Levou a velha máquina fotográfica da mãe para as férias e recriou as fotos vintage de viagem dela. Eis como ficaram

CNN , Francesca Street
22 jun, 09:00
Hayley Champion/Rosie Lugg

Num dia normal, a fotógrafa britânica Rosie Lugg e a mãe, Hayley Champion, passam praticamente todos os momentos juntas. “A minha mãe é praticamente a minha melhor amiga”, admite Lugg à CNN Travel. “Tomamos o pequeno-almoço juntas. Vamos ao ginásio juntas. Fazemos caminhadas juntas. Conversamos sobre praticamente tudo e mais alguma coisa”. 

Por isso, quando Rosie, de 22 anos, começou a planear uma viagem de três meses pelo Sudeste Asiático - a sua primeira grande viagem com o namorado - partilhou imediatamente os planos com a mãe. Em resposta, Hayley começou a partilhar memórias da sua estadia na Tailândia e na Malásia, onde viveu durante algum tempo em meados da década de 1990. Disse à filha que tinha várias fotografias dessa altura, guardadas numa caixa algures.

Lugg incentivou a mãe a ir procurar essas mesmas fotografias: estava interessada tanto como fotógrafa, como pela ideia de espreitar os anos de juventude da mãe e a história de amor dos pais. Sabia que os pais se tinham conhecido nos anos 90 enquanto davam aulas de mergulho na Malásia, mas pouco mais sabia sobre esse tempo. “Então, a minha mãe mostrou-me todas as fotografias analógicas que tinha no sótão - caixas e mais caixas”, recorda Lugg.

Hayley Champion viajou pelo Sudeste Asiático na década de 1990. Trinta anos depois, a sua filha Rosie Lugg seguiu os seus passos e recriou algumas das fotografias de viagem da sua mãe. Champion não sabe ao certo onde esta fotografia foi tirada, mas a sua filha posou para uma foto semelhante em Ubud, Bali, Indonésia. (Fotografia: Cortesia Hayley Champion/Rosie Lugg @rambosphotos, com montagem CNN)

As fotografias tinham sido tiradas com uma Olympus mju, uma pequena máquina fotográfica de rolo prateada que foi lançada em 1991 e que Hayley levava consigo durante quase toda a década seguinte. Esta compacta de apontar-e-disparar teve um certo renascimento no eBay nos últimos anos graças ao seu aspeto esteticamente apelativo para o Instagram. Mas Lugg apaixonou-se pelas imagens tiradas com a Olympus da mãe não só pela forma como captavam a luz e pela vivacidade granulada. Mais do que tudo, adorou ver a mãe nos seus vinte e poucos anos, a sorrir para a câmara, a comer dumplings, a explorar mercados e a caminhar em praias de areia. Foi uma janela maravilhosa para a vida e as viagens da mãe, três décadas antes.

O que também surpreendeu ambas naquele dia no sótão foi a semelhança impressionante entre mãe e filha. Lugg e Hayley sabiam que eram parecidas, mas aquelas fotografias não deixavam dúvidas. “Dizem-me que pareço com ela agora, mas é quando vejo fotografias dela com a minha idade que isso se torna mesmo evidente”, diz Lugg. Em muitas das fotografias da mãe no Sudeste Asiático dos anos 90, “era como olhar para uma fotografia minha, o que é tão estranho”, comenta.

Enquanto folheava as fotografias, maravilhada com as semelhanças físicas (“até a forma como nos colocamos de pé...”), uma ideia começou a formar-se na mente de Lugg. Virou-se para a mãe: “Era mesmo fixe se eu pudesse recriar estas fotos”, atirou.

Essa ideia ficou ainda mais sólida quando Hayley descobriu que ainda tinha a velha Olympus mju, mesmo já estando “cheia de areia, a dar as últimas,” como diz, em tom de brincadeira, Lugg. Assim, Lugg meteu a máquina de 30 anos na mochila e embarcou no voo para a Tailândia.

A recriar o passado

Lugg chegou ao Sudeste Asiático armada com a máquina vintage, cópias digitais das fotos da mãe no telemóvel e nenhum plano para além de ver onde o projeto - e as viagens - a levariam. Começou a viagem na Indonésia, com a intenção de explorar Singapura, Malásia, Tailândia, Vietname e Filipinas.

Não tinha as localizações exatas das fotos dos anos 90 (“a minha mãe já não se lembra de muitos sítios, porque na altura não havia pins do Google Maps”, explica). Em vez de tentar encontrar os locais exatos das fotografias, Lugg decidiu procurar lugares que lhe lembrassem os das imagens da mãe.

Queria preocupar-se menos com os detalhes e mais com captar um momento semelhante no tempo.

