca de 1 em 205.552 mil, em comparação com 1 em 102 num acidente de automóvel. Ainda assim, damos pouca atenção aos acidentes rodoviários fatais, mas quando ouvimos falar da queda de um ATR72 no Nepal, não se fala de outra coisa em todas as notícias.

O nosso interesse por acidentes de avião pode estar em querer perceber a razão pela qual acontecem ou quais as hipóteses de voltarem a acontecer. Talvez não seja uma coisa má; a nossa preocupação assegura que estes trágicos incidentes sejam minuciosamente investigados, o que ajuda a manter as viagens aéreas seguras.

Na verdade, não há nenhuma necessidade de se preocupar com a segurança quando embarca num voo comercial. Mas se ainda tiver dúvidas a pairar na sua cabeça, motivadas por pura curiosidade, continue a ler.

Vale a pena recordar que os acidentes, pela sua própria natureza, não obedecem a padrões. No acidente do voo 232 da United, em 1989, no Iowa, Estados Unidos, 184 das 269 pessoas a bordo sobreviveram. A maioria dos sobreviventes estava sentada atrás da primeira classe.

No entanto, uma investigação da TIME, que analisou 35 anos de dados de acidentes aéreos, descobriu que os lugares centrais na parte de trás do avião tiveram menor taxa de mortalidade: 28%, em comparação com os 44% dos lugares a meio do corredor.

Faz sentido. Sentar-se próximo de uma saída de emergência poderá permitir-lhe uma saída mais rápida, desde que não haja um incêndio daquele lado. Mas as asas de um avião armazenam combustível, o que faz com que as saídas de emergência a meio do avião não sejam a opção mais segura.

Por outro lado, caso esteja nas filas da frente, sentirá o impacto antes dos passageiros das filas traseiras, o que nos deixa apenas a saída de emergência na parte de trás. Quanto à razão dos lugares centrais serem mais seguros que à janela ou no corredor, deve-se ao amortecimento provocado pelas pessoas que tem ao seu lado.

As asas dos aviões comerciais armazenam combustível, o que pode tornar esta zona ligeiramente mais perigosa no caso (improvável) de uma emergência. Créditos: tonefotografia/Adobe Stock

Algumas emergências são mais graves que outras

O tipo de emergência também ditará a capacidade de sobrevivência. Ir na direção de uma montanha diminuirá exponencialmente as hipóteses de sobrevivência, como aconteceu no trágico acidente de 1979 na Nova Zelândia. O voo TE901 da Air New Zealand caiu nas encostas do Monte Erebus, na Antártida, causando a morte a 257 passageiros e tripulantes.

Uma amaragem no oceano também diminui a possibilidade de sobrevivência, como assistimos no voo 447 da Air France, em 2009, no qual 228 passageiros e tripulantes morreram.

Os pilotos são treinados para minimizar o mais possível o risco potencial numa emergência. Eles tentarão evitar atingir montanhas e procurarão um lugar plano, como um campo aberto, para aterrar o mais normalmente possível. A técnica de amaragem na água requer a avaliação das condições da superfície e a tentativa de amarar entre as ondas num ângulo de aterragem normal.

As aeronaves são concebidas para serem muito robustas em emergências. Na verdade, a principal razão pela qual a tripulação nos lembra de manter os cintos de segurança apertados não é o risco de queda, mas a turbulência, que pode ocorrer a qualquer momento em grandes altitudes. É esse fenómeno meteorológico que pode causar mais danos aos passageiros e aos aviões.

Os fabricantes estão a projetar novos aviões com mais materiais capazes de lidar com stresses durante o voo. Nesses projetos, as asas não são rígidas e têm mais flexibilidade para absorver cargas extremas e evitar falhas estruturais.

O tipo de avião faz diferença?

Existem algumas variáveis, como o impacto da velocidade no ar, que podem mudar ligeiramente em diferentes tipos de aviões. No entanto, a física do voo é mais ou menos igual em todos.

Geralmente, aviões maiores têm mais material estrutural e, por isso, mais resistência para suportar a pressurização em altitude. Isto significa que podem fornecer alguma proteção adicional numa emergência - mas isto, mais uma vez, depende muito da gravidade da emergência.

Isto não significa que deve reservar o seu próximo voo no maior avião que encontrar. Como foi já referido, as viagens aéreas continuam a ser muito seguras.

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