Como esta cor desconcertante está a conquistar o verão (nem Kamala Harris resistiu)

CNN , Leah Dolan
25 ago, 18:00
Verde Brat

Um tom específico verde-amarelado tornou-se a cor do verão 2024. Semelhante ao tom que preenche o balão das mensagens de texto enviadas no iPhone, o tom vívido encontra-se algures entre 360 e 375 na tabela de cores Pantone. Trata-se, claro, do verde Brat.

Agora sinónimo do álbum de estúdio da estrela pop britânica Charli XCX, que está no topo dos álbuns mais ouvidos, a influência cultural do verde Brat não tem limites. Na semana passada, a conta da Autoridade de Transportes Metropolitanos da Cidade de Nova Iorque na rede social X alertou os passageiros para a realização de obras nos comboios com um aviso neste tom. O ator Kyke McLachlan, 65 anos, vencedor de um Globo de Ouro, publicou um “vídeo musical não oficial” de si próprio a fazer playback com uma faixa do álbum numa camisa verde fluorescente.

O verde Brat até já entrou no universo da vice-presidente norte-americana, Kamala Harris. Depois de o presidente Joe Biden ter anunciado a sua desistência a um segundo mandato na Casa Branca, Charli XCX recorreu à rede social X para apoiar a decisão, escrevendo “Kamala é Brat”. O que aconteceu depois foi uma sucessão de memes, bem como t-shirts com o nome de Kamala Harris impresso ao estilo da capa do álbum ‘Brat’. Ao ponto de a conta oficial da vice-presidente Kamala Harris na rede social X apresentar agora um ‘banner’ ao estilo ‘Brat’.

A conta de Kamala Harris na rede social X apresenta um 'banner' ao estilo Brat. CNN

Brat Girl Summer

Há mais de 40 mil vídeos no TikTok e 12 mil publicação no Instagram com a hashtag #Bratsummer. Desde o início de junho, o termo tem registado uma tendência crescente em todo o mundo. 

O termo “Brat girl summer” pode ser entendido como um grito de guerra – unindo todos os hedonistas, amantes da diversão e as chamadas “365 Party Girls”. No mês passado, Charli XCX descreveu à BBC o que é preciso para ser uma ‘Brat Girl Summer’, mencionando “um maço de cigarros, um isqueiro Bic e uma blusa branca de alças sem sutiã”. Alguns consideram que o facto de Kamala Harris se ter tornado a primeira mulher negra e a primeira mulher asiático-americana a liderar um grande partido faz dela uma mulher Brat, uma vez que está a quebrar barreiras, além de ser feminina e interseccional. Na sua essência, abraçar a cultura Brat implica uma autoaceitação confusa e imperfeita - e agora é a forma mais fácil de atrair a faixa etária com menos de 30 anos.

Da esquerda para a direita, Troye Sivan e Charli XCX de costas para uma parede de LED verde Brat durante uma atuação na OVO Arena Wembley, a 27 de junho de 2024, em Londres (Katja Ogrin/Redferns/Getty Images)

Como resultado, as últimas semanas foram inundadas pelo tom verde sombrio e célere. “Antigamente, as marcas escolhiam uma cor, mas só após vários anos é que alguém associava essa cor à sua marca”, afirma Sunita Yeomans, líder do curso de Branding e Identidade Gráfica do London College of Communication. Sunita Yeomans acredita que Charli XCX conseguiu acelerar o processo de uma forma “espetacular”. Recentemente, Sunita Yeomas reparou que uma colega estava vestido com o tom verde ‘Brat’ durante uma reunião da administração de uma galeria de arte. “Pensei: ‘Meu Deus, ela nem se apercebe de que está a usar esta cor’. Isto fez-me pensar na forma como as pessoas nem sequer se apercebem que estão a apoiar determinada coisa.”

Este não é o primeiro verão a ser influenciado pela cultura pop; é o segundo consecutivo. No ano passado, os espectadores de todo o mundo surgiram com looks cor-de-rosa para ver o filme “Barbie”, de Greta Gerwig, e a cor também chegou às passadeiras vermelhas e aos videoclipes de música, incluindo o cenário rosa da casa dos sonhos de Ice Spice em “Princesa Diana”. As pesquisas no Pinterest por “Barbie rosa” nos EUA e no Reino Unido aumentaram 100% em 2023, em comparação com 2024, e o motor de busca de moda Lyst nomeou o rosa como a tendência do ano em 2022, graças a um aumento de 416% nas pesquisas por roupa rosa choque.

À esquerda: "Pink PP" foi criado pela Pantone para o desfile outono-inverno 2023 de Valentino, em março de 2022 (Pascal Le Segretain/Getty Images). À direita: Pierpaolo Piccioli queria que os espectadores acabassem por ficar cegos e se concentrassem na silhueta e na textura das roupas (Pascal Le Segretain/Getty Images Europa/Getty Images)
Para a noite de estreia do filme "Barbie", de Greta Gerwig, espectadores de todo o mundo vestiram-se com o distinto tom rosa choque. Aqui, na cidade de Nova Iorque, a 21 de julho de 2023, as fãs chegaram ao teatro com vestidos rosa a condizer (Stephanie Keith / Getty Images)

Mas qual é o processo por detrás da criação de uma cor que define uma época? “A cor é uma linguagem”, afirma Laurie Pressman, vice-presidente da Pantone. “Nós gravitamos em torno da cor, e a nossa relação com a cor acontece muitas vezes fora da nossa consciência.”