Champion tirou esta fotografia na ilha tailandesa de Ko Phi Phi Don. Quando Lugg estava em Lombok, na Indonésia, avistou um litoral semelhante e posou para sua própria versão da fotografia. (Fotografia: Cortesia de Hayley Champion e Rosie Lugg @rambosphotos, com montagem CNN)

Por exemplo, uma das fotos dos anos 90 mostrava Hayley de costas, a caminhar numa praia vazia. Hayley acha que essa foto foi tirada na ilha tailandesa de Ko Phi Phi Don. Três décadas depois, Lugg estava sentada na Praia de Selong, em Lombok, na Indonésia, a olhar para o horizonte. Notou que a linha costeira tinha uma forma semelhante à da foto da mãe. Apesar de Ko Phi Phi Don estar a cerca de 2.600 quilómetros de Lombok, Lugg sentiu que havia uma semelhança estética que valia a pena captar. O céu estava igualmente azul. E também sentia a mesma leveza e felicidade que a fotografia original transmitia.

Lugg posicionou-se rapidamente na “posição certa” e passou a Olympus ao namorado (“ele é ótimo a fazer de tripé humano”, diz-nos, a rir-se). Depois começou a andar, de costas para a câmara, tal como a mãe nos anos 90. 

Como estava a usar rolo, Lugg não podia pensar demasiado nos resultados - cada rolo só tinha 36 fotografias. O namorado não podia tirar dezenas de versões. Tinha de carregar no botão e torcer para que ficasse bem.

“Cada foto, só fizemos uma tentativa”, diz Lugg, acrescentando que essa limitação também fazia parte da simplicidade do projeto de recriação: “Queria mesmo que fosse só aquela memória captada tal como é”.

A Olympus não oferecia ligação imediata como um smartphone - Lugg teve de esperar até revelar o rolo para ver os resultados. Sabia que podiam estar “desfocadas ou tremidas”, mas aceitar esse risco fazia parte da diversão. “Essa é a magia da fotografia analógica”, diz, frisando que “o facto de não poderes ver as fotos logo e teres de esperar para as revelar e ver como ficaram”.

Mais tarde, já nas Filipinas e no Vietname, Lugg revelou alguns rolos e teve o primeiro vislumbre das recriações. Ficou encantada com os resultados e enviou logo algumas fotos para a mãe no Reino Unido. “Foi muito divertido recebê-las enquanto ainda estávamos a viajar e poder enviá-las logo para casa, como se fossem postais”, diz.

A mãe adorou vê-las, admite Lugg. A semelhança familiar nunca tinha sido tão clara. Lado a lado, era muitas vezes difícil dizer se a foto era de Lugg ou da mãe, tirada em 1994 ou 2024. “Foi mesmo divertido recriá-las e ver o quão parecidas somos”, assegura a fotógrafa, que reconhece que recriar as fotografias também a ajudou nos momentos em que sentia saudades da mãe - dada a ligação entre as duas, “foi muito estranho estar longe dela tanto tempo”.

“Foi a vez que estive mais tempo longe dela, e ambas estávamos muito conscientes disso”, acrescenta. “Mas isto foi uma forma divertida de me sentir ainda mais ligada a ela. Recriar memórias dela fez-me sentir muito próxima”.

Nesta fotografia, Champion estava em Sipadan,  naMalásia, enquanto a sua filha estava em Paliton Beach, em Siquijor, nas Filipinas. Mãe e filha ficaram particularmente impressionadas com as semelhanças nestas duas imagens. (Fotografia: Cortesia de Hayley Champion e Rosie Lugg @rambosphotos, com montagem CNN)

A partilhar histórias

Quando regressou ao Reino Unido, Lugg passou longas noites a trocar histórias com a mãe e a comparar as respetivas fotografias. “Não são os mesmos sítios. Não são as mesmas experiências”, sublinha Lugg. “Mas são muito parecidas, e quando as vês, lado a lado, isso é uma sensação muito especial”.

Desde então, Lugg partilhou as fotografias nas redes sociais, onde publica os seus projetos fotográficos em @rambosphotos. Está também a considerar emoldurá-las lado a lado.

A certa altura da viagem, a velha Olympus da mãe acabou por avariar de vez. Lugg está contente por ter durado tanto, mas ainda não estava pronta para se despedir. Agora usa outra Olympus mju, comprada no eBay, e está entusiasmada com futuras aventuras e mais recriações fotográficas.

Entretanto, com 23 anos, está a aproveitar o regresso ao Reino Unido, a partilhar fotografias, histórias e memórias com a mãe. Sente-se mais próxima de Hayley do que nunca, mesmo depois de ter passado meses do outro lado do mundo.

“Diz-nos mais sobre quem eles são,” diz, referindo-se a ver fotos antigas dos pais e ouvir as suas histórias de viagem.

“Sinto que todas as pessoas acabam por ter este momento com os pais, em que percebem que eles já tinham uma vida antes de nós. E é uma sensação estranha. Quanto mais histórias contam, mais penso: ‘Uau, vocês fizeram mesmo muita coisa antes de eu existir’”.

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