A Pantone foi parcialmente responsável pelo domínio mundial do cor-de-rosa Barbie meses antes da estreia do filme. Para o desfile outono-inverno de Valentino, em março de 2022, Laurie Pressman e a sua equipa colaboraram com Pier Paolo Piccioli, o diretor criativo da marca na altura, para o tom “Pink PP” (comumente conhecido como “rosa Valentino”) – a única cor utilizada na coleção. Tornou-se a cor do dia: Florence Pugh fez manchetes com um número Valentino Pink de tule transparente para o desfile da marca de alta costura nesse mês de julho. No início do ano, não uma, mas três celebridades chegaram à Met Gala vestidas nessa mesma cor.

“[Piccioli] queria que esta [cor] fosse uma referência cultural”, indicou Laurie Pressman à CNN, acrescentando que se trata “de ser ousado” e “destacar-se”. E, como ‘tom irmão’ do vermelho, alargou o legado da marca com a cor Rosso Valentino.

Embora a Pantone tenha sido também a responsável pelo sucesso do 219C – mais conhecido como rosa Barbie – na década de 1990, Laurie Pressman insiste que a sobreposição fortuita do rosa Valentino com a máquina de marketing “Barbie” foi “uma completa coincidência”. Além disso, observou, os dois tons são diferentes, sendo o rosa Barbie “um pouco mais néon”.

Construir a ‘Bratosfera’

Enquanto o rosa Barbie tem uma longa e célebre história, o verde ‘Brat’ é completamente novo. Foi criado pelo estúdio de design Special Offer Inc., que passou meses a discutir o tom, acabando por selecionar o verde ‘Brat’ entre cerca de 500 opções, segundo o fundador Brent David Freaney.

“Charli XCX sabia exatamente o que queria, provavelmente muito antes de se juntar a nós”, sublinhou Freaney à CNN. “Passámos meses a falar apenas sobre cores e referências de cores. ‘O que significa este tom de verde versus este tom de verde? Qual é a conotação?’” Nos seus passeios pela cidade de Nova Iorque, Freaney parava para tirar fotografias de qualquer objeto verde que pudesse ser incluído na ‘bratosfera’ – um termo cunhado pela própria Charli XCX. “Eu transferia [as fotos] para o meu computador e usava a ferramenta conta-gotas [do Photoshop] para tornar a cor verde e apresentá-la. Do género, ‘Vi um cone de trânsito lá fora. O que pensamos sobre isso?’”

Os fãs estão a documentar nas redes sociais o tom verdejante da natureza (Fotografias de @acidentalmentebrat/Instagram)

Para Sunita Yeomans, a ciência de uma cor que marca o verão resume-se sobretudo ao sucesso da mesma na internet e na vida real. “Se olharmos para o verde Brat num ecrã, ele vibra”, diz. “O rosa Barbie faz a mesma coisa. Trata-se de encontrar uma cor que funcione tanto quando está em contraluz num ecrã como na vida real.”

Brent David Freaney explica que não queriam um tom que parecesse convencional. “Sabíamos que não queríamos um verde mais escuro ou um verde menta”, disse à CNN. “Pensámos: ‘Vamos escolher algo que pareça realmente desanimador’.

Devido à especificidade da cor, identificá-la na natureza tornou-se uma forma infalível de se tornar viral e ampliar a bratosfera. Stephanie, uma fã de Charli XCX que vive em Nova Iorque, criou a conta de Instagram @accidentallybrat em junho, logo após o lançamento do álbum, e agora recebe fotografias em tons verde Brat de amigos e outros fãs. As suas publicações incluem fotografias de um conjunto de bicicletas Lime, um cartaz de venda de uma propriedade e uma pedra piromorfite num museu de ciência.

“É tão divertido. Cada vez que estou com um amigo a andar na rua, gritamos ‘Brat!’ quando vemos alguma coisa verde. É tão icónico e chamativo– se vir alguma coisa online com esta cor, saberá imediatamente a que se refere.”

Um futuro colorido

Embora a Pantone tenha criado há décadas, e de forma discreta, tons específicos para músicos - Laurie Pressman é responsável por tudo, desde o vermelho dos Rolling Stones ao roxo de Prince, embora caiba às marcas decidir se querem entrar no processo de marca registada - a dirigente da Pantone acha que tanto os artistas como o público prestam cada vez mais atenção à cor.

Ice Spice tornou-se conhecida pelo seu cabelo laranja ardente, cor combinada aqui com um vestido vintage Versace nos 2024 BET Awards, a 30 de junho de 2024, em Los Angeles (Bennett Raglin/Getty)

O tom específico de lavanda que Olivia Rodrigo usou em várias passadeiras vermelhas, incluindo a Met Gala de 2022, é o mesmo tom do seu último álbum “Guts” e a cor da maioria dos seus produtos de merchandising. Também  o laranja ardente se tornou a imagem de Ice Spice - que muitas vezes combina os seus looks com a cor. “Alguns destes artistas muito jovens estão realmente a procurar uma forma de se expressar e recorrem às cores como mais uma forma de transmitir a sua mensagem. Que é algo que eu acho muito inteligente”,  admite Laurie Pressman.

O verde Brat pode ter conquistado este verão, mas a roda das cores vai voltar a girar em breve. “É assim que funciona a indústria do design”, disse Sunita Yeomans, que acredita que mais marcas vão lutar para marcar o verão de 2025. “Todos tentam acompanhar uma tendência, mas são poucos aqueles que conseguem realmente ter sucesso.”

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